Você
já se deu conta dos conceitos que as propagandas dos automóveis estão passando?
Robôs
que se transformam em carros, pessoas que se livram do "fim do mundo"
quando estão dentro de seus automóveis, alta velocidade explícita, conquista
através do poder do carro e muito luxo. Filmes
publicitários para a TV podem estimular comportamentos que comprometem a
segurança no trânsito. É o aspecto mais nocivo das campanhas que trabalham o
emocional do consumidor estimulando o individualismo e a competitividade de
maneira exacerbada, em detrimento de valores como união, cooperação,
solidariedade, inclusão e convivência, aspectos fundamentais para um trânsito
mais humano e melhor qualidade de vida. Os
consumidores também passam a adotar um comportamento de risco sob a falsa
segurança propiciada pelas propagandas de automóveis. Como construir a
mobilidade urbana sustentável quando, além de diversos obstáculos, ainda não há
cooperação dos fabricantes de automóveis?
O
que fazer?
A
proporção dos investimentos governamentais que pregam atitudes seguras no
trânsito é irrelevante frente ao volume de investimentos da indústria
automobilística em suas propagandas no país. O poder da publicidade é
avassalador e as três esferas de governo deveriam investir mais em educação no
trânsito que hoje está circunscrita e isolada em algumas iniciativas de
campanhas. Os recursos alocados pelos governos invariavelmente são muito
reduzidos e uma alternativa possível será utilizar parte do valor arrecadado
das multas e DPVAT com a finalidade de financiar campanhas de publicidade por
meio da mídia. A melhor maneira de mudar
a consciência do povo brasileiro seria usar nas criações publicitárias,
argumentos de venda de automóveis com apelos voltados à responsabilidade social.
Regulamentação
O
Estado também deveria se mais firme como agente regulador do setor
publicitário, evidentemente que não atuando como órgão de censura mas sim, como
já fazem outros países em que a regulamentação da publicidade certamente não
permite anúncios como os do Brasil.
A
sociedade organizada também deve participar ativamente do processo de busca da
cidadania no esforço de reduzir acidentes de trânsito.
O
que já foi feito sobre os conteúdos desse tipo na publicidade indevida da indústria
automobilística agora serão seguidos de uma mensagem educativa. É o começo mas já é melhor do que nada.
Pelo mundo
A
Nova Zelândia é taxativa ao proibir anúncios que exaltem a velocidade excessiva
e, na Inglaterra, também há restrições similares. Em muitos países, o que
interessa é a segurança que o automóvel oferece, não o status que ele vai representar.
Essa questão já está sendo discutida no Brasil e agora é lei que todos os
carros do país tenham, até 2014, itens de segurança que venham de fábrica, como
air bag e freios ABS. Os melhores carros não devem ser os mais rápidos e
fortes, e sim os completos, com itens de segurança de série, mesmo nos veículos
de menor valor e menor conforto.
É
claro que não podemos atribuir exclusivamente à publicidade, a responsabilidade
pelo mau comportamento dos motoristas no trânsito, mas devemos tentar
transformá-la em uma grande aliada na construção de uma sociedade mais harmônica,
equânime, justa e responsável. Essa deve ser a função da comunicação social. Queremos veículos em que equipamentos de
segurança não sejam meros acessórios e devemos rever a razão pela qual
desejamos comprar veículos cada vez mais rápidos quando o limite de velocidade
no Brasil é 120 km/h
.
A
indústria, automobilística deveria se interessar pelo cliente vivo, até para
manter seu mercado e seu consumidor!
Cristina Baddini
Assessora do MDT
www.mdt.org.br/
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