sexta-feira, 2 de março de 2012

5 tendências em mobilidade urbana para os próximos anos

Os próximos três anos serão decisivos para a melhoria - ou não - do panorama da mobilidade no Brasil. Com dois megaeventos esportivos batendo à porta - a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016 – ações por melhorias se tornam ainda mais urgentes. Esse tipo de acontecimento atrai espectadores de todo o mundo e aumenta ainda mais o número de pessoas na zona urbana o que, para um sistema de tráfego despreparado, pode acarretar em um grande aumento nos congestionamentos.
Tudo o que o Governo Federal não deseja é um colapso nos sistemas de transporte. Tanto é que a Lei de Mobilidade Urbana, sancionada no dia 4 de janeiro após 17 anos em debate, prevê maiores responsabilidades para as prefeituras e exige um planejamento sólido em um prazo curto: três anos.
Sancionar a Lei foi a parte fácil. Complicado vai ser pesar a mão sobre as mais de 1600 cidades brasileiras com mais de 20 mil habitantes que agora estão obrigadas a se comprometer com o planejamento. Basicamente, o texto da Lei de Mobilidade Urbana elegeu o uso do transporte coletivo e a redução da emissão de poluentes como os desafios que podem mudar o panorama caótico que se afigura hoje.
Por outro lado, existe outro gargalo que precisa ser superado: a visão negativa da população sobre os transportes públicos - que encontra um forte respaldo na realidade. De acordo com uma pesquisa do Ipea divulgada em janeiro, apenas 30% da população classificou os transportes coletivos como bons. Para ajudar a cumprir os objetivos da Lei Nacional de Mobilidade Urbana, pelo menos cinco tendências podem - e devem - ser levadas em conta.

1. O caso Curitiba

A cidade paranaense é uma referência mundial por conta de seu sistema de transportes urbano - que reflete um projeto planejado e bem executado no setor público brasileiro. Há aproximadamente 30 anos foi criada a Rede Integrada de Trasporte (RIT), um planejamento completo de transporte urbano que consistia em corredores para ônibus favorecendo viagens rápidas, estações de tubo localizadas em pontos estratégicos para o embarque de passageiros (que atualmente está mais eficiente com acesso facilitado para pessoas com necessidades físicas especiais), rotas otimizadas e estímulo a tarifas relativamente baixas.
Jaime Lerner, arquiteto e ex-prefeito, um dos responsáveis pela RIT, lembrou - durante a HSM Expomanagement 2011 - o que todo prefeito deveria saber ao assumir a posição: "planejamento de cidades toma tempo, mas nós temos que fazer. E aí, quando vamos vendo resultados importantes com ações simples e pontuais, nos motivamos a continuar o trabalho". É evidente que cada cidade tem as suas particularidades, mas o modelo curitibano - que também precisa de ajustes - deve servir de inspiração para o planejamento urbano dos municípios.

2. Aplicativos móveis e redes sociais

A tecnologia dos smartphones e tablets, bem como as redes sociais, podem ser aliadas bem convenientes para os usuários de transportes urbanos e da malha rodoviária. Entre janeiro e novembro de 2011, o volume de aparelhos conectados à internet aumentou 115%, atingindo 8,27 milhões de unidades comercializadas - segundo dados da consultoria GfK.
"Já se observa em algumas cidades a troca de informações sobre acidentes, obras, desvios e outros problemas de trânsito pelas redes sociais. Esta é uma tendência que deverá se ampliar nos próximos anos, não apenas no que diz respeito ao tráfego de automóveis, mas também para o transporte coletivo", explica Romeu Bosse, gerente Comercial da Brascontrol - empresa do segmento de controle de tráfego.
Todavia, essa permuta de informações pode servir para o benefício de motoristas criminosos. "Avisar sobre blitz, por exemplo, é um ato contra a coletividade e atende ao interesse dos infratores. Essa atitude é um boicote a ação policial e mostra solidariedade com práticas criminosas como beber e dirigir. Você avisaria sobre operação da polícia contra os traficantes em uma favela no Rio de Janeiro?", questiona Maria Amélia Marques Franco, especialista em Gestão de Trânsito e Mobilidade Urbana pela PUC-PR.

3. Novos conceitos de veículos urbanos

Imagem: divulgação/GM

Mesmo com o incentivo ao uso do transporte público e implantação de rodízios nas metrópoles, quem tem um veículo próprio não costuma abrir mão do carro. Mas muitos motoristas, enquanto consumidores, consideram a redução da emissão de poluentes como um diferencial para o veículo. Com isso, o mercado deverá oferecer cada vez mais modelos menores, mais fluidos e elétricos.
Um exemplo de carro-conceito que está por desembarcar no mercado é o Geely McCar, que foi exposto no Salão do Automóvel de Xangai no ano passado. O veículo, alimentado por energia elétrica, vem acompanhado de uma pequena scooter no porta-malas. O carro tem uma autonomia de 150 quilômetros, enquanto o pequeno triciclo roda até 30 quilômetros quando totalmente carregado. Ainda não há previsão de lançamento, e a empresa - que adquiriu a marca Volvo em 2010 - não tem sucursal brasileira. Mas como os mercados emergente são ideais para modelos assim, o Geely McCar não deve demorar para desembarcar por aqui.
Já a General Motors apresentou um modelo bem mais ousado no design. O EN-V, ou carro-bolha - também movido a eletricidade - foi desenvolvido para minimizar o risco de colisões no trânsito. Pequeno, o veículo não dispõe de volante nem do aparato de segurança convencional, incluindo airbags e para-choque. Segundo o especialista do departamento de pesquisa e desenvolvimento da GM, Tom Brown, o EN-V foi desenvolvido para ser mais parecido com uma aeronave, de forma a evitar batidas.

4. Bicicletas como alternativa de transporte público


Elas são os meios de transporte sustentáveis por natureza. Não emitem poluentes, não afetam o trânsito e custam 30 vezes menos do que um carro. Em várias cidades muita gente decide encostar o carro durante alguns dias da semana para ir ao trabalho ou à escola de bicicleta com um custo baixo e o benefício imensurável do bem-estar físico. Várias cidades decidiram implementar um sistema de aluguel de bicicletas em determinados pontos da cidade, bem como investir na construção de ciclovias.
Em Barcelona, o sistema Bicing foi implementado há aproximadamente cinco anos, quando a cidade não dava a mínima para a bicicleta enquanto meio de transporte. Depois de pouco tempo, o sistema passou a ser considerado parte inextricável do transporte público metropolitano. O funcionamento é simples: o cidadão pode adquirir um cartão para o aluguel das bicicletas; depois é só passar em um ponto onde os veículos ficam estacionados, passar o cartão em uma leitora digital e... voilà: uma bike já está disponível para uso e pode ser devolvida em qualquer outra estação onde existam vagas.
Várias cidades brasileiras já utilizam sistemas parecidos, não apenas metrópoles, mas também cidades de pequeno e médio portes. Existem pelo menos três desafios para que o modelo caia nas graças da população: o primeiro é integrar as bicicletas ao sistema de transporte urbano; o segundo é disponibilizar um bom número de bicicletas e estações em localidades estratégicas da cidade; e o terceiro é desburocratizar o sistema de aluguel.

5. Tecnologias de ponta

Empresas e universidades também realizam pesquisas e desenvolvem projetos por soluções na mobilidade urbana . Um exemplo é o Contreal, sistema de controle de tráfego de tempo real, que vem sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Brascontrol desde o ano 2000. De acordo com o especialista Romeu Bosse, a ferramenta possibilita que os semáforos sejam interligados entre si e conectados a laços indutores embutidos no piso das ruas e avenidas. O sistema controla o fluxo de veículos das vias e a "taxa de ocupação" (quanto maior o congestionamento, maior a taxa de ocupação) por meio dos laços.
O Contreal analisa informações de todas as avenidas monitoradas e determina qual a melhor programação para cada semáforo, com o intuito de facilitar o fluxo de veículos. A ferramenta já foi implantada nas cidades de Macaé (RJ) e Mauá (SP) e possibilitou a redução do tempo de viagem nos dois municípios entre 20 e 30% e também do tempo de espera nos semáforos.
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