sexta-feira, 15 de julho de 2016

Paris proíbe circulação de carros a diesel e desincentiva uso de automóveis


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De olho na saúde e na mobilidade, Paris proíbe circulação de carros a diesel e foca em programas de desincentivo ao uso de automóveis
RENATA CARDARELLI
A poluição do ar mata 48 mil pessoas na França, todos os anos, segundo dados do próprio governo. Diante de números tão elevados e de índices de qualidade do ar cada vez mais críticos, as autoridades francesas anunciam medidas para reverter a situação. A mais recente é uma iniciativa da prefeitura de Paris que dispõe sobre a proibição de carros movidos a diesel produzidos antes de 1997 – na contramão do movimento mundial, o Congresso brasileiro discute a liberação de carros a diesel.
Além de carros, a restrição parisiense vale também para motos fabricadas antes de 1999. Os veículos estão proibidos de circular de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. A medida deve afetar cerca de 10% da frota da capital francesa. Há um ano, caminhões e ônibus movidos à diesel e fabricados antes de 1997 já haviam sido banidos das ruas da cidade-luz. Até 2020, a prefeitura pretende permitir a circulação de veículos feitos apenas a partir de 2011.
Veículos a diesel emitem materiais particulados poluentes e cancerígenas. Há estudos (leia mais) que mostram que o tamanho das partículas chega a um micrômetro cúbico (milionésima parte de um m³), facilitando a penetração nos pulmões e o desenvolvimento de câncer no órgão. Além disso, o combustível emite dióxido de enxofre (SO2), que em contato com a atmosfera gera o ácido sulfúrico (H2SO4), um dos causadores da chuva ácida.
País-sede do encontro histórico da COP-21, Conferência do Clima realizada no último ano, a França gasta cerca de 100 bilhões de euros por ano como reflexo da poluição atmosférica. A estimativa, de uma comissão do Senado, considera custos de saúde, ausências no trabalho e queda na produção agrícola.
A tendência é que os carros sejam figuras em extinção nas ruas francesas. A famosa avenida Champs Elysees, por exemplo, fica aberta apenas para pedestres um domingo por mês, como meio de desestimular o uso de automóveis. Os franceses também têm optado por investir em ciclovias e na redução do limite de velocidade para carros, que em algumas vias é de até 30 km/h.
As autoridades não veem viabilidade na opção londrina de criação de um pedágio urbano. Em entrevista à BBC, o secretário de transportes parisiense Christophe Najdovski afirma que os franceses consideram a alternativa britânica uma forma de discriminação social, uma vez que aqueles que podem pagar, continuarão a usar carros.
Ao menos por um dia neste ano, ninguém vai usar carros na capital francesa. O “dia sem carros” aconteceu pela primeira vez em setembro do ano passado, banindo a circulação de veículos nas áreas centrais da cidade. Para este ano, a prefeitura pretende expandir a iniciativa por toda a cidade, beneficiando não só pedestres e ciclistas, mas toda a população. Os pulmões e a saúde agradecem.
Renata Cardarelli é jornalista, especialista em redes digitais e sustentabilidade e atua como analista de comunicação em sustentabilidade. Passou pelas redações de Rádio Globo, Comunique-se, InfoMoney e Revista CULT. Contribuiu também com Rádio Eldorado, Rádio Gazeta AM e Universo Jatobá. Escreveu este artigo especialmente para o Blog Ponto de Ônibus