quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Haddad contrata consultoria de transporte



Dez anos depois, a Prefeitura de São Paulo abre caminho para a capital ter um novo plano de mobilidade. A Secretaria Municipal dos Transportes fechou contrato de R$ 5,4 milhões com uma consultoria da área para reestruturar as 1,3 mil linhas de ônibus existentes na cidade.

A intenção é criar uma rede de referência para o transporte público que inclua as medidas já implementadas pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) e as prometidas até 2016. Nessa lista, deverá ser levado em conta também o plano estadual de expansão das linhas de trem e metrô.

De acordo com o contrato, o estudo deve ser concluído em um ano e meio – e poderá ser usado apenas em meados de 2016, último ano da gestão petista. Mas, como estabelece o edital, a intenção é estabelecer um programa a longo prazo, que possa servir a cidade num período de até 20 anos.

Os vencedores da licitação terão de considerar dois cenários: a execução das obras previstas pela atual gestão, como a implementação de 150 km de corredores de ônibus e 400 km de ciclovias, e o não cumprimento de tais metas.

O principal objetivo é propor soluções para uma melhor otimização dos 15 mil ônibus que rodam pela cidade. A expectativa é que, ao longo dos próximos 18 meses, a Oficina Consultores apresente propostas para reduzir os gargalos atuais e aumentar a velocidade dos coletivos. Uma nova divisão das empresas do transporte – hoje são oito áreas operacionais – também deve ser apresentada.

Responsável pelo transporte coletivo, a SPTrans afirmou que a "rede integrada de linhas é fundamental para o aprimoramento da mobilidade e das opções de deslocamento da população, homogeneizando os padrões de acessibilidade das diversas regiões e melhorando a qualidade do conjunto de serviços ofertados”.



Plano diretor. As propostas devem estar em acordo com as diretrizes determinadas pelo novo Plano Diretor, aprovado na Câmara no primeiro semestre deste ano. Entre elas, está uma maior concentração de moradores no entorno de estações de metrô e corredores de ônibus.

Trânsito de Belém está à beira de um colapso

Leila Braga mora no Distrito de Icoaraci e precisa se deslocar diariamente para o centro de Belém, onde trabalha a partir das 8h da manhã. Há quatro anos, o trajeto feito de carro, que antes durava cerca de 30 minutos, hoje dura, em média, uma hora.
O motivo é antigo: o velho engarrafamento que toma conta das principais vias de Belém na hora de pico. E como se não bastasse o transtorno na ida ao trabalho, Leila passa o mesmo sufoco na hora de voltar para casa, por volta das 18h.
O expediente se encerra e a servidora começa mais uma jornada de congestionamento e estresse que dura mais uma hora ou mais, de Belém até a Vila.
"Já pensei em mudar de bairro e até de largar o emprego e tentar outro mais perto de casa para ver se me livro desse transtorno”, diz ela.
O problema vivenciado por Leila afeta milhares de pessoas que trafegam no trânsito da Região Metropolitana de Belém. Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), até o mês de outubro deste ano, Belém tinha uma frota de aproximadamente 211 mil carros, 95.528 motocicletas e 12.558 ônibus.
O excesso de veículos na rua, no entanto, não foi acompanhado de políticas planejadas para o trânsito da cidade, que sofre com a falta de mobilidade urbana. Na opinião da engenheira e especialista em trânsito, Patrícia Bitencourt Neves, o crescimento da frota está entre os principais fatores para o estrangulamento do trânsito vivenciado em Belém.
A consequência, segundo ela, é um cenário de vias congestionadas, falta de estacionamento, acidentes e poluição sonora. Mas o problema não é o único e está longe de ser solucionado.
Falta planejamento com ações integradas de curto e longo prazo, considera Patrícia. Concebido como solução para o engarrafamento na avenida Almirante Barroso, o BRT Belém (Bus Rapid Transit) não conseguiu ser operado da forma como foi pensado e se tornou um mero corredor de ônibus expresso que em nada tem a ver com o BRT de verdade. O BRT foi feito a toque de caixa, mal operado porque nem foi implantado, critica Patrícia.
Para ela, apesar da construção dos elevados no Entroncamento, o BRT de Belém continua sem funcionalidade, uma vez que se trata de uma obra isolada que precisa estar inserida em um projeto maior de mobilidade na cidade.
A engenheira esclarece que um BRT de verdade deve ter estações com linhas contínuas e espaço para ultrapassagem, assim como ter prioridade na via com embarque e desembarque no mesmo nível, além de ser monitorado por uma central de controle que anuncia o tempo de sua chegada em cada estação. Um BRT funcionando nestas condições amenizaria o tempo de permanência das pessoas no trânsito.
Em nota, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (SeMOB) informou que ainda não existe sistema BRT em Belém e sim uma faixa exclusiva de ônibus expressos, inaugurada em 31 janeiro deste ano.
Sobre o planejamento e construção de vias alternativas a superintendência informou que a Prefeitura de Belém já realizou a pavimentação e sinalização de diversas vias, garantindo mais espaço para a circulação segura na cidade.
Zona azul e metrô entre as soluções
Em recente pesquisa divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Belém é a cidade em que o tempo de deslocamento teve o maior aumento percentual. Se em 1992 o tempo médio de deslocamento na capital paraense era de 24,3 minutos, em 2012 foi de 32,8, o que representa uma variação de 35,4%.
Belém só perde para as grandes metrópoles brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.Na opinião de Patrícia Bitencourt, o ideal seria usar o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), uma espécie de metrô sobre trilhos, em fase de implantação em cinco cidades brasileiras. Além disso, outras medidas devem ser tomadas conjuntamente para que Belém tenha um sistema público de transporte eficiente.
Uma delas é a implantação do Sistema de Estacionamento Rotativo, conhecido por Zona Azul, na avaliação dela. Medida também considerada positiva seria a regulamentação da carga e descarga de caminhões que ainda hoje circulam nas vias em horários de pico.
A alternativa pode ser a utilização dos rios para escoar os produtos do Distrito Industrial de Ananindeua até o centro de Belém. A regularização do transporte escolar é outra ação que pode contribuir com o trânsito da cidade desde que ele tenha condições de segurança na condução dos usuários.

"É preciso investir na expansão da rede viária para estimular o sistema de transporte, adotando políticas que permitam às pessoas deixarem o carro em casa”, conclui Patrícia.

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