O risco de aumento de capital da Petrobrás continua no radar
de analistas do mercado e essa possibilidade aumentou com a recente valorização
do dólar - até o fechamento de quinta-feira, 2, a moeda americana se valorizou,
em 30 dias, em mais de 11%. Um relatório do HSBC diz que, se não houver mudança
em sua política de investimentos ou de preços de combustíveis, a estatal pode
ter de passar por outro aumento de capital "com consequente diluição de
acionistas".
Karina Freitas, analista da Concórdia, diz que o desempenho
das ações da Petrobrás vai depender da adoção de uma política de preços mais condizente
com as necessidades da companhia. Ela também trabalha com a possibilidade de
aumento de capital.
A trajetória de valorização do dólar, que fechou
quinta-feira em alta de 0,16% no balcão, a R$ 2,4880, a maior cotação desde
dezembro de 2008, traz um risco adicional nesse sentido. "A empresa tem
uma exposição importante à moeda estrangeira, considerando o relevante volume
de importação de derivados e de dívida no exterior", explica Karina.
"Se o dólar continuar subindo, será maior a chance de aumento de
capital."
"A Petrobrás hoje não gera caixa suficiente para suas
necessidades de investimento e obrigações de dívida. E a gente sabe que a
empresa ainda paga dividendos." Nesse caso, a analista vê alto risco de
diluição dos acionistas minoritários, devido à operação feita em 2010, que
trouxe perdas aos investidores.
O relatório do HSBC diz que, em um cenário de taxa de câmbio
a R$ 2,50, a Petrobrás precisaria reajustar os preços dos combustíveis em 15%
para compensar as perdas no segmento de refino, no cálculo dos analistas Luiz
Carvalho e Filipe Gouveia, que assinam o documento. A tese deles é a de que a
petrolífera tem uma correlação inversa dos lucros à desvalorização do real, por
causa da política de preços vigente e do impacto que uma mudança na classificação
de crédito pode ter sobre sua alavancagem. Além disso, cerca de 80% de sua
dívida tem exposição ao câmbio, de acordo com o relatório.
"(A presidente) Dilma (Rousseff) tem uma posição
pública a respeito desse tema... Ela acredita que o Brasil não deve ter
paridade nos preços dos combustíveis para evitar criar volatilidade nos preços
domésticos", acrescentam. A recomendação do banco para a ação preferencial
da estatal é neutro (em linha com o mercado), com preço-alvo de R$ 19.
Segundo Carvalho e Gouveia, investidores questionam se o
nível de produção pode compensar os prejuízos no refino. Eles fizeram um estudo
no qual concluíram que um aumento de 10% na gasolina parece ter o mesmo impacto
de um acréscimo de 100 mil barris diários na produção, enquanto 10% de alta no
preço do diesel tem impacto cerca de três vezes superior.
Eles salientam que o aumento na produção leva a uma alta nos
investimentos, enquanto a elevação nos preços dos combustíveis tem impacto
imediato na geração de caixa, com risco baixo e sem exigência de investimento.
"Isso ilustra o efeito que a intervenção do governo na política de preços
pode ter nos resultados da empresa."
Bruno Gonçalves, analista da Alpes/WinTrade, diz que, mais
do que o reajuste no combustível, já esperado pelo mercado, a Petrobrás
necessita de uma política de preços mais transparente. Segundo ele, a volta da
Cide faria com que o efeito de um reajuste no combustível sobre a Petrobrás
fosse menor ou "até mesmo nulo”.
ANTP