segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Como melhorar a qualidade de vida nos grandes centros urbanos

Arte: Nazareno Affonso
Fonte: Portal da Copa
Um dos grandes desafios das cidades é o trânsito caótico e sistema de transporte público ineficiente. Uma pesquisa recente feita pela IBM, em 20 cidades do mundo inteiro, mostrou que o trânsito é uma das principais preocupações dos seus habitantes. O tempo de viagem em muitas das cidades mais importantes do mundo é um dos grandes motivos de insatisfação e stress, gerando imensas perdas em produtividade e qualidade de vida.




As seis cidades piores encontram-se nos países BRIC ou em desenvolvimento, como Beijing, Cidade do México, Johanesburgo, Moscou, Nova Deli e São Paulo. O rápido crescimento econômico dos países em desenvolvimento não foi acompanhado pela evolução da infraestrutura urbana e o resultado é um trânsito caótico. Por exemplo, somente nos quatro primeiros meses de 2010 Beijing registrou 248.000 novos veículos, na Cidade do México são emplacados 200 mil novos veículos por ano e em São Paulo emplaca-se mais de 1 mil veículos por dia.



Claramente que as soluções tradicionais, como construir mais avenidas e viadutos, está chegando ao seu limite. Não há mais espaço e nem tempo para longas intervenções urbanas, de modo que temos que buscar novas e inovadoras soluções.



A crescente disseminação da tecnologia está permitindo instrumentar e conectar objetos, possibilitando a convergência entre o mundo digital e físico da infraestrutura urbana. Com uma infraestrutura instrumentada e conectada podemos pensar em um sistema de transporte mais inteligente, conhecido como ITS (Intelligent Transport Systems).



O conceito do ITS baseia-se na aplicação de tecnologias inovadoras para coletar mais e melhores dados, analisá-los de forma mais rápida e inteligente e conectá-los através de redes mais eficientes para ações e decisões mais ágeis e eficazes. Uma mobilidade urbana mais eficiente é crucial para a competitividade econômica de uma cidade. Alguns estudos apontam que congestionamentos intensos custam entre 1% a 3% do PIB das cidades.



Embora as consequências do congestionamento sejam similares, as suas causas e soluções são diferentes entre as cidades do mundo. Não se pode aplicar de forma automática uma solução que tenha sido bem sucedida em uma cidade em outra. Por exemplo, em Amsterdam mais de 50% das viagens dos cidadãos são feitas a pé ou de bicicleta. Já em Chicago, 90% da movimentação é por carros particulares. Nas cidades dos países desenvolvidos a infraestrutura já existe e é necessária sua modernização. Na Europa o transporte público é o principal meio de mobilidade, enquanto que em muitas cidades dos EUA o carro é o principal meio.



Mas, como chegar a um sistema inteligente de transporte?



É um processo de evolução gradual, que passa pelo próprio nível de maturidade dos modelos de governança e gestão de transporte das cidades. O modelo chamado Intelligent Transport Maturity Model permite situar uma cidade em um determinado nível de maturidade e ajudar a desenhar os próximos passos.



Por exemplo, analisando a vertente governança podemos classificar uma cidade em diversos níveis, do mais baixo - onde o planejamento de cada modal de transporte é feito de forma independente, sem coordenação com os demais - até níveis mais avançados. À medida em que evoluímos nos níveis de maturidade, começamos a instituir a figura da Autoridade de Transporte, que tem a visão integrada e multimodal, chegando até ao planejamento regional, o que permitiria a integração com os transportes das cidades vizinhas.



Se olharmos a vertente de serviços oferecidos, vemos que nos níveis mais baixos de maturidade não existe a figura do “bilhete único” e portanto cada meio de transporte é pago separadamente. Nos níveis mais avançados chegamos a integração multimodal, onde o mesmo pagamento serve para qualquer modal de transporte e as formas de pagamento são variadas, inclusive via celular. Ainda nesse nível, o sistema de transporte oferece serviços completos de informação, que orientam a viagem de forma multimodal, ou seja, indicam qual o melhor meio para se deslocar de um ponto a outro, inclusive com alertas em tempo real de eventuais interrupções ou atrasos nos serviços.
Como cada cidade está em um determinado patamar e as prioridades também são diferentes, deve-se desenhar um caminho próprio de evolução. Os passos básicos para implementação de um modelo de transporte inteligente passam por:



Desenvolver uma estratégia abrangente de transporte. O planejamento da mobilidade urbana deve ser holístico e envolver todos os modais e os aspectos econômicos da cidade e deve estar plenamente alinhado com o Plano Diretor da Cidade. A estratégia deve considerar a possibilidade de usar tecnologias inovadoras que podem transformar a maneira de pensar na gestão do transporte atualmente. O planejamento deve ser a longo prazo. Por exemplo, em 2005, a Transport for London, a autoridade de transporte da cidade de Londres, desenvolveu uma estratégia focada 20 anos à frente, chamada “Transport 2025".


Adotar a visão do cidadão usuário do transporte público como um cliente, criando um “customer-centric approach”. Na maioria das cidades não existe a visão de cliente de transporte público, mas de usuário anônimo, com pouquíssimas informações sobre seus roteiros, desejos e necessidades. Identificar, analisar e compreender os padrões de demanda dos clientes é essencial para desenhar uma estratégia adequada de transporte público. Com estas informações pode-se criar serviços inovadores e inclusive meios para incentivar deslocamentos em outros horários, através de preços variados.

Implementar um sistema de mobilidade urbana integrada, que inclua não apenas o transporte público, mas o particular, como automóveis e bicicletas. O objetivo é fazer o cliente planejar sua jornada.

Gerenciar a implementação de forma efetiva. Um mecanismo de gestão eficiente, aliado a um sistema de comunicação e divulgação, que integre a sociedade no processo, é fundamental para o sucesso do projeto.

É indiscutível que as cidades precisam dar um salto quântico em seus sistemas de mobilidade urbana. A utilização de tecnologias é um passo essencial para modernizarem seus modelos de governança e gestão do transporte público.

postado por: Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT