Folha de São Paulo - 14/06/2011
Foram 61 mortes em 2009 e 49 no ano passado, diz a CET; para especialistas, apesar da queda, número é preocupante. Segundo eles, cidade de São Paulo não oferece as condições propícias para quem prefere transitar de bicicleta
No ano passado, houve 49 mortes; em 2009, foram 61. Ainda não há dados deste ano. A CET atribui a redução de 19,7% no número de mortes à Ciclofaixa de Lazer, implantada em agosto de 2009.
Enquanto isso, a quantidade de ciclistas nas ruas da capital mostra tendência de alta: segundo pesquisa do Metrô, em 2007 (dado mais recente) foram 305 mil viagens diárias de bicicletas, ante 162 mil dez anos antes.
Para o cicloativista Willian Cruz, as mortes no trânsito vêm caindo porque há cada vez mais ciclistas nas ruas e os motoristas estão se acostumando. Mesmo assim, o número ainda é preocupante, dizem especialistas.
O engenheiro Ailton Brasiliense avalia que a quantidade de ciclistas mortos por ano na cidade de São Paulo é "absurda", mas que a condição de vulnerabilidade dos pedestres é ainda "mais grave". Em 2010, 630 pessoas morreram atropeladas na capital.
Presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Brasiliense afirma ser contra incentivar a população a andar de bicicleta pelas vias paulistanas.
"Não temos cultura, topografia nem via específica para isso. Em parte da Europa há uma condição diferente."
O ciclista Antonio Bertolucci, de 68 anos, morreu nesta segunda-feira após ser atropelado por um ônibus em uma alça de acesso à avenida Sumaré, na zona oeste de São Paulo. Bertoucci era presidente do Conselho de Administração do Grupo Lorenzetti, fabricante de duchas e chuveiros. O ciclista chegou a ser levado para o Hospital das Clínicas, mas morreu logo após dar entrada. O acidente ocorreu quando o ciclista passava ao lado da praça Caetano Fraccaroli, que dá acesso à avenida. Segundo relatos de testemunhas, Bertolucci teria perdido o equilíbrio e caído no chão.
Em 2009, houve seis ciclistas mortos em Copenhague (Dinamarca), onde 1 milhão de pessoas utilizam esse meio de transporte.
O engenheiro avalia que, antes de haver vias específicas para bicicletas, também seria necessária uma transformação cultural, incluindo a formação dos motoristas e também dos ciclistas.
"Ser um ciclista ou motociclista é muito mais do que botar um veículo em movimento. Tem que ter total percepção da via, das pessoas circulando, das condições de iluminação. Ninguém é habilitado para isso", afirma.
"A gente não foi aculturado a conviver com a bicicleta e a tomar os devidos cuidados. Às vezes o motorista nem percebe, a bicicleta pode estar no ponto cego", diz o consultor em engenharia de tráfego Horácio Figueira.
É seguro sim pedalar por SP, diz cicloativista
Willian Cruz, cicloativista e autor do site Vá de Bike, afirma que os acidentes com ciclistas ocorrem por desrespeito dos motoristas. (CMC)
Folha - É possível andar de bicicleta em São Paulo?
Willian Cruz - É seguro pedalar desde que você saiba se portar na rua e escolher seu caminho.
A morte de ciclistas é mais uma questão de fatalidade?
A maioria dos acidentes é por desrespeito ao Código de Trânsito, que exige passar a 1,5 m do ciclista na ultrapassagem. Falta conhecer a lei. O ciclista deve saber que tem direito de usar a rua e deve ir no sentido dos carros.
E o poder público?
A gente é tratado como clandestino. Há poucas ciclovias e espera-se que o ciclista trafegue só ali. Só que não tem ciclovia da porta da minha casa até a porta do trabalho, nem vai ter. O poder público tem de estimular esse compartilhamento da via, com sinalização.
É preciso redefinir espaços, afirma especialista
Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego e transporte, defende a redefinição do viário.
Folha - É possível andar de bicicleta em São Paulo?
Horácio Figueira - Precisamos redefinir o uso do espaço viário. Primeiro do pedestre, depois corredores de ônibus, depois bicicletas -e, no que sobrar, automóvel, moto etc. É uma decisão política. Colocar incentivo pra bicicleta sem que tenha espaço adequado e sinalização é jogar o cristão na cova dos leões.
O que priorizar?
Corredor de ônibus, porque ciclovia nunca vai transportar 15 mil pessoas/ hora por sentido. Bicicletas são meio de transporte ótimo para o ambiente e têm que ter um outro espaço viário. [Esse espaço] precisa sair do automóvel, não do ônibus. Parte das pessoas não quer andar nem de ônibus nem de carro, trocou por moto ou bicicleta, numa decisão consciente.
Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT
Foram 61 mortes em 2009 e 49 no ano passado, diz a CET; para especialistas, apesar da queda, número é preocupante. Segundo eles, cidade de São Paulo não oferece as condições propícias para quem prefere transitar de bicicleta
No ano passado, houve 49 mortes; em 2009, foram 61. Ainda não há dados deste ano. A CET atribui a redução de 19,7% no número de mortes à Ciclofaixa de Lazer, implantada em agosto de 2009.
Enquanto isso, a quantidade de ciclistas nas ruas da capital mostra tendência de alta: segundo pesquisa do Metrô, em 2007 (dado mais recente) foram 305 mil viagens diárias de bicicletas, ante 162 mil dez anos antes.
Para o cicloativista Willian Cruz, as mortes no trânsito vêm caindo porque há cada vez mais ciclistas nas ruas e os motoristas estão se acostumando. Mesmo assim, o número ainda é preocupante, dizem especialistas.
O engenheiro Ailton Brasiliense avalia que a quantidade de ciclistas mortos por ano na cidade de São Paulo é "absurda", mas que a condição de vulnerabilidade dos pedestres é ainda "mais grave". Em 2010, 630 pessoas morreram atropeladas na capital.
Presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Brasiliense afirma ser contra incentivar a população a andar de bicicleta pelas vias paulistanas.
"Não temos cultura, topografia nem via específica para isso. Em parte da Europa há uma condição diferente."
O ciclista Antonio Bertolucci, de 68 anos, morreu nesta segunda-feira após ser atropelado por um ônibus em uma alça de acesso à avenida Sumaré, na zona oeste de São Paulo. Bertoucci era presidente do Conselho de Administração do Grupo Lorenzetti, fabricante de duchas e chuveiros. O ciclista chegou a ser levado para o Hospital das Clínicas, mas morreu logo após dar entrada. O acidente ocorreu quando o ciclista passava ao lado da praça Caetano Fraccaroli, que dá acesso à avenida. Segundo relatos de testemunhas, Bertolucci teria perdido o equilíbrio e caído no chão.
Em 2009, houve seis ciclistas mortos em Copenhague (Dinamarca), onde 1 milhão de pessoas utilizam esse meio de transporte.
O engenheiro avalia que, antes de haver vias específicas para bicicletas, também seria necessária uma transformação cultural, incluindo a formação dos motoristas e também dos ciclistas.
"Ser um ciclista ou motociclista é muito mais do que botar um veículo em movimento. Tem que ter total percepção da via, das pessoas circulando, das condições de iluminação. Ninguém é habilitado para isso", afirma.
"A gente não foi aculturado a conviver com a bicicleta e a tomar os devidos cuidados. Às vezes o motorista nem percebe, a bicicleta pode estar no ponto cego", diz o consultor em engenharia de tráfego Horácio Figueira.
É seguro sim pedalar por SP, diz cicloativista
Willian Cruz, cicloativista e autor do site Vá de Bike, afirma que os acidentes com ciclistas ocorrem por desrespeito dos motoristas. (CMC)
Folha - É possível andar de bicicleta em São Paulo?
Willian Cruz - É seguro pedalar desde que você saiba se portar na rua e escolher seu caminho.
A morte de ciclistas é mais uma questão de fatalidade?
A maioria dos acidentes é por desrespeito ao Código de Trânsito, que exige passar a 1,5 m do ciclista na ultrapassagem. Falta conhecer a lei. O ciclista deve saber que tem direito de usar a rua e deve ir no sentido dos carros.
E o poder público?
A gente é tratado como clandestino. Há poucas ciclovias e espera-se que o ciclista trafegue só ali. Só que não tem ciclovia da porta da minha casa até a porta do trabalho, nem vai ter. O poder público tem de estimular esse compartilhamento da via, com sinalização.
É preciso redefinir espaços, afirma especialista
Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego e transporte, defende a redefinição do viário.
Folha - É possível andar de bicicleta em São Paulo?
Horácio Figueira - Precisamos redefinir o uso do espaço viário. Primeiro do pedestre, depois corredores de ônibus, depois bicicletas -e, no que sobrar, automóvel, moto etc. É uma decisão política. Colocar incentivo pra bicicleta sem que tenha espaço adequado e sinalização é jogar o cristão na cova dos leões.
O que priorizar?
Corredor de ônibus, porque ciclovia nunca vai transportar 15 mil pessoas/ hora por sentido. Bicicletas são meio de transporte ótimo para o ambiente e têm que ter um outro espaço viário. [Esse espaço] precisa sair do automóvel, não do ônibus. Parte das pessoas não quer andar nem de ônibus nem de carro, trocou por moto ou bicicleta, numa decisão consciente.
Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT