sexta-feira, 24 de julho de 2015

Usuário paga a conta

JORNAL DE BRASÍLIA - DF



O usuário de ônibus passa por mais um período difícil: a greve das cooperativas e da Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB). No total, 318 mil passageiros são atendidos por ambas. Os funcionários da Cootarde, Coopertran, Cobrataete, Cootransp e Coopatag exigem equiparação salarial a categorias de ônibus convencionais. Além da carga horária de seis horas corridas, o grupo pede o aumento dos benefícios. As cinco cooperativas atendem diariamente 300 mil passageiros e contam com 350 micro-ônibus e 160 ônibus atendendo a 109 linhas. De acordo com o diretor da base do sindicato em Santa Maria, Agnaldo de Jesus, alguns cooperativistas estão com salário atrasado e horas extras pagas irregularmente. Ele diz que a diferença salarial entre motoristas do sistema convencional e do alternativo chega a 50%. Cobradores receberiam 25% a menos. "A greve só acabará por decisão dos trabalhadores. O que nos deixa mais tristes é que marcamos vá- rias reuniões, mas eles não estão negociando. A TCB também está parada e, se nada for resolvido, essa situação pode se arrastar", afirma.

ARGUMENTOS

 Para o diretor operacional da Coopatag, Gilson Pereira da Silva, 53 anos, é injusto que os trabalhadores façam a mesma atividade e não recebam um salário equivalente. O preço das passagens também é um dos assuntos questionados. "Queremos o aumento para R$ 2. Temos linhas que percorrem 52 km com o preço de R$ 1,50. As cooperativas estão sucateadas por falta de apoio do governo", reclama. Ele denuncia que o repasse relativo à gratuidade de passagens teria de ser feito quinzenalmente, o que também não estaria sendo feito. Entre as regiões mais afetadas pela paralisação estão Ceilândia, Samambaia, Santa Maria, Planaltina, Sobradinho, Brazlândia e Paranoá. Em reunião ontem, representantes de cooperativas e sindicatos não chegaram a um acordo. "Todos os nossos pedidos foram negados. Pediram para esperar um pouco, que haverá um reajuste futuro. Acontece que somos a única categoria sem aumento e não dá pra ficar assim", diz o sindicalista Saul Araújo.

Rodoviária interditada

Por volta das 16h de ontem, a Rodoviária do Plano Piloto foi palco de mais uma manifestação da classe trabalhadora. Cerca de 500 Rodoviários da TCB tomaram o local, bloqueando as entradas e saídas do terminal e, consequentemente, impedindo a volta para casa de muitos usuários do transporte. Também houve a presença de alguns funcionários de cooperativas. Os manifestantes chegaram a bloquear o Eixo Monumental, deixando o trânsito caótico. Em seguida, foram retirados da pista pela polícia. No fim da tarde, os acessos à rodoviária foram liberados. O grupo está em greve desde a última segunda-feira e deve permanecer até que as reivindicações sejam atendidas pelo governo, que afirmou não ter verba. Entre as exigências dos Rodoviários da TCB estão reajuste salarial de 20%, aumento do tíquete-alimentação e gratificação. Com um nariz de palhaço, o rodoviário Adão Costa, 56 anos, afirmou que é assim que se sente.

 "Como trabalhador de uma empresa pública, que é a TCB, de fato, me sinto um palhaço, pois não sou valorizado", lamenta ele, ressaltando que os outros funcionários da TCB, que prestam serviço para outras áreas, já possuem uma gratificação. "Nós que trabalhamos na rodoviária, com as piores condições de trabalho, não temos nenhum benefí- cio", completa Adão. Entre as linhas que a TCB opera está a executiva do Aeroporto Internacional de Brasília - Presidente Juscelino Kubitschek.

Pa s s a g e i r o s enfrentam transtornos

O protesto na rodoviária irritou os usuários que aguardavam ônibus no fim do expediente. A diretora de produção cultural Rosidete Maria Rosa, 60 anos, por exemplo, afirmou não ser contra a greve, mas, sim, a forma como ela foi feita. "Eu sou usuária do serviço da TCB e estou há mais de uma hora esperando aqui. A greve também precisa ter ética. Nós, usuários, já pagamos nossos impostos e estamos reféns dessa manifestação. Eles podem ter a razão deles, mas o povo não pode ficar preso", completa. Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Jorge Farias, houve uma reunião com o Governo de Brasília, mas nada foi resolvido. "O governo afirma que os cofres estão vazios e pronto. Logo, a greve continua e cerca de 18 mil passageiros da TCB estão sendo prejudicados", conclui.

 ESPERA NAS PARADAS As mesmas dificuldades foram enfrentadas pelos passageiros das cooperativas. Com isso, veículos piratas aproveitaram para fazer a festa. A enfermeira Jéssica Nunes, 22 anos, considera que não tem muito o que fazer nessas situações. Sendo assim, para chegar ao destino, vale até arriscar. "Na falta do coletivo, a única opção que me resta é pegar o TRANSPORTE PIRATA. O primeiro que passar eu pego", disse. A técnica de enfermagem Amélia Isabel, 52 anos, teve que pedir que a irmã a buscasse na parada. "O serviço é ruim, mas, sem eles, ficou pior", lamentou.

VERSÃO OFICIAL

A Secretaria de Mobilidade informou estar em negociação com as cooperativas e com o sindicato há quase um mês. Para que o usuário não se prejudique, é estudado um plano emergencial para as empresas operarem gradativamente nas linhas abandonadas pelas cooperativas. Sobre a TCB, uma ação na Justiça pede um percentual mínimo de ônibus na ativa.