Rio+20,
Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O que estes eventos
têm em comum? Todos evidenciaram as fragilidades das cidades-sede em termos de
mobilidade urbana nas recepções internacionais de grande porte. Com a estrutura
existente, especialistas dizem que é preciso planejamento e medidas preventivas
para aumentar a capacidade de mobilidade e apostam em investimentos para o
gerenciamento do sistema viário de forma mais inteligente.
Na visão
de estudiosos no assunto, se o transporte e as vias não comportam o volume
diário de usuários, não serão suficientes para atender à demanda de grandes
eventos. Para Luiz Gustavo Campos, engenheiro especialista em trânsito da
Perkons, “o problema é que o planejamento viário e de transportes não é
desenhado para atender um volume concentrado de pessoas em uma região. Uma rota
que atende bem 100 pessoas por dia não conseguirá atender 1000 com a mesma
qualidade. As medidas adotadas nestas ocasiões apenas reduzem o impacto”,
analisa.
Há dois
pontos importantes a serem observados na organização de eventos de massa, de
acordo com Cesar Cavalcanti, especialista em Planejamento de Transportes. Para
ele, eventos realizados em estruturas em que é conhecida a capacidade máxima de
usuários e as vias de acesso foram testadas anteriormente tendem a ter efeitos
negativos minimizados. Ele cita
como exemplos a JMJ transferida para a praia carioca de Copacabana e os acessos
à Arena Pernambuco na Copa das Confederações, em Recife. “Em ambos os casos, a
possibilidade do subatendimento é quase uma certeza, que pode, mesmo assim, ser
minimizado através de medidas criativas do tipo: cancelamento de aulas, ponto
facultativo e diluição da demanda com estacionamentos diversificados, atrações
passatempo etc.”, pontua Cavalcanti.
Planejamento
competente pode reduzir falhas
O
aprimoramento da mobilidade deve levar em consideração a melhor gestão do
trânsito. Segundo Campos, é necessário planejar as melhores rotas e informar a
população com antecedência e até mesmo com sinalização temporária os trajetos
para chegar ao evento. Além disso, colocar em circulação um número maior de
veículos nas várias opções de transporte público. E levar para as ruas um
número maior de agentes de trânsito, especialmente nas proximidades do evento.
Cavalcanti
defende que técnicos sejam ouvidos no processo de planejamento e implantação de
novas soluções. “Um planejamento competente, oportuno e respaldado por
informações confiáveis pode reduzir, significativamente, resultados negativos e
é neste momento que entram os técnicos do setor, com seu conhecimento e
instrumentos de simulação”, esclarece.
Cidadãos
precisam abdicar do conforto para tornar evento viável
Crises de
mobilidade urbana não são exclusivas de nações em desenvolvimento. Países ricos
ou pobres, de todos os continentes, lidam com algum tipo de restrição quanto ao
deslocamento nas cidades. Grandes eventos impactam na rotina dos participantes,
mas também do restante da população. As intervenções no trânsito são pensadas
primeiramente para beneficiar o evento. “Na organização dos jogos olímpicos em
Londres, por exemplo, os londrinos reclamaram bastante; provavelmente sofreram
com as intervenções que foram necessárias ”, relembra Luiz Gustavo Campos.
Por lá, o
Departamento de Trânsito publicou anúncios incentivando a população a fazer a
pé o trajeto até o trabalho ou assistir aos jogos em casa. Também fez uso das
redes sociais para informar as condições do tráfego em tempo real. “A adoção de
bloqueios e a criação da linha olímpica (faixa exclusiva) foram benéficas para
que os atletas e organizadores não se atrasassem para os eventos, porém gerou
engarrafamentos para os moradores”, ressalta Campos. Entretanto, “como as
mudanças eram por um período estipulado e com um objetivo claro, o resultado
foi positivo”, completa.
Transporte
de massa
Tendo em
vista a realização da Copa do Mundo no Brasil daqui menos de um ano, algumas
ações na gestão do transporte são necessárias. Segundo Cesar Cavalcanti, é
preciso certificar qual é o real nível de demanda que os equipamentos e a
infraestrutura que constituem a cadeia de transporte são capazes de atender.
Para o especialista, “não existe uma ‘receita de bolo’ que possa ser ministrada
em qualquer situação. São necessários levantamentos precisos e confiáveis das
características operacionais dos equipamentos, suas limitações, assim como um
levantamento meticuloso das edificações que fazem parte da interface
indispensável ao bom funcionamento de todo o sistema”, justifica.
Para
Campos, investimentos na ampliação do sistema de transporte coletivo são
essenciais. “Essas aplicações devem ser um legado a ser deixado para a
população e a infraestrutura deve ser mantida”, diz. Na opinião de Cavalcanti,
“o metrô é uma tecnologia imbatível quando se trata de grandes demandas. E, por
este motivo, a existência dos maiores metrôs do Brasil, em São Paulo e no Rio,
poderiam indicar, a priori, as cidades mais bem preparadas para movimentar tais
demandas”, ressalta. “Cidades como Curitiba e Porto Alegre, que contam com
sistemas de transporte urbano equilibrados e mais bem distribuídos, também são
capazes de proporcionar um atendimento razoável”, acrescenta.
Investimentos
em tecnologia
Em médio
e longo prazos são necessários investimentos para um gerenciamento do
transporte e do trânsito mais inteligente. “Dispositivos de monitoramento e
rastreamento da frota de ônibus, trens e metrôs e canais de comunicação com o
usuário sobre horários, tempo de chegada e itinerário são algumas soluções”,
cita Luiz Gustavo Campos.
“Quanto à
operação do trânsito é preciso destinar verbas para tecnologias em sistemas de
semáforos que melhorem as condições de fluidez e em mecanismos para orientação
de fluxo e de rotas alternativas, controle de vias de acesso e fiscalização”,
completa.
Site da Perkons