terça-feira, 24 de setembro de 2013

A revolução das cidades



O fato é que centros urbanos tendem a ser mais "verdes" que subúrbios. A ilha de Manhattan, com todos aqueles prédios, é considerada um dos lugares mais verdes dos EUA: lá, só 25% das famílias têm carro, por exemplo, contra 92% no resto do país. Sim, as cidades venceram e podem ser mais ecologicamente corretas do que o senso comum imagina. Mas, claro: ainda existe muito o que corrigir. Os problemas você conhece: trânsito, sujeira, poluição.

Mas as metrópoles também contêm as soluções para estas questões. A seguir, você vai conhecer um dos quatro projetos que vão revolucionar as cidades - Hidroanel de São Paulo.  Em 2013, apresentaremos os outros três:
- Energia esperta em um estádio de futebol na Bahia, que será centro de treinamento durante a Copa;
- Soluções em duas rodas em São Paulo e Rio de Janeiro, que se inspiraram na Europa;
- Da terra para os telhados: a tendência mundial de hortas urbanas aproxima as cidades das plantações.

Tem muita gente atuando em áreas tão diferentes e representando grupos tão diversos, mas todos têm algo em comum: acreditam nas metrópoles e não querem fugir delas. Em vez disso, estão tentando revolucionar as cidades onde vivem. E o melhor: estão conseguindo.

HIDROANEL
Os rios da maior cidade do Brasil são mais do que um esgoto: podem revolucionar o trânsito, a coleta de lixo e a qualidade de vida da metrópole

Trânsito e lixo. Esses dois agentes são a dor de cabeça de qualquer cidade grande desde o Império Romano. Em São Paulo, então, a dor é muito mais aguda. Considerando que a frota de carros na capital só cresce (foram de 1 milhão para 7 milhões dos anos 70 para cá) e que a velocidade média dos veículos no trânsito só cai (indo de 27 km/h para 17 km/h nesse meio tempo), o problema parece sem solução. Mas só parece. Um grupo de pesquisadores da USP tem um projeto para colocar ordem neste caos. E a resposta vem do lugar mais improvável: os rios da cidade.
Vivemos no século em que as cidades venceram. Pela primeira vez na história, existe mais gente vivendo entre prédios e avenidas do que entre pastos e animais. Em 2008, os moradores de metrópoles viraram mais da metade da população do planeta. E, em 2011, cidades americanas cresceram mais do que os subúrbios pela primeira vez desde 1920.
REFORMA HIDROGRÁFICA Conheça uma São Paulo possível: avenidas fluviais, reciclagem em massa e mais áreas verdes

O Hidroanel Metropolitano pretende resolver São Paulo em dois momentos. O primeiro envolve a construção de uma série de portos na borda dos rios e das represas que circundam a cidade. Eles serviriam para receber a quantidade enorme de sujeira produzida pela metrópole. Desde os saquinhos que os moradores colocam na porta de casa até a terra e o entulho de construções e demolições. Passando por outros dejetos, como a sujeira retirada dos córregos e das estações de tratamento. Estas cargas seriam levadas para os portos de caminhão mesmo.

Mas existe uma diferença importante. Com a construção dos portos para recebimento do lixo, as distâncias percorridas pelos veículos de carga seriam encurtadas de 30 km para apenas 8 km em média. Sem precisar atravessar a cidade, eles desafogariam o trânsito. Os barcos que esperam a sujeira atracados nos portos serviriam para percorrer o resto do caminho. Enquanto cada caminhão transporta apenas oito toneladas, um barco consegue movimentar 400 toneladas. Mas para onde estes barcos iriam? Este é o segundo passo. O Hidroanel Metropolitano prevê um enorme círculo de água em volta da cidade. Ele contaria com os dois rios e as duas represas que cortam a borda de São Paulo, mais um canal artificial ligando as pontas soltas.

Além dos portos, existiriam três centros de processamento de lixo prontos para receber 800 toneladas de lixo por hora. E todas aquelas cargas públicas - que saíram das ruas, percorreram os rios e chegaram aos centros - seriam recicladas, transformadas em matéria-prima novamente. "O Hidroanel constitui uma infraestrutura de saneamento, mobilidade e transporte, que tem como espinha dorsal o canal navegável. Ele serve também como um arco irradiador de desenvolvimento", resume Alexandre Delijaicov, professor da USP e um dos responsáveis pelo projeto.

Contando com a iniciativa dos governos que se sucedem na capital, ele poderia ficar pronto até 2045. E, mesmo grandioso, começa a virar realidade: já está planejada uma construção no rio Tietê que aumentaria em 14 quilômetros o trecho em que ele pode ser navegado, possibilitando que os barcos trafeguem por um trecho maior e iniciando a construção do círculo de águas. Nada mal para uma cidade que há décadas só vê seus rios como esgotos a céu aberto.