Na base da enunciação
de qualquer principio regulador da civilização urbana, deve considerar-se a
relação entre o Homem e o ambiente natural, desta relação dependem os
equilíbrios fundamentais e a própria vida.
A coletividade tem que
voltar a ser o sujeito pelo qual a cidade existe; deve garantir que a própria
cidade respeite o equilíbrio entre as conotações culturais e o inteiro
ecossistema territorial. Nas cidades se manifestam os efeitos de transformação
que acontecem com rapidez e nunca se registraram no passado. Neste processo de
equilíbrios e as particularidades dos locais são alteradas por modelos de
crescimento em contraste com as dinâmicas do território. A Natureza, com os
seus três reinos, e a relação entre o Homem e Natureza, tem que ser o constante
ponto de referência para os processos de transformação
A considerar uma
recente pesquisa da Ernst & Young, o clube dos produtos tidos como sócio ambientalmente
incorretos, que já tem o cigarro, as bebidas alcoólicas e os armamentos, pode
estar ganhando um novo e inusitado sócio. Trata-se do automóvel. Isso mesmo: o
velho e bom carro, objeto de desejo de nove entre dez homens e um dos bens de
consumo mais aspirados no Brasil e no mundo. A consultoria ouviu 70 analistas
com o objetivo de avaliar os riscos estratégicos para os negócios em 12 setores
da economia. Com o aquecimento global, o trânsito caótico dos centros urbanos e
a crescente preocupação ambiental, a indústria automobilística já prevê lidar,
nos próximos anos, com uma forte onda de rejeição e patrulhamento ideológico
aos seus produtos.
O
sistema de mobilidade na cidade futura deverá privilegiar o transporte
coletivo; deverá alem disso ser consentida a plena liberdade de movimento
individual em todas as formas compatíveis com a estrutura urbana: em primeiro
lugar pedestre e bicicletas.Na Europa, ganha força o movimento pela adoção de
bicicletas, pelo maior uso de transporte coletivo e pela substituição das
tecnologias baseadas na matriz energética do combustível fóssil por formas mais
limpas de energia. São dois os temas em jogo: um de natureza ecológica (a
contenção da escalada das mudanças climáticas) e outro ligado ao âmbito
cidadania no mundo urbano contemporâneo -- o legítimo direito de ir e vir no
espaço público, a uma mobilidade sustentável que não obrigue cidadãos a
desperdiçarem horas de sua vida em
Este é, seguramente,
um dos grandes próximos dilemas de quem vive nas metrópoles. E a sua solução
exigirá um rearranjo de forças e interesses individuais, baseado no pacto
intersetorial entre governos mais reguladores e fiscalizadores, empresas
dispostas a repensar modelos de negócios, organizações da sociedade civil mais
engajadas e indivíduos interessados em rever padrões de consumo perdulários.
Difícil, mas não impossível.
Para as companhias
que baseiam sua ação no conceito de sustentabilidade, esse quadro de crise
iminente pode representar uma grande oportunidade. A Ford, por exemplo, já está
trabalhando com alguns governos no sentido de ajudar a construir soluções de
transporte público. Outras deverão seguir o mesmo caminho, senão por convicção
em um mundo melhor pela conveniência de sobreviver e se perenizar.
Aos que
acham exagerado o prognóstico do caos da mobilidade urbana --há cinco anos,
muita gente também achava o aquecimento global um delírio de abraçadores de
árvores -- fica a recomendação de um teste empírico: andar de carro, em São
Paulo, às 18 horas de uma sexta-feira chuvosa. Andar é força de expressão.