Bill Ford - The Wall Street Journal
Durante os últimos dez anos, a indústria automobilística
emergiu de um dos períodos mais desafiadores pelo qual já passamos e, agora,
está entrando num dos momentos mais emocionantes e promissores da nossa
história. Ainda mais relevante, porém, é o nosso foco no futuro, que será
definido por uma tendência importante: o automóvel como parte de um ecossistema
mais amplo. Isso requer uma mudança de visão: precisamos deixar de considerar o
carro um objeto individual para vê-lo como parte de nossa rede de transportes.
Requer também uma mudança fundamental na forma como pensamos
sobre o transporte. Os clientes hoje têm prioridades extremamente diversas, e
devemos abraçar essas diferenças à medida que projetamos e vendemos automóveis.
Os fatos que sustentam essa tendência são convincentes. Com o crescimento da
população global e da riqueza, o número de veículos em circulação pode
ultrapassar dois bilhões até meados deste século. Combine isso com o contínuo
deslocamento da população em direção às cidades - a projeção é que 54% da
população mundial viva em cidades até 2050 - e fica evidente que o nosso modelo
de transporte atual não é sustentável. Nossa infraestrutura não pode suportar
um grande volume de veículos sem criar congestionamentos enormes, com graves
consequências para o meio ambiente, a saúde, o progresso econômico e a
qualidade de vida. A boa notícia é que esse cenário não é inevitável e alguns
especialistas dizem que esse desafio representa uma oportunidade de negócio de
US$ 130 bilhões para o mercado automobilístico.
Algumas soluções já estão em andamento para desenvolver
veículos mais eficientes em termos de espaço, com motores limpos movidos a gás
ou fontes de energia alternativa. Outras respostas, porém, exigirão uma mudança
radical no que significa ser um fabricante de automóveis. Não importa o quanto
ecológicos e eficientes sejam os veículos, nós simplesmente não podemos
depender da venda de uma quantia cada vez maior deles na forma como funcionam
hoje. Os carros terão de ser mais inteligentes e mais integrados ao sistema de
transporte em geral. Empresas preocupadas com o futuro vão redefinir seus
modelos de negócios e deixar de ser apenas fabricantes de automóveis e
caminhões para se tornarem empresas de mobilidade pessoal. Vamos pensar de
forma mais inteligente sobre como os veículos que construímos interagem uns com
os outros e com a infraestrutura de uma cidade, que inclui trens, passarelas de
pedestres, ônibus, bicicletas e tudo o mais que nos ajuda a nos locomover nos
centros urbanos.
A rápida evolução das preferências de proprietários de
carros, incluindo uma ênfase cada vez maior na conectividade, vai redefinir os
tipos de veículos que levamos ao mercado, os recursos nos quais nos
concentramos e em como os veículos são comercializados e utilizados. A ascensão
de empresas como Lyft, Uber, EasyTaxi e Zipcar é uma prova de que nem sempre a
propriedade individual é a maneira mais econômica para obter acesso a um
veículo, principalmente para os clientes urbanos. A propriedade individual
também pode não ser o principal modelo de propriedade de veículos no futuro.
Resta saber como isso afetará o atual modelo de vendas de automóveis.
Os carros do futuro serão plataformas de comunicações móveis
que conversarão uns com os outros e com o mundo ao redor de forma a tornar o
ato de dirigir mais seguro e eficiente. Eles serão integrados ao ecossistema de
transporte de modo a otimizar todo o sistema, com um software que permita que
os proprietários personalizem cada vez mais seus recursos e funções. Já estamos
nos estágios iniciais dessa transformação, com comunicação sem fio, sistemas de
informação e entretenimento e funções limitadas para automatizar as tarefas de
dirigir e estacionar. Alumínio e aço de alta resistência vão evoluir como os
materiais que servem de espinha dorsal para a indústria.
A fibra de carbono passará do exótico reino dos carros de
corrida de milhões de dólares para carros menores. Isso vai exigir uma revisão
de todo o ciclo de vida da cadeia de suprimento. Precisaremos também repensar o
ato de dirigir. Carros que se deslocam sem motorista serão possíveis. Já
estamos vendo, nos carros, sinais dessa [iniciativa para proporcionar uma]
condução mais segura e mais fácil. À medida que essas tecnologias se
desenvolvem, esperamos que elas prolonguem significativamente a vida útil dos
motoristas e ofereçam novas oportunidades para os deficientes físicos. Alguns
empresários estão estendendo ainda mais os limites ao explorar a viabilidade de
carros que voam. Embora sejam necessárias mudanças regulatórias substanciais
para que eles se tornem viáveis, esses experimentos oferecem uma ideia de como
seria a mobilidade no futuro. Tudo isso serve de pano de fundo para a forma
como pensamos sobre a Ford Motor Co. hoje. Henry Ford redefiniu a mobilidade
para pessoas comuns e temos a oportunidade de fazer o mesmo agora. Nos próximos
20 anos, veremos uma transformação radical da nossa indústria, que apresentará
muitas novas formas de garantir que o sonho de meu bisavô de abrir as estradas
para toda a humanidade permanecerá vivo no século XXI e além.
Exame
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