segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Candidatos reciclam propostas antigas para transporte em São Paulo

Folha de SP
Propostas dos principais candidatos à prefeitura de São Paulo na área de trânsito e transportes não detalham de que maneira elas seriam executadas, além de reciclarem iniciativas antigas que não foram adiante.
É o que mostra análise feita pela reportagem e por especialistas a respeito nos programas de governo dos candidatos Celso Russomanno (PRB), João Doria (PSDB), Marta Suplicy (PMDB), Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL).
A poucos dias da eleição, porém, esse tema deu munição para uma guerra entre os postulantes ao cargo pautadas na redução de velocidade, assunto explorado à exaustão pelas campanhas na TV e na rádio e que dominou a disputa eleitoral. As demais propostas praticamente foram deixadas de lado.
Entre temas reciclados está uma proposta de Marta Suplicy (PMDB) que prevê estações de transferência nos lugares de pontos de ônibus atuais. O modelo de abrigos maiores e com mais infraestrutura já estava previsto no contrato de transporte público assinado por ela em 2003, quando era prefeita pelo PT.
De lá para cá, apenas 3 das 350 estações previstas foram construídas passados quatro mandatos -além de Marta, José Serra (PSDB), Gilberto Kassab (PSD) e Haddad.
Outro item de contrato nunca respeitado foi a modernização do sistema de informações nos pontos de ônibus, que previa painéis eletrônicos. Haddad agora promete modernizar isso.
A expansão ou modernização de terminais de ônibus também figura entre promessas de Haddad, Marta e Russomanno. Porém, apenas metade de 30 terminais previstos no mesmo contrato foram entregues nos últimos 13 anos.
A criação de mais corredores exclusivos de ônibus, considerados pelos especialistas uma opção que só fica abaixo do metrô como transporte de massa, figura nas propostas de todos os postulantes. Em 2003, 300 km eram previstos. Nem 100 km saíram do papel de lá para cá.
superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Luiz Carlos Néspoli, diz que é fundamental que os candidatos cumpram a proposta de continuar a política de expansão de faixas e corredores de ônibus. "Tem que aumentar a velocidade dos ônibus e diminuir o tempo de percurso, porque a cidade é muito extensa e as pessoas que usam ônibus são as que mais perdem tempo", afirmou.
Outro ponto importante é racionalizar o sistema, criando linhas perimetrais, diz ele. Alguns candidatos, como Doria, acenam para a ideia.
Segundo o consultor em engenharia de tráfego e transporte Horácio Figueira, embora todos tenham apresentado propostas para melhorar a vida do pedestre na cidade, nenhum dos candidatos propõe de forma concreta melhorias na rede de semáforos para quem está a pé.
"É necessário rever os tempos de espera e de travessia para o pedestre. Para atravessar na avenida Tucuruvi [zona norte], por exemplo, a pessoa espera três minutos para que o semáforo feche para carros. No meio da travessia, ele tem que correr porque o tempo é insuficiente para completá-la", disse Figueira.
O consultor Sérgio Ejzenberg sente falta de propostas que conciliem transporte e desenvolvimento urbano. "É preciso pensar em políticas que invistam o dinheiro do solo criado em transporte de massa", diz.
Embora a polêmica sobre o aplicativo Uber tenha sido citada pelos candidatos, nenhum apresenta um modelo de regulamentação novo para se contrapor ao atual, criado por Haddad.
Os candidatos favoráveis ao aplicativo usam a posição de Russomanno, contrário ao Uber, para atacá-lo. Ele disse que o aplicativo é ilegal e propõe nova regulamentação, sem detalhar. Já Marta Suplicy faz um aceno aos taxistas, afirmando que retirará todas as taxas deles, para que possam competir com o Uber.

VELOCIDADE
Nas últimas semanas, Russomanno, Doria e Marta prometeram aumentar a velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, num ataque direto à iniciativa do atual prefeito Haddad, que reduziu os limites nessas vias nas pistas local (70 km/h para 50km/h), central (70 km/h para 60 km/h) e expressa (90 km/h para 70 km/h).
Somente o petista e Erundina querem manter a medida. Os demais têm discurso semelhante pautado em devolver os limites de velocidade anteriores e acabar com a "indústria da multa", que Haddad chama de "indústria da infração".
"É um crime aumentar a velocidade. Se eles fizerem isso, vão ter que assumir as mortes", disse Figueira.
OUTRO LADO
Os três candidatos à frente nas pesquisas, Russomanno, Marta e Doria, sustentam que conseguirão reduzir acidentes de trânsito com campanhas educativas.
A equipe de Doria afirmou que "as velocidades máximas de 90km/h e 70km/h são compatíveis com as suas características das marginais". Segundo o tucano, é preciso fazer estudos para verificar as causas reais para a diminuição de acidentes.
Uma das apostas do tucano é a integração entre carros e sistema público de transporte, por meio de bolsões de estacionamentos perto de terminais de ônibus. "O uso do Bilhete Único para o pagamento facilita a utilização do sistema e propõe ao usuário da integração uma forma rápida e segura de efetivar o pagamento, com seus créditos já carregados no sistema", diz a campanha de Doria.
Marta diz que há exemplos de diminuição de acidentes por meio de ações educativas e que não há sentido em vias expressas como as marginais terem a velocidade reduzida.
Na questão do transporte coletivo, a candidata pretende trocar os pontos de ônibus dos principais corredores por estações de transferência.
Apesar de se dizer favorável às ciclovias, ela faz críticas às implantadas por Haddad. "Vamos reavaliar a malha existente, já que muitas ciclovias são subutilizadas e outras tantas são apenas uma camada de tinta e planejar novos traçados", afirma a candidata do PMDB.
Russomanno não comentou os questionamentos feitos pela reportagem, mas já negou que tenha havido diminuição de mortes no trânsito, apesar dos dados disponíveis mostrarem o contrário.
O deputado também promete continuar a política de Haddad de expandir faixas de ônibus, mas não cita corredores em seu programa.
O petista defende sua gestão, afirmando que as faixas ajudaram a aumentar a velocidade dos ônibus. "O paulistano ganhou quatro horas por semana com a política de priorizar o transporte público", afirma sua equipe. Uma das novidades propostas por ele é melhorar as informações disponíveis nos pontos de ônibus. "A prioridade será instalar painéis nos corredores e nos pontos onde não há placas com informações".
Erundina não comentou os questionamentos da reportagem. Em seu programa, segue a linha de aperfeiçoar programas da atual gestão. Ela também fala em criar órgão intermunicipal de transportes.