quarta-feira, 25 de julho de 2012

França educa e pune para reduzir mortes em acidentes

Em 1972, a França apresentava um índice de 18 mil mortes no trânsito por ano.

    A experiência da França sobre a construção de uma política de segurança viária que conseguiu reduzir significativamente, nos últimos 40 anos, o número de mortes no tráfego, foi um dos temas desta quinta-feira no Congresso Internacional de Trânsito.  Durante o evento no BarraShoppingSul, em Porto Alegre, Joël Valmain, conselheiro-técnico para a segurança viária do Ministério do Interior francês, afirmou que a maneira mais eficaz de melhorar as estatísticas são a educação e a punição. Na ocasião, foi assinado um termo de cooperação entre o país e o Estado para a troca de experiências na área.    
    Em 1972, a França apresentava um índice de 18 mil mortes no trânsito por ano. Hoje, o número caiu para quatro mil, mesmo com o constante aumento no tráfego. Segundo Valmain, diversas ações foram feitas, sendo que a mais efetiva aconteceu em 2002, quando o então presidente Jacques Chirac colocou no centro do seu governo a segurança viária, envolvendo diversos setores da administração. ''De 2002 até hoje, reduzimos pela metade o número de mortes. Isso foi possível com a criação de uma delegação interministerial, pois o tema envolve diversos fatores'', explica o técnico.
    O país atua em diversas vertentes com um mesmo objetivo. O Ministério da Educação trabalha com crianças e jovens na conscientização da responsabilidade no trânsito. O Ministério do Trabalho francês se comunica com as empresas, mostrando aos empregadores que investir na segurança dos funcionários, em relação aos meios de transporte, é rentável, trazendo economia para as instituições. Além disso, o Ministério da Saúde informa regularmente o número de mortos e feridos em acidentes.
    A França criou também um observatório viário que colhe diversos dados relacionados ao trânsito, que serão posteriormente analisados e resultarão na construção de ações adequadas para os problemas. ''Nós atuamos em âmbito nacional, mas isso pode funcionar de maneira regional, como é o caso do Brasil - desde que se coloque em cada estado um coordenador, pois o trabalho funciona em conjunto'', afirmou Valmain. De acordo com ele, é imprescindível que se saiba em detalhes o que provoca os acidentes e, também, ter uma noção de como é o trafego de cada local. É importante ainda que as autoridades saibam quais são os horários mais problemáticos e a faixa etária que mais é suscetível a acidentes, para que, a partir destas especificidades, as decisões sejam tomadas.
    Utilizando este método, a França conseguiu detectar que 21% das mortes no trânsito eram de jovens entre 18 e 24 anos. Também constatou que 30% dos mortos eram motoristas embriagados. A partir disso, estabeleceu a obrigatoriedade de realização do teste do etilômetro na saída das casas noturnas, para que as pessoas saibam se estão em condições de dirigir.
    Outra ação foi intensificar entre as crianças e, principalmente, entre os adolescentes, a educação para a segurança viária. Segundo Valmain, a prevenção é fundamental, mas ela precisa ser feita de maneira explicativa. ''O limite de velocidade é 50 quilômetros por hora. Para que se respeite, eu tenho que informar que esse é o limite para que se consiga frear instantaneamente e parar o carro. Assim, se tiver um pedestre na frente, eu não vou atropelá-lo'', ressalta.
    Para que essas ações sejam mantidas, todos os anos é realizado um balanço aprofundado sobre a situação viária. O próximo foco de atuação na França será voltado para os motociclistas, que têm grandes índices de mortalidade.
    O vice-governador do Estado, Beto Grill, que participou da palestra, afirmou que a troca de experiências com a França vai permitir que o Estado cresça em relação à segurança no trânsito. ''O que foi dito mostra a necessidade de inovação e de tecnologia para mudar a situação. Além disso, é importante focar em ações de comportamento e na certeza da punição'', disse. Grill ressaltou que a situação do Brasil é ''inquietante'', pois o índice de mortes no trânsito é de 200 para cada milhão de habitantes.

Jornal do Comércio