segunda-feira, 26 de maio de 2014

MDT esteve representado no Fórum Urbano Mundial, realizado da Colômbia no início do mês de abril

O coordenador nacional do MDT, Nazareno Affonso, e outros membros do Secretariado participaram no período de 5 a 13 de abril de 2014 em Medellin, Colômbia, de atividades do Fórum Urbano Mundial.
 
Criado em 2002 para analisar as questões mais urgentes na área dos assentamentos humanos, incluindo a rápida urbanização e seu impacto nas cidades, comunidades, economias, mudanças climáticas e políticas, o Fórum Urbano Mundial é a principal conferência das ONU sobre as cidades e o desenvolvimento urbano sustentável.
 
AGENDA E ATIVIDADES
 
Ao analisar sua participação no Fórum Urbano Mundial, o coordenador do MDT destacou o tema da qualificação dos espaços público. Nazareno disse ter aprendido no encontro que é preciso haver a incorporação do tema do combate à violência urbana, com a introdução, nos investimentos públicos, da qualificação dos espaços públicos, como praças, vias e calçadas qualificadas, transportes públicos de qualidade, e, também nas intervenções nos bairros populares e no entorno dos projetos estruturantes de transportes públicos.
 
“Esses projetos devem ser elaborados com participação direta da população, desde a concepção básica, e devem ser implantados com utilização da mão de obra da população da comunidade atingida; mais tarde a gestão dos equipamentos também feita pela população residente. Essa forma de elaboração e implantação de projetos faz com que o poder público traga a população para defender e sentir parte desses novos espaços públicos resultantes”, disse. Veja a seguir, a agenda de atividades do coordenador do MDT.
 
7 de abril. Visita técnica ao sistema integrado de transporte público e aos programas integrado as urbanizações contíguas a esse sistema, organizado pela Companhia do Metrô de Medellín. A visita utilizou inicialmente a Linha 1 do Corredor Exclusivo de Ônibus (BRT), houve integração com a Linha A de Metrô e depois a transferência para as linhas K e L de teleférico ou 'cable' (a Linha L permite acesso a um parque ecológico). Durante a visita, foi possível conhecer a estrutura de operação e de cuidados com os usuários e também foi possível observar a urbanização dos bairros, incluindo a qualificação de calçadas, implantação de praças, escolas, equipamentos públicos e de bibliotecas. Houve entrevista com pessoal das áreas social da Companhia do Metrô para conhecer a relação com os movimentos sociais, e entrevista com representantes a área de consultoria internacional sobre a implantação de projetos sociais integrados
 
8 de abril. Participação na mesa-redonda da Sociedade Civil Organizada, e na mesa Minha casa, nossa Cidade: Nova Orientação para habitação de massa no Brasil organizada pelo Ministério das Cidades.
 
9 de abril. Participação em evento organizado pela Prefeitura de São Paulo para Prefeitos e Secretários de transportes da America Latina, intitulado Cooperação entre cidades Latino-Americanas- Financiamento do Transporte Público: Desafios e Oportunidades. Participação em uma atividade pública na praça do Museu Botero, com os membros da DAC-Oficina de Atenção ao Cidadão da Polícia Nacional-Unidade Transporte de Massa Metrô, ocasião em que essa organização demonstrou sua política de atendimento aos usuários do transporte público.
 
10 de abril. Participação na mesa intitulada Modelos Internacionais de Tarifa de Transporte Público, organizado pela Frente Nacional de Prefeitos. Participação no debate e lançamento do livro Mobilidade Urbana e Pobreza: Aprendizado de Medellín e Soacha na Colômbia.
 
11 de abril. Nazareno e Juarez Bispo Mateus, membro do Conselho Nacional das Cidades e integrante do Secretado do MDT, representando a CNTT-CUT, participaram juntos de visita técnica a linhas do sistema de transporte de Medellín. A visita a incluiu a Linha J do teleférico ('cable') a partir das linhas A e B do Metrô e integração com micro-ônibus do Metrô. Foi feita também visita à escada rolante pública instalada em um bairro; nessa ocasião, houve oportunidade de diálogo com os técnicos que implantaram o projeto, os quais descreveram o processo de interlocução com a sociedade civil organizada e com a população local da comunidade. Utilizando a escada rolante e, depois, no trajeto de volta até o micro-ônibus, foi possível ver a perfeita integração dos projetos urbanos (campos de esportes, escolas, praças) com as habitações bem como a qualidade urbana do entorno. Ainda em 11 de abril, o coordenador do MDT participou da solenidade de encerramento do VII Fórum Urbano Mundial e visitou o Parque da Empresa de Desenvolvimento Urbano para conhecer os grandes projetos de urbanismo da cidade de Medelín.
 
QUESTÃO TARIFÁRIA
 
O vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e prefeito de São Paulo Fernando Haddad, debateu no dia 9 de abril de 2014, no contexto do Fórum Urbano Mundial, a busca do financiamento das tarifas do transporte público, sustentando que os recursos de uma majoração no imposto sobre a gasolina poderiam compor um fundo para o subsídio do transporte coletivo. “O transporte individual é uma espécie de privatização do espaço público e deveria pagar por isso”.
 
Citando estudo da Fundação Getúlio Vargas, o prefeito paulistano defendeu o modelo de subsídio cruzado. “O impacto seria deflacionário, porque o custo da gasolina pesa menos no índice inflacionário do que o de transporte. Há um impacto distributivo, uma vez que quem usa ônibus tem menos renda; há um impacto do ponto de vista ambiental, uma vez que o transporte individual é mais poluente do que o coletivo; promoção da produção de combustíveis menos poluentes como o etanol, que seria favorecido pelo aumento do preço da gasolina e, finalmente, uma maior mobilidade urbana, com a inibição do uso do carro e o desestímulo ao automóvel haveria uma maior fluência dos veículos coletivos”.
 
Segundo Haddad, houve nesse debate do Fórum Mundial convergência dos dirigentes municipais para a necessidade de se encontrar uma nova forma de financiamento do transporte público e a convicção de que o subsídio cruzado com o consumo da gasolina, se não for o modelo ideal, é o que mais se aproxima da realidade das cidades latino-americanas.
 
No dia 10 de abril, Frente Nacional de Prefeitos (FNP) realizou no âmbito do Fórum Urbano Mundial um debate, focalizando diferentes modelos de financiamento do transporte público em todo o mundo. Os resultados desse debate serão apresentados em 19 de maio de 2014, no Novotel Jaraguá, em São Paulo, no primeiro dia dos trabalhos da 65ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) – encontro do qual o MDT participará.
 
Informativo MDT

terça-feira, 20 de maio de 2014

O MDT acompanhou a 65ª Reunião da Frente Nacional dos Prefeitos

Foto: Os modelos internacionais para o custeio do transporte público urbano foram amplamente debatidos na manhã desta segunda (19), durante a Plenária de Prefeitos da 65ª Reunião Geral. Sob a coordenação do presidente da Frente Nacional de Prefeitos e prefeito de Porto Alegre (RS), José Fortunati, os convidados apresentaram modelos e propostas praticadas em municípios como Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG). 

Mais em http://goo.gl/LqrYg4 
 
Os modelos internacionais para o custeio do transporte público urbano foram amplamente debatidos na manhã desta segunda (19), durante a Plenária de Prefeitos da 65ª Reunião Geral. Sob a coordenação do presidente da Frente Nacional de Prefeitos e prefeito de Porto Alegre (RS), José Fortunati, os convidados apresentaram modelos e propostas praticadas em municípios como Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG).

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QUARTO EIXO do MDT: Prioridade do transporte público no trânsito


O objetivo é garantir maior velocidade e conforto para os usuários do transporte público e menores custos operacionais, retirando os ônibus e veículos leves sobre trilhos dos congestionamentos dos carros e integrá-los ao conjunto dos modos de transporte, com os sistemas cicloviários e com as calçadas acessíveis, melhorando a qualidade da mobilidade e reduzindo as tarifas. Esse eixo conseguiu algum avanço através dos recursos provenientes do PAC da Copa, PAC da Mobilidade e o PAC da Pavimentação e PAC Cidades Médias. Os corredores segregados de ônibus e VLTs são ações estruturais para atender esse eixo, mas necessitam um numero bem maior de investimentos nas demais cidades do país para o sistema de ônibus. 

domingo, 18 de maio de 2014

Colômbia e França subsidiam tarifa do transporte público


    Colômbia e França subsidiam tarifa do transporte público
    Durante as atividades do 7º Fórum Urbano Mundial (FUM), realizado em Medellín, de 5 a 11 de abril, a FNP promoveu o debate sobre os Modelos Internacionais de Tarifas de Transporte Público. O objetivo foi compartilhar experiências e promover uma reflexão a partir das alternativas de excelência já existentes em diferentes países. As conclusões desse debate serão apresentadas durante a 65ª Reunião Geral da FNP em São Paulo (SP), no dia 19 de maio.
    O prefeito de Canoas (RS) e vicepresidente para Assuntos da Educação da FNP, Jairo Jorge, coordenou o debate, no qual especialistas apresentaram os modelos adotados em seus países com destaque para as parcerias existentes para o subsídio das tarifas de transportes públicos: contribuições privadas, contribuições públicas e outros. Outro ponto abordado foram os resultados positivos registrados após melhorias dos serviços de transporte público, como a diminuição da quantidade de veículos nas ruas.
    Modelo Brasileiro - Segundo o técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Renato Balbim, no Brasil, são raros os casos de investimentos do Estado para diminuir o custo da tarifa. “Ademais, as tarifas têm aumentado muito nos últimos 12 anos, sobretudo em relação ao custo do veículo particular.”
    Modelo Colombiano - Por outro lado, desde 2003, o governo colombiano tem investido em infraestrutura para o transporte de massa. “Hoje são mais de 198 quilômetros de corredor de ônibus, transportando diariamente mais de 2,5 milhões de passageiros”, afirma o diretor de Pesquisa e Prática do EMBARQ, Darío Hidalgo.
    Segundo o diretor, essas políticas públicas têm resultados socioeconômicos muito positivos, principalmente em relação à redução dos custos operacionais, do tempo de viagem, de emissões de gases poluentes e de mortos e feridos em acidentes de trânsito.
    Os recursos que possibilitam o governo colombiano realizar esses investimentos e, consequentemente a redução das tarifas, advêm da taxação do combustível. Na Colômbia, a gasolina tem uma sobretaxa de 25%. Esses recursos são repassados para os municípios e o Departamento Nacional de Planejamento.
    Modelo Francês - Já na França, são muitos os subsídios para o transporte público. Isso faz com que o usuário page entre 25 e 40% da tarifa. O governo central francês financia uma pequena parcela e, em geral, projetos muito específicos. Já os governos locais investem no desenvolvimento da operação. Há também uma parcela expressiva de recursos comerciais para subsidiar as tarifas.
    A vice-diretora técnica e científica de Relações Europeias e Internacionais da CEREMA, Françoise Meteyer Zeldine, explica que em 1971, foi criado um imposto para as empresas com mais de nove funcionários. Elas pagam entre 1,4 e 2,6% do salário dos empregados para subsidiar o transporte público. “A justificativa é que as empresas são beneficiárias indiretas do sistema de transporte, tendo assim uma relação direta do investimento com a oferta”.
    Todos os participantes do debate, independente do modelo adotado em seus países, concordaram que as metrópoles do mundo devem repensar permanentemente o seu sistema de transporte público e como financiá-lo. Tão importante quanto o planejamento e a gestão do sistema de transporte público é a garantia de baixas tarifas. A mobilidade urbana é um direito de todos os cidadãos e não um privilégio.

    TERCEIRO EIXO do MDT: Barateamento das tarifas para a inclusão social.


    Desde 1992 quando em Porto Alegre foi lançado o "Programa de barateamento das tarifas”, e nos últimos anos de existência do MDT, na esfera federal houve manifestações de intenção de levar a frente esta iniciativa, Alguns estados e  municípios tomaram iniciativas efetivas para desonerar insumos para baratear as tarifas, nos quais a população ficou satisfeita com os resultados. 

    O MDT fez em 2005 a campanha pública de caráter publicitário denominada "Tarifa cidadã – Transporte com inclusão social”, que teve a adesão de mais de 120 cidades.  Outra grande vitória na política do barateamento das tarifas foi a implantação da tarifa temporal conhecida como "Bilhete Único”, implantada plenamente em São Paulo, em sua região metropolitana e na cidade de Campinas-SP.

    Inspirado nessa experiência e nas propostas da Tarifa Cidadã do MDT, foi aprovado na Câmara Federal, e e no Senado, um projeto de lei que estabelece medidas de desoneração fiscal voltadas para o barateamento das tarifas e o fim das gratuidades bancadas pelos passageiros pagantes, bem como a adoção do sistema integrado temporal – "o Bilhete Único” – ou integração em terminais.

    O projeto de lei estabelece também a isenção de diversos tributos das três esferas de governo incidentes sobre a prestação de serviços e insumos do transporte coletivo urbano, com transferência direta e imediata dos ganhos para o usuário, através da redução da tarifa. 

    Outro projeto, que institui o chamado ”Vale-Transporte Social”, continua tramitando paralelamente. A Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades chegou a propor uma Bolsa Mobilidade para as famílias que recebem a Bolsa Família.  Esses recursos públicos para financiamento dessas gratuidades poderão ser levantados mediante a taxação da gasolina, ou dos estacionamentos, via pedágios urbanos e por meio de quaisquer outras medidas que reduzam um pouco os privilégios concedidos aos automóveis e motocicletas, bastando vontade política se fazer presente.

    quinta-feira, 15 de maio de 2014

    SEGUNDO EIXO do MDT: Investimentos permanentes no transporte coletivo


    O transporte público de qualidade para todos e todas deve fazer parte da agenda política e econômica do país.  É preciso que a mobilidade tenha uma planificação com metas de médio e longo prazo e conte com uma política de estado legitimada socialmente e em leis que garantam recursos permanentes independente do governo para que o país possa vir a constituir uma mobilidade cidadã e sustentável para todos e todas.     

    quarta-feira, 14 de maio de 2014

    PRIMEIRO EIXO do MDT: Mobilidade para todos


    Trata-se do programa de acessibilidade, definido pelas leis nº 10.048/97 e 8.078/90 e pelo decreto regulamentador no 5296/04. Esses decretos fizeram com que hoje só possam ser vendidos ônibus acessíveis para operar os serviços de transportes públicos veículos.
    Outra vitória foi os avanços na qualidade da proposta e na tramitação do marco regulatório da mobilidade urbana no legislativo federal, consubstanciado no conhecido Projeto de Lei da Mobilidade Urbana – PL nº 1687/07. O texto criava diretrizes para uma política nacional de mobilidade urbana focada nas atribuições da União, dos Estados e dos Municípios, nas formas de financiamento e de desoneração dos custos, na regularização dos serviços através de licitação, no disciplinamento do uso dos automóveis, na prioridade das políticas e investimentos públicos para os modos coletivos e não motorizados e estabelecia direitos dos usuários, entre outros avanços.
    O MDT, através do Comitê de Mobilidade do Conselho das Cidades, elaborou uma proposta que gerou uma Resolução de Recomendada, aprovada pelo Pleno do Conselho, indicando mudanças em 12 dos 30 artigos do projeto e a inclusão de quatro novos artigos. Essas propostas foram acatadas em quase toda sua totalidade pela relatora a deputada Ângela Amin.


    A partir de 13 de abril de 2012 começou a vigorar a Lei no. 15.587/2012, conhecida como Lei de Mobilidade Urbana. Entre os avanços contidos no texto da Lei podem-se citar:

    a. a ultrapassagem de uma visão meramente ´´transportista´´ (no sentido que, para resolver o problema do transporte nas cidades, é suficiente investir em mais e mais corredores de ônibus ou linhas de trem, metrôs ou mais avenidas);

    b. uma valorização dos modais de transportes não motorizados (bicicleta e a pé), buscando qualificar as esquecidas calçadas para pedestres;

    c. busca pelo desenvolvimento sustentável das cidades, valorizando modos menos poluentes;

    d. a inovação no que se refere à regulação econômica dos serviços de transportes coletivos. Anteriormente à Lei atuava-se com o modelo baseado em custos. Agora busca-se a mudança para uma remuneração baseada em processos licitatórios. A expectativa é que, a partir desta nova prática, parte dos ganhos de eficiência e produtividade das empresas seja transferida aos usuários;

    e. a exigência para que municípios a partir de 20.000 habitantes construam seus planos de mobilidade. Antes da promulgação da Lei, esta exigência era feita apenas para municípios com mais de 500.000 habitantes. Podemos imaginar um possível problema a surgir aqui: se estes planos serão construídos apenas para cumprir uma exigência burocrática ou se serão elaborados com compromisso de encaminhar os problemas de mobilidade nas cidades. Talvez a forma mais eficaz para tornar tais Planos de Mobilidade não apenas peças de ficção, mas projetos que sejam assumidos pelas comunidades às quais deveriam interferir, é que ocorra a efetiva participação de tais comunidades na construção destes planos;

    f. a Lei promove um uso mais equitativo do espaço público de circulação.

    terça-feira, 13 de maio de 2014

    Plano Diretor Estratégico de SP: o que é invisível à população e o que isso tem a ver com a mobilidade urbana


    Apresentado pelo executivo municipal, o PL 688/13, que propõe o novo Plano Diretor Estratégico (PDE) para a cidade de São Paulo, acaba de ser aprovado em primeira votação pela Câmara dos Vereadores. Com 46 votos a favor e 2 contra nesta primeira fase, a votação final está prevista para acontecer até o final do mês de maio deste ano.
    O Plano foi discutido em 56 reuniões presenciais, da qual participaram mais de 19 mil pessoas. Com cerca de 8 mil contribuições, e tendo sido analisado em tantos outros fóruns para, ao final, terminar consolidado na Câmara, o PDE é algo que deve ser comemorado, pois seguramente nos deixará com uma expectativa razoável de um melhor futuro para a cidade.
    E o que o Plano Diretor Estratégico tem a ver com a qualidade do transporte? Tudo.
    Os problemas da cidade, cujas causas e consequências já foram apontadas anos a fio em inúmeros estudos e pesquisas, nas teses acadêmicas e em reportagens na mídia, são sobejamente conhecidos de há muito pela comunidade técnica: políticas urbanas equivocadas, transporte ineficiente, mobilidade urbana insustentável, desequilíbrio no uso e ocupação do solo, espraiamento da cidade, centrifugação das classes mais pobres para a periferia, distâncias e tempos de deslocamento diários absurdos para uma grande faixa da população, congestionamento, poluição e acidentes de trânsito.
    Sem compreender a complexidade dos fenômenos que produzem esta realidade, grande parte da população sente apenas os efeitos mais visíveis de uma longa história de desorganização urbana. Os moradores da cidade sofrem com a falta de moradia ou a existência de moradias precárias, como também são vítimas do longo tempo de espera da condução, das longas viagens, da superlotação, da falta de conforto e dos custos relativos crescentes da tarifa. São poucos os que compreendem, no entanto, a intrincada relação entre o uso e ocupação do solo, a qualidade e eficiência do transporte público e o congestionamento viário diário. Daí que, no momento crucial da votação do Projeto de Lei na Câmara, ressalta-se apenas a legítima pressão exercida pelo movimento organizado por moradias.
    É possível que o setor da construção – incorporadoras e construtoras –, a elite e parte da classe média, estes tenham um nível de entendimento melhor das causas que paralisam a cidade, causas essas que a tornam, ano após ano, mais inóspita e insegura, ao mesmo tempo em que economicamente menos competitiva. Lamentavelmente, porém, ao demonstrarem preocupação imediatista somente para a obtenção do máximo de lucratividade, mostram possuir olhar estreito e egoísta, com pouca visão de futuro.
    O espraiamento da cidade, com a maior parte dos empregos na área central e a concentração de moradias em áreas distantes ou periféricas, acabou consolidando eixos viários de grandes extensões, e linhas de desejo de viagens radiais concêntricas. A evidência deste fenômeno de ocupação são as lotações excessivas dos sistemas de transporte, com trens ferroviários e de metrô e ônibus superlotados, um trânsito infernal em espaços viários cada vez mais exíguos e, o que é pior, de proibitiva expansão. Nesta configuração, o acréscimo de oferta de lugares em transporte público é rapidamente consumido pela demanda, cada vez mais crescente, piorando sua qualidade.O mesmo acontece com o sistema viário, inundado cada vez mais pelo despejamento de frotas crescentes de automóveis. Deixar que a cidade se auto-organize ao sabor dos ventos é petrificar essa estrutura.
    O que há de invisível no PDE que pode contribuir para um transporte publico melhor?
    Vários são os fatores que interferem na qualidade e eficiência do transporte público. Dentre todos, o maior são os movimentos pendulares da população, com embarques massivos nas áreas periféricas com destino à área central da cidade, o que ocorre a velocidades muito baixas. Distâncias enormes acabam por ser percorridas com quase nenhuma renovação de passageiros (pouco ‘sobe e desce’ ao longo dos itinerários), demandando uma enorme exigência de quantidade de veículos em circulação. A baixa eficiência pode ser constatada, dentre outros indicadores, pelo índice de passageiro por quilômetro – IPK, atualmente um dos menores da história da cidade, elevando a tarifa e/ou o montante de subsídios públicos para suportar custos operacionais de serviço cada vez mais crescentes.
    A reversão desse quadro não será alcançada apenas com soluções técnicas na área de transporte, ou na revisão de itinerários, tampouco na seleção de modos de transporte. Já sabemos que se a cidade não mudar sua configuração, não será possível alcançar a qualidade esperada no transporte público. Não é mais possível fazer transporte correndo atrás tão somente da demanda. É imperativo cuidar, sim, da demanda e fazer sua gestão, o que só será possível revendo-se a cidade.
    É aí que entra o Plano Diretor Estratégico, ora aprovado na Câmara.
    Nele estão contidas as diretrizes fundamentais para que tal reversão possa ocorrer, como, por exemplo, a proposta de corredores adensados de ônibus ou de transporte sobre trilhos, com ocupação mista – moradias e empregos –, com medidas que incentivam a construção de habitações sociais no seu entorno, com a redução de número de vagas por apartamento nas novas edificações, como também medidas incentivadoras da descentralização dos empregos.
    O Plano Integrado de Transporte Urbano – PITU, realizado em 2006 pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos, com ampla participação dos municípios que compõem a região, vislumbra um horizonte para o ano de2025. Continuamente atualizado (e implementado), o PITU propõe ideias semelhantes às do PDE para a Região Metropolitana de São Paulo, podendo-se nele observar propostas de corredores urbanísticos, adensamento seletivo, contenção da área urbanizada da metrópole e balanceamento de empregos e habitações.
    Ambos os planos – municipal e metropolitano –, ao lado de medidas que visam alterar o modelo de desenvolvimento das cidades, contemplam ações que almejam a prioridade à circulação do transporte coletivo nas vias públicas. Esta é a condição indispensável para o aumento da velocidade e, por consequência, a redução de tempos de viagem e de custos operacionais, fundamentais para tornar o transporte coletivo atraente, além de possibilitar uma divisão modal que reduza as viagens por automóveis.
    O PDE de São Paulo tem por fulcro o Estatuto da Cidade, a Política Nacional de Habitação e a Lei de Mobilidade Urbana de 2012, que estabelece a Política Nacional de Mobilidade. O PITU, em sua origem, só não conhecia a Lei de Mobilidade, mas seus pressupostos já estão ali contidos, tal a evidência das diretrizes norteadoras da lei.
    São Paulo e muitas cidades brasileiras já tiveram seus planos. O PDE de 2002 já possuía muito das diretrizes ora estabelecidas no Plano aprovado recentemente na Câmara dos Vereadores. Tão importante quanto elaborar planos consistentes, discutidos com a sociedade, que possam realmente modificar o modelo de desenvolvimento para uma metrópole mais humana, sustentável e de melhor qualidade de vida, é sua implementação e permanência (com as atualizações necessárias) ao longo das sucessivas gestões públicas.
    Lamentavelmente não é isso que normalmente acontece.
    A despeito de ações voltadas para a expansão dos sistemas de transportes que vêm acontecendo, como a expansão da rede metroferroviária e da rede de corredores de ônibus, sem falar no esforço para implantar a prioridade ao transporte coletivo, uma das diretrizes da Lei de Mobilidade, que é a construção de faixas exclusivas de ônibus, até o presente não se vislumbra as mudanças imaginadas no uso e ocupação do solo. Os corredores urbanísticos preconizados no PITU em 2006, por exemplo, ainda sequer saíram do papel. Muitas medidas contidas no PDE de São Paulo de 2002, outro exemplo, não tiveram continuidade nas sucessivas gestões públicas.
    No tocante à mudança de configuração da cidade, o que se vê são programas e ações contraditórias com o PDE e com o PITU. Veja-se o caso do programa Minha Casa Minha Vida, que incentiva a construção de conjuntos habitacionais nas periferias das cidades, confirmando o modelo histórico e corrosivo da qualidade de vida urbana. Veja-se, também, os projetos da iniciativa privada, um dos grandes predadores da cidade que queremos no futuro, quando se lê na imprensa que o setor da construção de prédios de apartamentos já se antecipou e desenvolveu projetos em total desacordo com as normas que foram aprovadas no PDE para os corredores de transporte, com apartamentos de alto nível e com quatro vagas de garagem.
    Vimos ao longo da história que só leis e planos não são suficientes para fazer acontecer as mudanças para uma cidade melhor. São necessários, mas não suficientes. Os movimentos por moradia continuarão a fazer pressão para a redução do enorme déficit habitacional, com os métodos próprios e peculiares destes tipos de organização, provavelmente empurrando o executivo municipal a produzir soluções a qualquer preço. Por outro lado, as precárias condições de fiscalização da prefeitura não serão suficientes para segurar o ímpeto (e a ganância) do setor imobiliário. Acrescente-se que os problemas da cidade de São Paulo não estão circunscritos à cidade, mas são altamente influenciados pelos demais municípios da Região Metropolitana, cada qual com autonomia federativa, a elaborar seus próprios planos diretores e de mobilidade urbana.
    São questões que exigem vigilância por parte da sociedade, em especial dos setores técnicos. Mas, mais do que isso, é imperativa a discussão de novos modelos institucionais para a discussão da governança metropolitana, além de modelos de financiamento compatíveis com os propósitos dos planos diretores urbanos e de transporte.

    Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco): Superintendente da ANTP
    ANTP

    Conferência Internacional de Cidades Inovadoras

    A questão da mobilidade urbana foi destaque na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2014).

    O professor da Universidade Tecnológica de Viena, Rudolf Giffinger, afirmou que as cidades precisam combinar crescimento econômico, urbanização e redução de emissões poluentes. Além disso, ele aponta seis pilares para uma cidade inteligente de médio porte. Confira: http://ow.ly/wFqqJ

    sábado, 10 de maio de 2014

    Como garantir baixas tarifas acessíveis sem comprometer a qualidade dos transportes?

    Nesta época do ano, mais uma vez a questão das tarifas de transportes públicos ganha espaço nos debates na mídia e no dia a dia das pessoas.
    A verdade é que o assunto, propositadamente ou não, sempre foi tratado de forma superficial.
    Quando se fala em tarifa, logo se pensa em lucro para empresários do setor de transportes. É certo que a lucratividade dos donos das companhias de ônibus e outros modais tem de ser levada em consideração. Afinal, sem retorno financeiro e segurança econômica uma empresa, pública ou estatal, não tem como investir nas melhorias necessárias para os passageiros.
    Mas tarifa de transporte público é muito mais que financiamento da mobilidade e sim uma questão de justiça social.
    Todos sabem que pelos transportes públicos, a população tem acesso a direitos como emprego e renda, saúde, educação e lazer.
    No entanto, hoje especialistas garantem que o transporte público não deve ser encarado apenas como acesso a estes direitos, mas na formulação de políticas públicas, nações mais desenvolvidas consideram os transportes como parte dos outros direitos do cidadão.
    E isso faz toda a diferença já que permite um financiamento mais justo por parte do Estado.
    O transporte não dá acesso somente a educação, mas faz parte dela. O transporte não apenas leva trabalhadores onde há oportunidades, mas é integrante de políticas de geração de emprego e renda.
    O transporte não só permite que as pessoas consigam chegar ao médico ou frequentar outros tratamentos de saúde, mas garante que tais serviços na área sejam oferecidos à população.
    Hoje, nos modelos aplicados na maior parte das cidades brasileiras, são basicamente duas opções de financiamento dos transportes: ou o passageiro assume todos os custos sozinho, inclusive os das gratuidades, ou então os governos (municipal ou estadual) injetam diretamente dinheiro para subsídios nos sistemas.
    Em modelos de financiamento de outros países, em especial na Europa, as aéreas da saúde, educação, emprego e renda e previdência têm recursos destinados aos transportes públicos proporcionalmente à serventia que o setor tem a estas áreas.
    De início, pode parecer uma heresia, ainda mais num país como o Brasil, carente de serviços sociais adequados, que “saia dinheiro” da saúde e educação para os transportes.
    Mas esta seria uma análise muito superficial. Na verdade, não sairia dinheiro destas áreas e muito menos se trata de tirar dinheiro de escola ou hospital para ônibus. Apenas haveria o financiamento de parte do deslocamento das pessoas para que os setores de saúde, emprego e renda, educação e lazer possam de fato integralmente cumprir seu papel.
    Na Europa, por exemplo, na maior parte das cidades, as passagens pagas pelos usuários diretamente nos meios de transportes, só cobrem entre 15% e 45% dos custos dos sistemas de mobilidade.
    O restante vem de políticas de financiamento vinculadas a outras áreas essenciais beneficiadas pelos transportes.
    Veja que não são apenas subsídios, mas sim sistemas de custeio pelos quais todos possam contribuir de maneira justa para os transportes públicos, que trazem benefícios a toda sociedade, inclusive para quem não usa trens, metrô ou ônibus.
    No final das contas, estas formas de financiamento acabam saindo mais interessantes para os cofres públicos que destinar de maneira errada vultuosas somas apenas para algumas áreas, deixando os passageiros assumirem os custos de sistemas de transportes públicos que não são eficientes como deveriam pela ausência de financiamento justo. E a ineficiência custa caro a todos.
    Não adianta apenas reivindicar congelamento de tarifas ou reduções sem apontar formas de custeio: salários, combustível, lubrificantes, veículos novos têm preços que são reajustados, em boa parte das vezes, com índices superiores aos da inflação oficial.
    Não é melhor que a saúde, a educação, a providência, a segurança já contem com recursos que financiem parte dos custos de deslocamentos da população para seus serviços do que depois os governos terem de mexer nos orçamentos para criar subsídios?
    Com o transporte como parte integrante das políticas das demais áreas, não é necessário criar impostos, altos subsídios e já há uma previsão orçamentária transparente em cada uma destas áreas.
    E há outra questão importante a ser debatida. Com o financiamento que o Governo Federal dá a indústria automobilística, seja por investimentos diretos ou por desonerações, e com o crescimento da renda de parte da população brasileira, muita gente tem migrado do transporte público para o transporte individual.
    Sendo assim, já surgem dois desafios. Primeiro, com perda de passageiros, o transporte público não pode mais só depender de tarifas para seu custeio: ou o valor das tarifas sobe ainda mais ou a qualidade cai. E isso leva ao segundo desafio: se a tarifa aumentar ainda mais e qualidade diminuir, mais gente ainda vai deixar o transporte público. Forma-se uma verdadeira bola neve.
    Como direito social e não apenas como serviço essencial, na linha dos avanços sobre este tema no Congresso, definitivamente o transporte público não deve ser custeado apenas pelas tarifas.

    Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

    quinta-feira, 8 de maio de 2014

    Coordenador do MDT, Nazareno Affonso visita Medellin



    Coordenador do MDT visita escadas rolantes públicas em bairro popular após usar teleférico em Medellin quando participa do Fórum Urbano Mundial . 

    Visita mostra que é possível melhorar a mobilidade em bairros populares

    terça-feira, 6 de maio de 2014

    O MDT recomenda diversos cuidados importantes com os pequenos ao acompanhá-los nas ruas.

    Pequenos pedestres, no site da Perkons

    Como é público e notório, as crianças merecem um cuidado todo especial na hora do passeio. Até os 10 anos, devem estar sempre acompanhadas de um adulto, uma vez que ainda não conseguem calcular a velocidade e a distância dos veículos, não reconhecem os sons ambientes e têm a visão periférica limitada. Dependendo da altura, os motoristas também podem não enxergá-la. Entre os acidentes mais comuns está o atropelamento, que é a principal causa de morte envolvendo crianças entre cinco e dez anos, segundo a ONG Criança Segura, a partir de dados de 2010 do Ministério da Saúde. Em média, cinco crianças são vítimas diariamente de acidentes de trânsito no Brasil. No referido ano, os atropelamentos foram quase 40% (711) dos 1.835 óbitos infantis e de pré-adolescentes (0 a 14 anos) no trânsito brasileiro (veja mais detalhes no box ao final).
    Um cuidado importante para proteger os pequenos é, ao caminhar na calçada, o adulto manter a criança do lado de dentro, e ao atravessar a rua, segurá-la pelo punho.
    É importante também que os calçados acomodem os dedos naturalmente, permitindo os movimentos do pé. Deve sobrar no calçado de 1,0 a 1,5 centímetros e eles devem ter solados planos, sem saltos, para evitar quedas. Vestir as crianças com cores claras ou detalhes refletivos também vale: ao sair à noite, por exemplo, os motoristas teriam uma visão melhor delas, considerando seu tamanho.
    À medida que a criança vai se desenvolvendo, o responsável deve orientar as crianças quanto às regras de circulação, interpretação de sinalizações e ensinar a avaliar os riscos comuns ao trajeto, para que elas possam ter uma conduta responsável quando forem andar sozinhas
    Outro aspecto que pode contribuir para que os pequenos se sintam mais seguros no trânsito e para que analisem bem os riscos de seus trajetos quando tiverem idade para andar sozinhos, é importante ensiná-los algumas dicas.
    Ah, não se esqueça que só uma boa conversa com a criança não é suficiente. É fundamental que os adultos sejam exemplo de tudo o que ensinam, principalmente quando se trata de dicas de segurança.

    » Antes de atravessar uma rua, olhe para os dois lados até que não haja mais veículos passando ou até que eles estejam parados para prosseguir;
    » A pressa não ajuda: não precisa correr, pois você pode tropeçar;
    » Para atravessar use a faixa de pedestres ou as passarelas, quando houver. Se não tiver, atravesse em linha reta, em esquinas ou lugares sem curvas para ter a devida visão dos carros;
    » Ande sempre na calçada; se não tiver, ande rente ao muro no sentido contrário ao dos veículos, para enxergá-los bem;
    » Se houver policiais ou agentes de trânsito por perto, siga suas orientações ou peça instruções em caso de dúvidas;
    » Ao subir ou descer do ônibus, não se esqueça de observar antes se ele está completamente parado;
    » Se for passear com seu bichinho, lembre-se da coleira e não deixe ele andar na direção dos carros;
    » Não brinque ou ande de patins, skate ou bicicleta nas ruas. Há locais próprios para isso, como em parque ou a praça mais próxima;
    » Se a bola cair na rua, não a busque sozinho. Peça ajuda para um adulto.



    Estatísticas preocupantes
    As dicas rodam o mundo, mas as estatísticas nem sempre são favoráveis. Por isto, devem ser tomados os devidos cuidados nos mínimos detalhes, principalmente quando se fala em crianças e pré-adolescentes (de 0 a 14 anos). Dados do Ministério da Saúde dão conta de que 711 pessoas nesta faixa etária morreram por atropelamentos em 2010, sendo 24 (3%) menores de 1 ano, 201 (28%) de 1 a 4 anos, 238 (34%) de 5 a 9 anos, e 248 (35%) de 10 a 14. Isso sem contar as 7.932 que deram “sorte”, mas que tiveram que ser internadas.
    A ONG Criança Segura divulgou um ranking desses dados por regiões: a lista é encabeçada por Sergipe, com 2,88 mortes de menores de 15 anos por atropelamentos a cada 100 mil habitantes, seguido por Tocantins (com 2,76) e por Goiás (2,5). Os maiores estados brasileiros, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ficaram respectivamente em 21º (1,06), 20º (1,25) e 15º (1,54). O Distrito Federal está em 8º lugar, com 2,14.

    segunda-feira, 5 de maio de 2014

    Movimento pelo Direito à Cidade no Plano Diretor

    O Projeto de Lei Substitutivo do Plano Diretor de São Paulo (PL 688/13), proposto pela Câmara Municipal, conseguiu incorporar em seu texto avanços muito importantes para consolidação de um marco da política urbana municipal que se paute pelo cumprimento da função social da propriedade e pela gestão democrática, por meio do controle e da participação social.
    O texto reconheceu e incorporou a política fundiária como um elemento do planejamento da cidade; avançou na elaboração de instrumentos urbanísticos, buscando sua autoaplicabilidade, e na relação cultura-cidade, assim como na maior precisão de instrumentos de controle social, entre outras questões.
    Reconhecemos e apoiamos este esforço, de aperfeiçoamento do projeto apresentado pelo Executivo, que foi conduzido de forma aberta à participação.
    Entretanto, ainda existem pontos fundamentais que precisam ser melhor discutidos até sua definição final na Câmara Municipal:
    HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
    -As definições sobre Habitação de Interesse Social, remetidas para decreto posterior, precisam ficar mais claras.
    - Considerando que a faixa de renda entre 0 e 1 salário mínimo é a faixa mais vulnerável, sem representatividade e sem política habitacional específica, deve ser garantido o atendimento específico para essa faixa, especialmente no âmbito do Serviço de Moradia Social.
    - O instrumento da Cota de Solidariedade, apesar de ser um grande avanço, precisa destinar as áreas designadas à moradia de baixa renda para população entre 0 e 3 (e não 0 a 6) salários mínimos, além de reduzir a obrigatoriedade de aplicação para empreendimentos com área computável de partir de 10.000m2 (e não 20.000m2).
    - É importante que o Artigo 275 determine que o Serviço de Moradia Social seja prestado com recursos oriundos do Fundo Municipal de Habitação, FUNDURB e dos Fundos das Operações Urbanas Consorciadas ou outros instrumentos que venham a constituir fundos de desenvolvimento urbano, ou ainda, por intermédio de transferências intergovernamentais.
    - A indicação da demanda para unidades produzidas em ZEIS deve ser feita pela Secretaria Municipal de Habitação, ou pelas entidades ou movimentos sociais envolvidos em caso de produção por meio de autogestão.
    FUNDURB
    - A destinação mínima de 30% dos recursos do FUNDURB, provenientes da outorga onerosa precisam estar obrigatoriamente vinculados à aquisição de terras para HIS e/ou construção de HIS pelo poder público ou entidades sem fins lucrativos, prevendo assim a possibilidade de constituir parque imobiliário público para locação social ou outros programas de transferência da posse.
    - É importante que a destinação dos recursos do FUNDURB seja mais dirigida (prevendo percentuais) e priorize, no artigo 315, a habitação de interesse social, o transporte público e a mobilidade, exclusivamente para modos coletivos e não motorizados, e a construção e equipamentos urbanos e comunitários. Especialmente recomenda-se que seja destinado percentual específico para o Serviço de Moradia Social, contemplando as famílias com faixa de renda entre 0 e 1 salário mínimo, assim como demais famílias em situação de vulnerabilidade e emergência habitacional, já listadas no art. 275.
    USO DO SOLO / INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS
    - Em que pese a necessidade de definir instrumentos de regulação de grande escala, que superem a dimensão lote-a-lote para a reestruturação da cidade, a forma com estes são apresentados no PD não permite a definição clara de seus objetivos, de condicionalidades redistributivas, de sua territorialidade  agentes envolvidos. Há uma profusão de instrumentos entre os artigos 133 e 141: o Reordenamento Urbanístico Integrado, a Concessão Urbanística, as Áreas de Intervenção Urbana e as Áreas de Estruturação Local . Da forma como estão no plano , abrem brechas a processos de transformação urbana sem qualquer discussão ou controle social e dando margem para a desapropriação de áreas pelo setor privado. Nenhum destes instrumentos foi proposto ou discutido amplamente nos processos de discussão públicos do PD e, por isso, sugerimos sua exclusão  do texto do Substitutivo.
    - Sugerimos a inclusão de artigo que exija a apresentação de Estudo de Impacto Ambiental prévios em projetos e planos urbanísticos que podem alterar parâmetros de uso e ocupação do solo, como é o caso das Operações Urbanas Consorciadas. Além da inclusão de artigo que exija a apresentação de Estudo de Impacto de Vizinhança de grandes empreendimentos geradores de impactos urbanísticos e ambientais no âmbito destes projetos e planos urbanos, especialmente os inseridos nas Operações Urbanas Consorciadas, a serem definidos de acordo com o que diz o art. 144 deste Substitutivo.
    EIXOS DE ESTRUTURAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO URBANA
    - Os parâmetros que regulam a ocupação nos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana, ao definir testadas e lotes mínimos, criam restrições à promoção do pequeno comércio. Estes parâmetros precisam ser revistos em favor da diversidade de usos ao longo destes eixos a serem adensados.
    - Os Eixos de Estruturação da Transformação Urbana devem ser ter diferentes padrões de uso e ocupação, seguindo a ordem e a heterogeneidade do território urbano que atravessam.
    - Em relação aos Eixos demarcados na Área de Proteção aos Mananciais, é necessário rever os parâmetros previstos para adensamento construtivo dos mesmos, reduzindo coeficientes de aproveitamento. Além disso, é fundamental garantir que porções desses corredores sejam destinadas a receber famílias removidas de áreas de risco e/ou de relocação de obras de urbanização nas mesmas bacias hidrográficas.
    MOBILIDADE
    - Em relação ao tema da mobilidade, reconhecemos que houve alguns avanços do Plano na integração dos modos não motorizados, mas este ainda é tímido nas restrições as vagas de estacionamento nos espaços privados e públicos. Além disso é necessário ressaltar a obrigatoriedade de implantação de infraestrutura para ciclistas e pedestres em todas as travessias de pontes e viadutos, além da já mencionada priorização de utilização dos recursos do FUNDURB.
    SISTEMA DE PLANEJAMENTO
    - O Substitutivo remete à elaboração de vários planos setoriais, posteriormente à sua aprovação, porém, não estabelece um prazo para estes e, em alguns casos, sequer deixa claro quais seriam os seus objetos. Além disso, a quantidade de planos específicos a serem criados futuramente parece inviável, o que nos faz sugerir uma integração destes planos específicos. Sugerimos também que o plano contenha um quadro final com todas as regulamentações e planos específicos que necessitariam ser feitos, deixando claro seus prazos de execução e os agentes responsáveis por sua elaboração.
    CULTURA
    - Para gestão democrática dos Territórios Culturais, é fundamental que sejam constituídos conselhos gestores, nos moldes daqueles definidos para as ZEIS, para cada distrito do Município.
    PARQUES
    - Em relação aos parques propostos na Macroárea de Proteção e Recuperação Ambiental, no projeto de lei enviado pelo executivo à Câmara constava a previsão de criação do Parque Municipal Mananciais Paiol, de extrema relevância para a proteção ambiental da represa Guarapiranga. Solicitamos sua reinserção no texto final do Plano Diretor.
    INFRAESTRUTURAS AEROPORTUÁRIAS / AERÓDROMOS
    - Outra importante medida que precisa ser incorporada ao texto do Plano Diretor é a proibição de instalação de infraestruturas aeroportuárias e aeródromos na Macroárea de Proteção Ambiental e na nova Zona Rural criada. 
    ANTP

    sexta-feira, 2 de maio de 2014

    O MDT repudia o descaso com o transporte público


    TEMA DA SEMANA do  SEMANAL DA ANTP -  O velho chororô

    O filme se repete: basta os pátios das montadoras se encherem de veículos para que o setor se mobilize em busca de ajuda dos governantes (1 2). "Tais excepcionalidades são antigas e estão, digamos, 'climatizadas' ao negócio no Brasil", escreveu o empresário Pedro Luiz Passos em artigo na Folha de SP.

    Elio Gaspari, em sua coluna nos jornais O Globo e Folha de SP, relembra a mais recente ajuda dos cofres públicos ao setor: "A redução dos impostos cobrados às montadoras permitiu que vendessem 3,8 milhões de veículos em 2012. Seus operários mantiveram os empregos, mas não viram a cor desses lucros. Essa mesma desoneração resultou em menos arrecadação e, portanto, em menos dinheiro de volta para quem paga impostos."

    Em editorial, o jornal O Estado de SP descreve o novo formato que se estaria desenhando para um novo socorro aos fabricantes, baseado num modelo alemão transplantado de maneira oportunista para terras tropicais: "A proposta indecorosa, desta vez, é usar dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para pagar durante até dois anos parte do salário de empregados com jornada reduzida. (...) Nenhum outro setor tem recebido tantas facilidades para a manutenção de lucros e a preservação de empregos."

    Enquanto governantes e montadoras correm para socorrer lucros e resultados de gigantescas empresas multinacionais, as consequências do congelamento da tarifa dos meios de transporte coletivo da capital já começam a ser mensuradas: o prejuízo do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) aumentou no ano passado, como mostram estudos das duas empresas. O sucateamento do setor, no entanto, se espraia pelo restante do país. "Não dá para se bancar custeio e investimentos do transporte público (de qualidade!) apenas com tarifas e sincopadas dotações de orçamentos públicos", escreveu Frederico Bussinger em recente artigo para nosso site.

    A confrontação de duas realidades tão distintas salta aos olhos: enquanto o transporte coletivo urbano é vítima de populismo tarifário, o setor automobilístico é o notório beneficiário de medidas sempre generosas. Curioso como muitos ainda não conseguem perfilar, lado a lado, os benefícios e os prejuízos sociais que ambos produzem para toda a sociedade. Seria vergonhoso.

    Melhor exemplo do descaso está na maneira como o governo tratou a CIDE, tributo que incide sobre a importação e a comercialização de combustíveis. Zerada há dois anos, após sucessivas reduções, de forma a compensar o reajuste dos preços de produção dos combustíveis - um claro subsídio ao uso do automóvel -, de 2008 até as manifestações de junho de 2013 as estimativas é que deixaram de ser arrecadados R$ 22 bilhões. Como lembra Frederico Bussinger em seu artigo, dinheiro que bem poderia bancar 15 anos de subsídios ao sistema paulistano, ou sustentar a implantação de uma rede de metrô maior que a atualmente existente na capital paulista.