quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Grandes eventos e mobilidade urbana



Rio+20, Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O que estes eventos têm em comum? Todos evidenciaram as fragilidades das cidades-sede em termos de mobilidade urbana nas recepções internacionais de grande porte. Com a estrutura existente, especialistas dizem que é preciso planejamento e medidas preventivas para aumentar a capacidade de mobilidade e apostam em investimentos para o gerenciamento do sistema viário de forma mais inteligente. 

Na visão de estudiosos no assunto, se o transporte e as vias não comportam o volume diário de usuários, não serão suficientes para atender à demanda de grandes eventos. Para Luiz Gustavo Campos, engenheiro especialista em trânsito da Perkons, “o problema é que o planejamento viário e de transportes não é desenhado para atender um volume concentrado de pessoas em uma região. Uma rota que atende bem 100 pessoas por dia não conseguirá atender 1000 com a mesma qualidade. As medidas adotadas nestas ocasiões apenas reduzem o impacto”, analisa. 

Há dois pontos importantes a serem observados na organização de eventos de massa, de acordo com Cesar Cavalcanti, especialista em Planejamento de Transportes. Para ele, eventos realizados em estruturas em que é conhecida a capacidade máxima de usuários e as vias de acesso foram testadas anteriormente tendem a ter efeitos negativos minimizados. Ele cita como exemplos a JMJ transferida para a praia carioca de Copacabana e os acessos à Arena Pernambuco na Copa das Confederações, em Recife. “Em ambos os casos, a possibilidade do subatendimento é quase uma certeza, que pode, mesmo assim, ser minimizado através de medidas criativas do tipo: cancelamento de aulas, ponto facultativo e diluição da demanda com estacionamentos diversificados, atrações passatempo etc.”, pontua Cavalcanti. 

Planejamento competente pode reduzir falhas
 
O aprimoramento da mobilidade deve levar em consideração a melhor gestão do trânsito. Segundo Campos, é necessário planejar as melhores rotas e informar a população com antecedência e até mesmo com sinalização temporária os trajetos para chegar ao evento. Além disso, colocar em circulação um número maior de veículos nas várias opções de transporte público. E levar para as ruas um número maior de agentes de trânsito, especialmente nas proximidades do evento. 

Cavalcanti defende que técnicos sejam ouvidos no processo de planejamento e implantação de novas soluções. “Um planejamento competente, oportuno e respaldado por informações confiáveis pode reduzir, significativamente, resultados negativos e é neste momento que entram os técnicos do setor, com seu conhecimento e instrumentos de simulação”, esclarece. 

Cidadãos precisam abdicar do conforto para tornar evento viável
 
Crises de mobilidade urbana não são exclusivas de nações em desenvolvimento. Países ricos ou pobres, de todos os continentes, lidam com algum tipo de restrição quanto ao deslocamento nas cidades. Grandes eventos impactam na rotina dos participantes, mas também do restante da população. As intervenções no trânsito são pensadas primeiramente para beneficiar o evento. “Na organização dos jogos olímpicos em Londres, por exemplo, os londrinos reclamaram bastante; provavelmente sofreram com as intervenções que foram necessárias ”, relembra Luiz Gustavo Campos. 

Por lá, o Departamento de Trânsito publicou anúncios incentivando a população a fazer a pé o trajeto até o trabalho ou assistir aos jogos em casa. Também fez uso das redes sociais para informar as condições do tráfego em tempo real. “A adoção de bloqueios e a criação da linha olímpica (faixa exclusiva) foram benéficas para que os atletas e organizadores não se atrasassem para os eventos, porém gerou engarrafamentos para os moradores”, ressalta Campos. Entretanto, “como as mudanças eram por um período estipulado e com um objetivo claro, o resultado foi positivo”, completa. 

Transporte de massa
 
Tendo em vista a realização da Copa do Mundo no Brasil daqui menos de um ano, algumas ações na gestão do transporte são necessárias. Segundo Cesar Cavalcanti, é preciso certificar qual é o real nível de demanda que os equipamentos e a infraestrutura que constituem a cadeia de transporte são capazes de atender. Para o especialista, “não existe uma ‘receita de bolo’ que possa ser ministrada em qualquer situação. São necessários levantamentos precisos e confiáveis das características operacionais dos equipamentos, suas limitações, assim como um levantamento meticuloso das edificações que fazem parte da interface indispensável ao bom funcionamento de todo o sistema”, justifica. 

Para Campos, investimentos na ampliação do sistema de transporte coletivo são essenciais. “Essas aplicações devem ser um legado a ser deixado para a população e a infraestrutura deve ser mantida”, diz. Na opinião de Cavalcanti, “o metrô é uma tecnologia imbatível quando se trata de grandes demandas. E, por este motivo, a existência dos maiores metrôs do Brasil, em São Paulo e no Rio, poderiam indicar, a priori, as cidades mais bem preparadas para movimentar tais demandas”, ressalta. “Cidades como Curitiba e Porto Alegre, que contam com sistemas de transporte urbano equilibrados e mais bem distribuídos, também são capazes de proporcionar um atendimento razoável”, acrescenta. 

Investimentos em tecnologia
 
Em médio e longo prazos são necessários investimentos para um gerenciamento do transporte e do trânsito mais inteligente. “Dispositivos de monitoramento e rastreamento da frota de ônibus, trens e metrôs e canais de comunicação com o usuário sobre horários, tempo de chegada e itinerário são algumas soluções”, cita Luiz Gustavo Campos. 

“Quanto à operação do trânsito é preciso destinar verbas para tecnologias em sistemas de semáforos que melhorem as condições de fluidez e em mecanismos para orientação de fluxo e de rotas alternativas, controle de vias de acesso e fiscalização”, completa.

 Site da Perkons