terça-feira, 26 de abril de 2016

Cidade inteligente é a cidade aberta


19/04/2016 -Gazeta do Povo
Fábio Duarte e Marcio Spinosa

Na Suécia, todos os doadores de sangue estão cadastrados em um banco de dados únicos. Quando há falta de sangue do tipo A em determinada região, os usuários recebem mensagem no celular pedindo que se dirijam a qualquer centro de doação – às vezes com mensagens bem humoradas, como: “Vamos lhe enviar mensagens até que você sangre”. As lojas locais também entraram no espírito: na falta de sangue A, essa letra deixa de ser iluminada ou é coberta dos letreiros. Se alguém vir algo como LJS MERICNS, sabe que a falta de sangue A é grave na região. E quando o sangue do doador é usado em uma transfusão, ele recebe outra mensagem: “seu sangue salvou uma vida”.
Este exemplo serve para mostrar como alguns aspectos das chamadas smart cities ou cidades inteligentes podem fazer a diferença no dia a dia dos centros urbanos. Primeiro, a integração de bancos de dados, com o sistema de saúde tendo todas as informações do usuário, incluindo o desejo dele de ser doador, compartilhadas. Segundo, com o compartilhamento dos dados entre os entes públicos de uma mesma cidade. No caso de uma campanha de doação de sangue, por exemplo, por meio de um único cartão municipal, seria possível oferecer ao doador uma passagem de ônibus grátis e até mesmo uma entrada livre aos museus da cidade, com contrapartida pela sua boa ação. Um terceiro, e talvez o mais importante, aspecto, é a transparência dos dados. Esse banco de dados integrado e liberado para qualquer pessoa estimularia outras pessoas interessadas em programação e design de informação a desenvolver aplicativos e outras soluções. As prefeituras e órgãos públicos se surpreenderiam com a vontade das pessoas em ajudar a melhorar os serviços públicos.
O desafio está em construir um esforço conjunto entre o setor público, as empresas e as instituições de pesquisa, em prol da valorização do conhecimento e da inovação, não apenas tecnológica, mas social. Como ambientes inovadores e propícios ao empreendedorismo e ao surgimento de empresas tecnológicas (startups), as cidades inteligentes também devem ser um espaço de dados abertos.
Se na pequena escala a cada vez que passamos o cartão-transporte a prefeitura sabe que ônibus tomamos e onde; na grande escala, dentro de uma concessão como o serviço de telefonia, seria possível saber e divulgar o volume de chamadas feitas em cada região de uma cidade. É justamente com a abertura completa dos dados que as cidades engajam pesquisadores e desenvolvedores de programas, profissionais e amadores. É neste engajamento coletivo que as cidades se tornam inteligentes – não na clausura de institutos de pesquisa.
Um cidadão participativo e com capacidade de interagir mais efetivamente com seu habitat é a chave para uma cidade inteligente. Desta sinergia social e tecnológica emerge a tão valorizada inteligência que se transforma em ações de desenvolvimento urbano.
Fábio Duarte e Marcio Spinosa, professores do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da PUCPR