quarta-feira, 13 de maio de 2015

EDITORIAL DA REVISTA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS - NÚMERO 139

Nada será como antes, mas tem tudo para ser melhor

Grandes cidades do mundo buscam se adaptar ao uso cada vez mais massivo de meios de locomoção alternativos. Isso inclui desde a adoção de políticas com foco em energia limpa, até projetos ousados de compartilhamento do espaço público. Cidades como Paris, Londres e Nova York estão paulatinamente fechando suas ruas aos carros, o que requer uma alteração vigorosa nos usos e costumes das pessoas. Ao longo do tempo construímos nossas cidades para atender às necessidades ditadas por hábitos que então simbolizavam o progresso e a modernidade, encarnados principalmente no uso livre e extensivo do automóvel. Pois essas escolhas, antes aparentemente revolucionárias, representam hoje a vanguarda do atraso.
Melhorar a vida das cidades compreende uma gama enorme de ações, vinculadas a benefícios palpáveis para seus moradores. É um leque que abrange desde a melhoria das condições de saúde pública, a mobilidade urbana como qualificação necessária do tecido urbano, até um incremento significativo das condições ambientais. O resultado são cidades melhores que se tornam mais produtivas e economicamente viáveis, o extremo oposto da realidade que ainda vivenciamos nas metrópoles brasileiras.
No Brasil a toada não tem sido diferente, apenas modulada num ritmo menos frenético do que gostaríamos. Se por aqui as ações do estado e dos gestores públicos ainda são tímidas em muitos casos – graças em boa parte às reações dos que não admitem perder privilégios –, a boa notícia é que do lado da sociedade pode-se observar uma mobilização crescente e organizada por melhorias urbanas em diversos níveis. Discutir transporte público, o que até outro dia restringia-se a questões específicas como valor da tarifa, modos de locomoção, questões de trânsito, etc., hoje requer não só várias formas de abordagem, como ainda uma compreensão mais global do significado das cidades a partir da vida de seus moradores. Ou seja, a pauta da mobilidade humana foi esgarçada pela ação da sociedade, que percebeu não sem tempo que precisa e quer participar dos destinos dos locais onde moram e trabalham.
Se em 2013 a pauta do setor parecia presa a movimentos que lutavam por redução tarifária nos grandes centros urbanos, hoje queda evidente que há (como já havia) na sociedade outras formas de preocupação. Estas surgem agora não somente mais profundas e complexas em suas propostas, como trazem no bojo a ampliação da ferramenta da proatividade em substituição à negação pura e simples do protesto social.
 O 20º Congresso da ANTP, que acontecerá no próximo junho em Santos – portanto apenas dois anos após as passeatas que, bem ou mal, colocaram a questão da mobilidade no centro dos principais temas urbanos – retratará esta mudança tão significativa. Como o poder público pode se apropriar desta energia que nasce das ruas e avenidas para avançar na pauta de mudanças? Como os gestores públicos podem finalmente apoderar agentes sociais como agentes da mudança?
Alexandre Pelegi – Editor da Revista dos Transportes Públicos - ANTP

Classe média gasta grande parte do orçamento em despesas com o automóvel


É a classe média – e não as classes baixas e altas – que sente uma maior pressão financeira por possuir um automóvel, de acordo com Max Ehrenfreund, jornalista do Washington Post. No Wonkblog, o jornalista investigou em que áreas os mais ricos, os mais pobres e a classe média norte-americanos gastam o seu dinheiro. O trabalho teve como fonte os dados do Bureau of Labor Statistics norte-americano, escreve oGreen Savers.
No que toca ao transporte, os resultados são alarmantes, sobretudo para a classe média. Em relação às necessidades básicas de alimentação e gastos com a renda de casa, os números são comuns: os ricos gastam mais nestas áreas, é claro, mas estes gastos representam menos no bolo total de gastos anuais. Para os norte-americanos mais pobres a situação é inversa: os gastos com alimentação e renda de casa são a maior parcela dos gastos totais anuais.
Quando analisamos os gastos com o transporte, porém, os números mostram que a classe média gasta uma grande parte do seu orçamento anual em despesas com a manutenção do automóvel, seguro do carro, combustível, estacionamento ou outras despesas. Esta percentagem é muito maior em relação aos gastos anuais dos mais ricos e mais pobres.
Os dados não revelam por que razão a despesas de transportes afectam tanto a classe média, mas o CityLab admite que não será difícil de perceber: evolução dos subúrbios, aumento dos preços das casas do centro da cidade, falta de investimento nas infra-estruturas ligadas ao trânsito e dependência do carro.
Os agregados familiares mais ricos possuem carros, claro, mas também têm poder financeiro para viver mais perto do trabalho, no centro das cidades, onde existem melhores opções de mobilidade. As famílias mais pobres, por outro lado, socorrem-se de comboios ou autocarros para a viagem entre a casa ou trabalho e, mesmo que passem horas no trânsito, não gastam muito em transportes.
Resta a classe média, que vive nos subúrbios e por vezes só tem o carro como opção para chegar o trabalho, com tudo o que isso significa em termos de gastos anuais. Nos Estados Unidos mas não só. E o que acontece quando o preço dos combustíveis sobre em flecha, como nos últimos anos? A classe média é a que mais sofre.
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