quarta-feira, 25 de março de 2015

Pontes para pessoas

O MDT se preocupa com a prioridade ao pedestre. 
Esta a de proiorização foi debarida pela Mobilize, que destaca 
nesta matéria, a acessibilidade das pontes, substitutas ideais às ultrapassadas 
passarelas nas cidades

Ponte sobre o parque Millennium, em Chicago (EUA)
Ponte sobre o Millennium Park, em Chicago (EUA)


Em Manaus, como em outras cidades brasileiras, as rodovias urbanas vêm sendo construídas cada vez mais. A ideia é facilitar o fluxo exclusivo dos veículos automotores, e a consequência não poderia ser pior: criam-se barreiras de acessibilidade, e uma pessoa se torna um ponto excludente no processo de crescimento urbano. As ruas se transformam em vias expressas e as avenidas em longas rodovias; e a tendência é essa anormalidade crescer como "modelo de progresso". 

Se o planejamento urbano não for repensado, segundo a noção de que as cidades são para pessoas, e não exclusivamente para carros, nunca vamos conseguir solucionar o 'caos urbano'.

Esta discussão nos leva a pensar que podemos projetar no plano do ideal, e conceber algo que garanta à pessoa tornar-se valorizada e figura prioritária na hierarquia da mobilidade urbana. Segundo o Plano Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal Nº 12.587/2012) os pedestres têm prioridade sobre toda e qualquer obra viária na cidade. Assim, antes de pensar nas 'soluções' para melhorar o fluxo dos carros, é urgente favorecer, sobre todos os aspectos, a segurança do pedestre no seu deslocamento e travessia.

Pontes para pessoas
Um dos conceitos mais nobres e satisfatórios nessa linha de pensamento é o planejamento de ‘Pontes para Pessoas’, termo que uso e que vem substituir o conceito das tradicionais passarelas. 

Estruturas anti-ergonômicas, as passarelas não estimulam a segurança dos pedestres. Também escadarias e elevadores não são atrativos arquitetônicos que favoreçam a mobilidade e a acessibilidade universal. Existem milhares de pessoas que nutrem algum tipo de conflito com esses modelos ultrapassados, e ainda mais pessoas com mobilidade reduzida, cadeirantes, idosos, animais, crianças em carrinhos, cegos, portadores de necessidades especiais e quem usa a bicicleta.

No que então as pontes são diferentes? 'Ponte' encerra o conceito de ligar um ponto a outro, com segurança e comodidade. Desse modo, é uma das melhores estruturas já construídas pelo homem e, quando instaladas sobre movimentadas vias e rodovias, se tornam uma excelência na relação da cidade com a paisagem urbana, a acessibilidade, a segurança e a mobilidade, pois se integram de forma harmônica ao partido adotado. 

Um exemplo: a ponte sobre o parque Millennium, em Chicago (EUA). Ali, a forma orgânica integrou-se perfeitamente ao entorno constituído principalmente por uma vegetação densa, que favorece a atratividade do local sem criar interrupções no trânsito, nem de pessoas, nem de veículos: o fluxo é contínuo e seguro para ambos os modais.

Criar pontes em cidades é adotar uma 'ferramenta' de desenho urbano que permite proporcionar um ambiente mais conectado, substituindo integralmente todo tipo de passarela.

Exemplos pelo mundo de travessias mais seguras do tipo 'Pontes para Pessoas': Aterro do Flamengo (RJ); Memorial da América Latina (SP); Rodovia expressa em Vancouver (Canadá); Amsterdã (Holanda); e estruturas em cidades da Dinamarca, China, Japão, Xangai e Espanha, entre outras.

Foto atual da passarela do Aterro do Flamengo (RJ). Foto: Reprodução

Ponte para pedestres em Vancouver. Foto: Reprodução

Com projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy e paisagismo de Roberto Burle Marx, a ponte construída durante as obras do Aterro do Flamengo, na década de 1960 no Rio de Janeiro, substituiu modelos de passarelas convencionais com escadarias. A proposta era projetar uma conexão moderna sobre uma rodovia urbana, que tinha como finalidade permitir aos pedestres atravessar com segurança as pistas de tráfego intenso. Além da elegância em curva contínua, essa estrutura em concreto armado aparente, que se tornou um elemento artístico na paisagem, proporciona leveza com 56 metros de vão livre.
É preciso repensar o modo de usar a cidade, entender quais são as problemáticas e conflitos de desordem urbana, para daí encontrar soluções, grandes soluções, com ideias criativas. 

Para discutir todos esses pontos, com a sociedade e o poder público, existe  mecanismo de consultas públicas. Instâncias como essa são ideiais para abordar tanto a proposta de pontes para as pessoas, como ainda discutir soluções mais simples também, como as travessias elevadas (faixas elevadas ou lombofaixas). Para a mobilidade ativa (pedestres, portadores de necessidades e ciclistas), elas são excelentes infraestruturas urbanas, que asseguram também integralmente a vida de quem quer atravessar uma via, pois proporciona naturalmente o controle da velocidade dos veículos, um dos fatores que contribuem para graves acidentes e mortes a quem tenta atravessar as convencionais faixas pintadas no asfalto. 

Faixas elevadas e passagens subterrâneas
As faixas elevadas funcionam como "lombadas", reduzindo a velocidade dos carros antes mesmo que eles cheguem à faixa; assim, pedestres/animais/ciclistas conseguem obter um percentual muito elevado de segurança e conforto. Essa solução resolve também a imprescindível questão da acessibilidade; com ela, cadeirantes, idosos e portadores de necessidades especiais têm total segurança de travessia, já que as faixas são projetadas na mesma altura das calçadas. Funcionam como uma extensão das calçadas, mas sem o rebaixamento das guias, que geralmente é fator de risco e barreira a todos os que possuem mobilidade reduzida.
Passagem subterrânea em Brasília (DF). Foto: Reprodução
Há ainda as passagens subterrâneas, outra solução viável para uma travessia segura e ininterrupta do tráfego de pessoas em vias de alto risco. Foi a solução adotada pelo urbanista Lúcio Costa no planejamento de Brasília. Algumas passagens subterrâneas são transformadas em galeria de arte, uso que ajuda a tornar a cidade mais conectada, acessível e segura.