quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Wi-Fi grátis virou um problema em Nova York


Patrick McGeehan THE NEW YORK TIMES 
Os quiosques de Wi-Fi em Nova York foram desenhados para substituir cabines telefônicas e permitir aos usuários consultar mapas, saber do tempo ou carregar celulares. Mas têm atraído gente que fica horas por ali, às vezes bebendo, usando drogas e vendo pornografia. 
Agora, cedendo às reclamações, a operadora dos quiosques, rede LinkNYC, está fechando seus browsers de internet, mas não as outras funções, enquanto trabalha num plano B com funcionários da municipalidade. 
A mudança, anunciada na quarta-feira, é um caso exemplar de bons objetivos que, por algum motivo, dão errado. A iniciativa do prefeito Bill de Blasio de proporcionar tecnologia moderna às massas colidiu com a realidade da vida nas ruas. Após meses de queixas de moradores, comerciantes e políticos, De Blasio admitiu que a combinação de acesso irrestrito à internet e Wi-Fi grátis mostrou-se uma receita para mau comportamento. 
O recuo ocorre sete meses após o prefeito inaugurar, com muita comemoração, a rede que deveria ser um suporte-chave à promessa de pôr fim à divisão digital na cidade. Os quiosques deveriam substituir mais de 7,5 mil telefones públicos pagos. 
Esperava-se que os usuários fizessem apenas rápidas paradas nos quiosques. Mas as instalações atraíram rapidamente sem teto e gente ociosa, que passaram a aproveitar ao máximo o acesso à internet para fazer dos quiosques salas de estar nas quais veem filmes e ouvem música durante horas. 
“As pessoas chegam ao ponto de trazer mobília e montar pequenos acampamentos em volta”, disse Barbara A. Blair, presidente do Garment District Alliance, um grupo empresarial de Manhattan. “Criou-se uma situação deplorável.” 
Segundo Barbara, sua organização de comerciantes e proprietários de imóveis em Midtown deu boas-vindas aos quiosques como uma necessária substituição das cabines telefônicas que atraíam desocupados e traficantes. “Somos uma cidade moderna; precisamos de WiFi”, disse ela. “Mas quando a coisa toma um rumo inesperado, é hora de voltar atrás e repensar.” 
O vereador Corey Johnson, cujo distrito abrange Greenwich Village, Chelsea e parte de Midtown, disse que policiais pediram a remoção de “muitos quiosques problemáticos” ao longo da Oitava Avenida. Ele afirmou ter visto gente assistindo a pornografia, com crianças nas proximidades. “As instalações são com frequência monopolizadas por indivíduos que se apropriam do espaço para atividades que incluem tocar música em alto volume, consumir drogas e ver pornografia”, disse Johnson numa carta que mandou à prefeitura e à LinkNYC. 
Mudanças. Uma porta-voz do prefeito, Natalie Grybauskas, explicou algumas modificações feitas para o uso dos quiosques. “Ante preocupações com a aparição de desocupados e uso por tempo excessivo dos quiosques da LinkNYC, o prefeito está tomando providências. Remover os browsers de internet dos tablets da LinkNYC não afetará os outros serviços – Wi-Fi ultrarrápido, ligações telefônicas grátis e acesso a serviços-chave da cidade – e atenderá às queixas que ouvimos dos nova-iorquinos.” 
Jen Hensley, gerente-geral da LinkNYC, disse que o consórcio que construiu e opera os quiosques começou a “remover os browsers de internet enquanto busca meios de aperfeiçoar o serviço”. As mudanças, segundo ela, podem incluir novos serviços e trazer de volta os browsers, mas com limitações. 
Ela afirmou que os quiosques estão em constante aperfeiçoamento e muitas mudanças já foram feitas, entre elas a diminuição do volume de som à noite e a instalação de filtros para impedir o acesso à pornografia. O ritmo de instalação de quiosques não será reduzido, garantiu ela. 
Até agora, cerca de 400 já foram instalados – no Bronx, Manhattan e Queens. A continuação da instalação da rede é decisiva para o consórcio, que conta com a venda de anúncios nas laterais dos quiosques. A LinkNYC promete compartilhar com a cidade pelo menos US$ 500 milhões de receita nos próximos 12 anos. 
Apesar dos esforços de filtrar material ofensivo, a cidade continua recebendo queixas sobre pessoas vendo pornografia. Os filtros não afetam o acesso à internet com sinais de Wi-Fi em telefones pessoais ou tablets. 
Gale A. Brewer, presidente da divisão administrativa de Manhattan, que pediu mudanças, disse que ficou satisfeita com o fechamento dos browsers, assinalando que o Wi-Fi grátis é o verdadeiro benefício proporcionado pelos quiosques. “Não acho que ninguém tenha o direito de sentar lá e ficar vendo filmes o dia inteiro.” 
Ela comparou o desligamento dos browsers a uma decisão tomada nos anos 80, durante a epidemia de crack e cocaína, de impedir telefones públicos de receber chamadas. Na Avenida Amsterdam, disse ela, traficantes usavam as cabines telefônicas como escritório. “Quando fizemos o bloqueio, nos livramos dos traficantes nas cabines. Não sei para onde foram, mas sumiram.”