segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Projeto recria quadros famosos em 3D para serem sentidos por cegos

Unseen Art
Um novo projeto chamado ‘Arte Invisível’ (‘Unseen Art’), criado por uma empresa finlandesa, pretende auxiliar quem não enxerga a literalmente sentir as obras-primas clássicas.
Para tanto, muitos quadros famosos estão sendo recriados como modelos 3D impressos que permitem o toque.

A iniciativa, que atualmente pede apoio no site de financiamento coletivo Indiegogo, já está sendo testada com alguns voluntários, como a jovem Riikka Hänninen.
“Ah, então é assim que é?! Isso realmente está aumentando minha curiosidade. É super emocionante!”, afirmou ela, que nasceu cega e experimentou sentir a Mona Lisa pela primeira vez com ajuda do projeto.
De acordo com os fundadores, o dinheiro arrecadado com a campanha será usado para criar um depósito on-line onde artistas poderão contribuir com suas interpretações de arte em 3D. Esse banco de dados ficará acessível a qualquer pessoa no mundo, que poderá baixá-los gratuitamente e imprimi-los em uma impressora 3D para sentir as obras.
Metro

Pontes para pessoas, para aposentar de vez as passarelas

Ponte sobre o parque Millennium, em Chicago (EUA)Em Manaus, como em outras cidades brasileiras, as rodovias urbanas vêm sendo construídas cada vez mais. A ideia é facilitar o fluxo exclusivo dos veículos automotores, e a consequência não poderia ser pior: criam-se barreiras de acessibilidade, e uma pessoa se torna um ponto excludente no processo de crescimento urbano. As ruas se transformam em vias expressas e as avenidas em longas rodovias; e a tendência é essa anormalidade crescer como "modelo de progresso". 

Se o planejamento urbano não for repensado, segundo a noção de que as cidades são para pessoas, e não exclusivamente para carros, nunca vamos conseguir solucionar o 'caos urbano'.

Esta discussão nos leva a pensar que podemos projetar no plano do ideal, e conceber algo que garanta à pessoa tornar-se valorizada e figura prioritária na hierarquia da mobilidade urbana. Segundo o Plano Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal Nº 12.587/2012) os pedestres têm prioridade sobre toda e qualquer obra viária na cidade. Assim, antes de pensar nas 'soluções' para melhorar o fluxo dos carros, é urgente favorecer, sobre todos os aspectos, a segurança do pedestre no seu deslocamento e travessia.

Pontes para pessoas
Um dos conceitos mais nobres e satisfatórios nessa linha de pensamento é o planejamento de ‘Pontes para Pessoas’, termo que uso e que vem substituir o conceito das tradicionais passarelas. 

Estruturas anti-ergonômicas, as passarelas não estimulam a segurança dos pedestres. Também escadarias e elevadores não são atrativos arquitetônicos que favoreçam a mobilidade e a acessibilidade universal. Existem milhares de pessoas que nutrem algum tipo de conflito com esses modelos ultrapassados, e ainda mais pessoas com mobilidade reduzida, cadeirantes, idosos, animais, crianças em carrinhos, cegos, portadores de necessidades especiais e quem usa a bicicleta.

No que então as pontes são diferentes? 'Ponte' encerra o conceito de ligar um ponto a outro, com segurança e comodidade. Desse modo, é uma das melhores estruturas já construídas pelo homem e, quando instaladas sobre movimentadas vias e rodovias, se tornam uma excelência na relação da cidade com a paisagem urbana, a acessibilidade, a segurança e a mobilidade, pois se integram de forma harmônica ao partido adotado. 

Um exemplo: a ponte sobre o parque Millennium, em Chicago (EUA). Ali, a forma orgânica integrou-se perfeitamente ao entorno constituído principalmente por uma vegetação densa, que favorece a atratividade do local sem criar interrupções no trânsito, nem de pessoas, nem de veículos: o fluxo é contínuo e seguro para ambos os modais.

Criar pontes em cidades é adotar uma 'ferramenta' de desenho urbano que permite proporcionar um ambiente mais conectado, substituindo integralmente todo tipo de passarela.

Exemplos pelo mundo de travessias mais seguras do tipo 'Pontes para Pessoas': Aterro do Flamengo (RJ); Memorial da América Latina (SP); Rodovia expressa em Vancouver (Canadá); Amsterdã (Holanda); e estruturas em cidades da Dinamarca, China, Japão, Xangai e Espanha, entre outras.
 Ponte para pedestres em Vancouver. Foto: Reprodução

Com projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy e paisagismo de Roberto Burle Marx, a ponte construída durante as obras do Aterro do Flamengo, na década de 1960 no Rio de Janeiro, substituiu modelos de passarelas convencionais com escadarias. A proposta era projetar uma conexão moderna sobre uma rodovia urbana, que tinha como finalidade permitir aos pedestres atravessar com segurança as pistas de tráfego intenso. Além da elegância em curva contínua, essa estrutura em concreto armado aparente, que se tornou um elemento artístico na paisagem, proporciona leveza com 56 metros de vão livre.

 
Construção do Aterro do Flamengo e Museu de Arte Moderna, na década de 60. Foto: Reprodução


Foto atual da passarela do Aterro do Flamengo (RJ). Foto: Reprodução

Repensar as travessias em Manaus
Recentemente, uma passarela na capital manauense, a da Avenida das Flores, gerou polêmica por ser uma estrutura que apresenta extremo risco para quem tenta usá-la. O mesmo se dá nas passarelas das avenidas Djalma Batista, Constantino Nery, Rodrigo Otávio, Noel Nutels, Aleixo, André Araújo, Darcy Vargas, Coronel Teixeira (shopping Ponta Negra) e Torquato Tapajós. São algumas das grandes avenidas e rodovias urbanas de Manaus que podem perfeitamente adotar a infraestrutura de ponte para a travessia da população, com mais segurança, comodidade e conforto.


 
 Passarela em Manaus, na av. Djalma Batista. Foto: Karla Vieira/Semcom

É preciso repensar o modo de usar a cidade, entender quais são as problemáticas e conflitos de desordem urbana, para daí encontrar soluções, grandes soluções, com ideias criativas. 

Para discutir todos esses pontos, com a sociedade e o poder público, existe  mecanismo de consultas públicas. Instâncias como essa são ideiais para abordar tanto a proposta de pontes para as pessoas, como ainda discutir soluções mais simples também, como as travessias elevadas (faixas elevadas ou lombofaixas). Para a mobilidade ativa (pedestres, portadores de necessidades e ciclistas), elas são excelentes infraestruturas urbanas, que asseguram também integralmente a vida de quem quer atravessar uma via, pois proporciona naturalmente o controle da velocidade dos veículos, um dos fatores que contribuem para graves acidentes e mortes a quem tenta atravessar as convencionais faixas pintadas no asfalto. 

Faixas elevadas e passagens subterrâneas
As faixas elevadas funcionam como "lombadas", reduzindo a velocidade dos carros antes mesmo que eles cheguem à faixa; assim, pedestres/animais/ciclistas conseguem obter um percentual muito elevado de segurança e conforto. Essa solução resolve também a imprescindível questão da acessibilidade; com ela, cadeirantes, idosos e portadores de necessidades especiais têm total segurança de travessia, já que as faixas são projetadas na mesma altura das calçadas. Funcionam como uma extensão das calçadas, mas sem o rebaixamento das guias, que geralmente é fator de risco e barreira a todos os que possuem mobilidade reduzida.

Passagem subterrânea em Brasília (DF). Foto: Reprodução

Há ainda as passagens subterrâneas, outra solução viável para uma travessia segura e ininterrupta do tráfego de pessoas em vias de alto risco. Foi a solução adotada pelo urbanista Lúcio Costa no planejamento de Brasília. Algumas passagens subterrâneas são transformadas em galeria de arte, uso que ajuda a tornar a cidade mais conectada, acessível e segura.

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