quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Aprendizagem e treinamento reduzem acidentes


Entender o funcionamento do veículo, as forças físicas atuantes, a educação preventiva e defensiva, as situações de risco, as condições meteorológicas e adversidades, a atividade diurna e noturna, a via urbana e a estrada são algumas das necessidades básicas para a concessão da Carteira Nacional de Habilitação. Não se pode esquecer que, como toda atividade, é necessária educação continuada, correção dos vícios adquiridos, atualização com relação à legislação, sinalização e outros. Situações de risco precisam ser vivenciadas e colocadas na prática tanto no treinamento inicial como na educação continuada. Veja que até a legislação, desconhecendo as leis da física, permite situações extremamente perigosas e parece não preocupar-se com condições de trabalho, de transporte de usuários e até com a concessão da própria Carteira Nacional de Habilitação. Exemplo típico é a posição de trabalho de cobradores de ônibus, que ficam sentados no sentido transverso à direção do veículo, o que é totalmente contraindicado do ponto de vista ergonômico. Além da posição do cobrador, também a de bancos ou poltronas laterais para passageiros, que alguns veículos que possuem. O motivo da contraindicação baseia-se na falta de controle do centro de gravidade de quem viaja sentado nesses bancos sofrendo as ações da aceleração e desaceleração, obrigando-o a fazer durante todo o percurso movimentos pendulares à coluna lombar e movimentos ativos de membros superiores e inferiores, buscando o equilíbrio necessário para manter-se em posição. Também, pelo fato de ter um campo visual restrito, com pouca visão de profundidade, com imagens passando rapidamente na janela contra lateral, o que, somado às condições já descritas, induzem mais rapidamente o trabalhador ou usuário a um estado hipnótico, com torpor e sonolência. As imagens passando em seu campo visual é como se tivesse um pêndulo a sua frente levando-o a um estado hipnótico. Banco colocado no sentido da direção do veículo trás transtorno à saúde Somando-se os movimentos repetidos de procura ao centro de equilíbrio e a vibração de corpo inteiro, temos como entender que tudo isso leve ao esgotamento muscular e, que dependendo do tempo de exposição, a fadiga será sintoma predominante. Não só as alterações ergonômicas do deslocamento nesta posição preocupam, mas também a total falta de proteção em termos de segurança. Uma frenagem brusca ou mesmo uma colisão, produzirá traumatismo de arcos costais, de membros superiores e inferiores, além de outras consequências imprevisíveis. Nessas condições são comuns sintoma como: náuseas, tonteiras, vômitos, vertigem, fadiga visual, visão borrada, dor muscular e dor lombar. Decretos, leis e resoluções também são responsáveis por acidentes de trânsito O transporte de pessoas de pé, tanto na via urbana como na estrada, é outra permissão inadequada. A aceleração ou desaceleração brusca faz com que o indivíduo sentado ou de pé no veículo tenha seus órgãos deslocados para trás ou para frente, dependendo de uma ou de outra condição, com um peso proporcional à velocidade do veículo. Caso o veículo esteja a 100 km/h, na desaceleração brusca por frenagem ou colisão, o indivíduo no interior desse veículo será deslocado do seu assento ou da sua posição de pé a 100 km/h, isto é, na velocidade em que estava o veículo antes da frenagem ou colisão. Assim, por exemplo, se estamos a 100 km/h e o peso do motorista, cobrador ou usuário sejam de 70 kg, numa desaceleração brusca esse peso será multiplicado e o peso final estará muitas vezes acima do peso inicial (20 vezes maior). Imagine o impacto dessa massa com uma superfície sólida. Não há dúvida que teremos um politraumatizado com lesões gravíssimas. É por isso que o perito, sabendo a velocidade do veículo no momento do impacto, pode estimar os danos provocados nas vítimas. Estamos tão somente destacando pequenas coisas desconhecidas para a grande massa de motoristas, que estão atreladas à gravidade dos acidentes. Esse não é um ensinamento comum nas autoescolas, mas é necessário que todos tenham conhecimento de que uma pessoa dentro de um veículo fica susceptível ao que chamamos de “Cinemática do Trauma”. Se esses conhecimentos fossem passados a quem busca a habilitação para dirigir, ou mesmo numa educação continuada, acredito que a ciência física daria subsídios importantes para maior segurança na direção veicular. Ninguém imagina porque as colisões causam tantas lesões, mas com o conhecimento da cinemática do trauma tudo é elucidado. Observe no quadro a baixo quanto passa a pesar cada órgão humano numa desaceleração por frenagem brusca ou colisão. Órgão Peso em repouso Peso no momento da desaceleração brusca a 100 km/h Fígado 1, 700 Kg 47 Kg Coração 300 g 8 Kg Rins 300 g 8 kg Cérebro 1,500 Kg 42 kg Baço 150 g 4 Kg Não é necessário delongar para entender que o aumento considerável do peso dos órgãos internos pode provocar rupturas com hemorragias internas, arrancamentos, deslocamentos, etc., com exagerado aumento da gravidade do quadro, mesmo sem lesão externa ao corpo. Precisamos mais cautela, conhecer profundamente todas as situações de risco da máquina sobre rodas. Se dentro de uma fábrica, com máquinas fixas, a legislação e as normas regulamentadoras do trabalho determinam que se zele pela segurança do operador, seja fornecido equipamento de segurança, haja treinamento frequente e ainda se agregue à máquina sensores para desligá-la em situação de risco, por que não darmos a mesma atenção ao operador de máquina sobre rodas? Esta é a mais perigosa, pois transporta e circula entre pessoas. Espera-se sempre maior treinamento para as situações de risco, em atividade diurna, noturna, com chuva, neblina, e outras condições anormais, na via urbana e na rodovia. Ter pleno conhecimento da utilização do freio comum e ABS e estar conectado permanentemente à direção preventiva e defensiva. É necessário ampliarmos conhecimentos sobre os riscos inerentes à atividade sobre rodas. O recebimento hoje da Carteira Nacional de Habilitação não significa que estamos habilitados para a atividade veicular. Este documento nos libera para o treinamento e aprendizagem individual, independente de acompanhamento e orientação, o que é absurdo. É infelizmente nessas circunstâncias que vamos enfrentar as situações de risco, com total desconhecimento. Daí surge a maior parcela das nossas estatísticas de acidentes de trânsito. De posse dessa CNH sabemos apenas fazer o veículo andar e continuamos totalmente despreparados para as situações de risco que surgirão no dia a dia. Conclusão: precisamos de mudança radical na formação de nossos condutores. Educar, conscientizar para os riscos, identificar o veículo não para atividade radical, mas sim para a mobilidade segura, respeitando as regras de trânsito, os parceiros e a cidadania. Conscientizando-se de que a máquina sobre rodas é extremamente perigosa e, além de tudo, compromete a saúde e o meio ambiente. A Carteira Nacional de Habilitação é uma concessão do estado, como tal, pode ser caçada diante de comportamento inadequado do condutor. Precisamos de treinamento e educação continuada para conhecer mais, muito mais do que é ensinado nos Cursos de Formação de Condutores.

 * Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET 09/11/2015
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