quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O custo do trânsito

Folha de São Paulo
A Fundação Getúlio Vargas estima em mais de R$ 50 bilhões/ano o custo do trânsito em São Paulo. É o custo dos congestionamentos.
Segundo o estudo este custo tem dobrado a cada 4 anos.
Ele se divide em dois tipos: o custo de oportunidade e os dispêndios monetários causados pela lentidão.
O primeiro trata do uso alternativo do tempo. O que as pessoas poderiam produzir nesse tempo perdido no trânsito. O segundo afere os custos adicionais de combustíveis, transportes de mercadorias e emissão de poluentes, que impacta na saúde da população.
Fora o custo não mensurável do desgaste de todos nós na angústia durante os deslocamentos. E tudo o que se deixa de fazer, principalmente relacionado ao lazer, para evitar o trânsito.
De 1990 a 2007 a população da cidade cresceu 14% e a frota de veículos 74%.
Entre 2003 e 2008 entraram em circulação 683 novos veículos por dia.
O problema é de grande monta e não afeta só a população da cidade.
Conforme o estudo, a cidade de São Paulo representa mais de 12% do PIB do Brasil e participa com 63% do valor agregado no setor de serviços e 39% no industrial. O dano atinge o Estado e a União.
Para grandes problemas só grandes soluções. Não dá mais para ficar assistindo o problema se agravar imaginando que só novas linhas de metrô ou corredores de ônibus equacionarão o trânsito.
A resposta tem que ser grandiosa e ousada. E não virá da noite para o dia. É um conjunto de medidas muito fortes e um intervalo de tempo razoável, em torno de 8 anos.
Não adianta se acreditar em solução mágica.
Mas, se não começar, só vai piorar. Se o problema não for atacado de modo veemente, desde já, o horizonte esperado de alívio, de um trânsito razoável, se estenderá dramaticamente.
E começa pela redução da demanda. De forma estrutural e não com medidas paliativas conjunturais como a restrição a caminhões nas marginais.

Gabriela Carvalho

A medida principal é emprego fora do centro expandido. Principalmente na extrema periferia. Que não virá com o incentivo pela redução de impostos. Mas com a rápida e eficaz implantação da economia criativa.
Mesmo ampliando a rede de metrô não se escapa da restrição ao carro. A princípio através da construção de uma rede de estacionamentos subterrâneos ou em prédios. Libera, de imediato, muitos quilômetros de via para a ocupação por corredores de ônibus.
A implantação de uma Zona Verde no centro. Veículos que não poluem entram gratuitamente, os que poluem pouco, dentro do aceitável, pagam uma pequena taxa e os que poluem muito, não entram.
Mais à frente, com a rede de trilhos e corredores de ônibus ampliados , o centro da cidade poderia restringir mais as viagens de carro.
Não há saída sem restringir o carro de alguma forma. Com este número de veículos entrando em circulação não há metrô e ônibus que deem conta. É uma questão de ocupação de espaço. A cidade tem que optar.
E tem a ampliação da oferta.
O óbvio aumento da rede sobre trilhos e, sobretudo, a diminuição dos intervalos entre os trens para transportar mais gente por hora.
A sintonia entre novos empreendimentos imobiliários e oferta de empregos. O adensamento de áreas centrais.
A implantação de um sistema cicloviário e a integração de terminais sob o mesmo teto. Com táxis, ônibus, bicicletas e , quando for o caso , metrô.
Melhoria das calçadas para estimular o deslocamento a pé.
Não é pouca coisa. Tem que ser um plano integrado.
Mas, se não for algo desse porte, não há solução. Continuaremos a sofrer as perdas:
- de qualidade de vida na cidade,
- de geração de emprego e renda com o tempo desperdiçado.
Vale a pena tentar. Tentar para valer.
José Luiz Portella José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras. Faz comentários no "RedeTVNews" e na rádio CBN.