sábado, 14 de junho de 2014

Frota de veículos no País aumentou as emissões de gases de efeito estufa


O ARTICULISTA DO BLOG "PONTO DE ÔNIBUS", ADAMO BAZANI, SUPEROU COM ESSA ÓTIMA MATÉRIA SOBRE OS AUTOMÓVEIS, O MEIO AMBIENTE E O PAPEL SUSTENTÁVEL DO TRANSPORTE PÚBLICO. MDT PARABENIZA!


Adamo Bazani


O crescimento da frota de veículos no Brasil fez com que as emissões de gases de efeito estufa registrassem um aumento.

De acordo com a mais recente edição do Inventário Nacional de Emissões por Veículos, divulgado nesta semana pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2012, os automóveis de passeio foram responsáveis por 38% do dióxido de carbono (CO2) jogado no ar em todo o País. Isso revela um aumento de 25% em relação a 2009, quando houve a primeira edição do inventário, e de 52% na comparação com 2002.

Já em relação ao monóxido de carbono (CO) e Óxido de Nitrogênio (NOx), houve queda nas emissões, mesmo com o aumento da frota de veículos.

Em 2012, a frota nacional de veículos, contando com carros, caminhões, ônibus e motos, era de 48,7 milhões de automóveis. Em 2009, a frota era de 38,4 milhões de veículos. Mesmo assim, a queda de emissões de CO – monóxido de carbono foi de 16% na comparação entre 2009 e 2012.

Já comparando 2002 e 2012, a redução de NOx - Óxido de Nitrogênio foi de 12,9%.

Mesmo com esta redução nas emissões de poluentes, o Inventário diz que é preocupante o excesso de veículos, principalmente de passeio, nas médias e grandes cidades.

O relatório é bastante claro ao apontar os investimentos nos transportes públicos como solução sólida para que os níveis de poluição não ameacem ainda mais a qualidade de vida nas cidades.

Estes investimentos devem contemplar posições firmes de cada governo local em fazer escolhas.

Nem sempre será possível compatibilizar a grande quantidade de carros com o transporte público no espaço urbano.

Mesmo que possa haver reclamações de pessoas que estão acostumadas a só usar o transporte individual ou comerciantes que se beneficiam das áreas de estacionamentos ao longo das vias, se o poder público quiser de fato combater a degradação da saúde e da qualidade de vida em geral causada pela poluição, deve criar mecanismos que restrinjam o uso do transporte individual.

Mas seria uma grande injustiça do poder público restringir o uso do veículo de passeio sem oferecer um transporte coletivo de qualidade.

Para isso, deve atuar em diversas frentes.

Algumas delas:

- Reformular os conceitos de cidade. Deve haver uma descentralização de onde há geração de emprego e renda. As oportunidades precisam ficar mais próximas de onde as pessoas residem para diminuir os deslocamentos.

- Elaborar malhas de transportes públicos interligados. E isso deve ser feito de acordo com as condições financeiras das cidades, que hoje não são as melhores. E quando se fala em malhas de transportes, é necessário pensar na capilaridade dos serviços, ou seja, fazer com que o transporte público eficiente atenda a cada vez mais lugares. Os corredores de ônibus do tipo BRT – Bus Rapid Transit – são essenciais neste processo. Em comparação ao metrô e outros modais os corredores de ônibus são dez mais rápidos para a implantação e de cinco a vinte vezes mais baratos. Serviços troncais de alta demanda, como o Metrô, são essenciais. No entanto, um erro muito comum, mas que rende bons discursos políticos, é elaborar apenas projetos de linhas troncais de transportes. Isso resulta em excesso de pessoas transportadas sem conforto em linhas de metrô superlotadas. As linhas troncais devem existir, claro. Entretanto, sistemas de média capacidade que atendam a uma área maior podem evitar a saturação das linhas troncais em pouco tempo. Sendo assim, vários sistemas de média capacidade atendem de forma mais barata e eficiente a mesma quantidade de pessoas (ou até mais) que hoje são praticamente confinadas nos serviços de alta capacidade.

- Atuar na questão cultural para mudança de hábitos: o culto ao carro é algo arraigado na sociedade brasileira. Ainda hoje, o carro é sinônimo de status e crescimento social ao mesmo tempo que o transporte coletivo ainda é apregoado como sinônimo de pobreza. Por mais que o transporte público seja eficiente, muita gente ainda se sentiria "um cidadão menor” ao pegar um ônibus, trem ou metrô. Esse paradigma deve ser quebrado. No entanto, enquanto o próprio Governo Federal ou líderes de partidos continuarem ligando elevação social ao fato de ter carro, essa missão talvez será até mais difícil que implantar metrôs ou corredores de ônibus.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes