sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pesquisa da Rede Nossa São Paulo

A 5ª edição do IRBEM(Índices de Referência de Bem-Estar no Município) divulgada dia 21 de janeiro de 2014, revela que de 0 a 10, os paulistanos deram nota 4,8 para a qualidade de vida na cidade.  O índice ficou abaixo da média de escala que é de nota 5,5.
O nível de insatisfação, no entanto, não significa que o paulistano só sabe reclamar da situação da cidade.
Hoje a maioria da população tem a consciência do que pode ser mudado.
Exemplos disso são os indicadores referentes à mobilidade urbana na pesquisa que ouviu 1.512 pessoas com idades a partir dos 16 anos, entre os dias 03 e 23 de dezembro de 2013.
O trânsito e a falta de mobilidade urbana são grandes motivos de insatisfação dos moradores da maior cidade da América Latina, recebendo nota 3,9, muito baixa.
De acordo com o levantamento da Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope, apesar de reclamar da pontualidade dos ônibus - que recebeu nota 4, e do tempo de espera nos pontos, com nota 3,9 -, o paulistano sabe que somente a prioridade ao transporte coletivo no espaço urbano e nas políticas públicas é que pode melhorar o "ir e vir” das pessoas e consequentemente a qualidade de vida na cidade.
Provas disso são os anseios por uma maior rede de metrô e mais espaços para o transporte público em geral, com soluções como os corredores de ônibus.
O tamanho da rede de metrô em São Paulo recebeu nota 4,9. Inferior aos 5,9 da primeira edição da pesquisa em 2009.
A prioridade dada ao transporte coletivo no sistema viário ganhou nota 4,1, a segunda pior da série histórica da pesquisa.
Isso demonstra a consciência do paulistano para que os investimentos em transportes públicos sejam rápidos e façam parte das políticas públicas da cidade e não apenas se resumam a ações pontuais.
De acordo com especialistas em mobilidade urbana, uma rede de metrô conjugada com um sistema amplo de corredores e faixas de ônibus faz com que as diferentes demandas em cada região da cidade sejam atendidas de maneira adequada e acima de tudo, respeitando o dinheiro público e a capacidade de investimentos da cidade.
O tempo de deslocamento em São Paulo é um dos aspectos que receberam uma das menores notas no item mobilidade: 3,7.
Este tempo não é satisfatório pelo excesso de veículos que fazem a cidade literalmente parar em alguns eixos, como as marginais dos rios Pinheiros e Tietê, Radial Leste, Estrada do M’ Boi Mirim e o Corredor Norte/Sul.
E o poder público precisa de fato agilizar as ações em prol da prioridade ao transporte público, uma das principais maneiras para enfrentar o problema.  As soluções para diminuir o trânsito na cidade receberam a pior nota na pesquisa desde 2009: 3,8. Ou seja, estas soluções não são tomadas na quantidade e no perfil necessários para São Paulo.
Outro aspecto dentro da mobilidade urbana é em relação aos ônibus fretados. Parte da população que não usaria num primeiro momento o transporte público optaria por este meio de deslocamento.
A restrição aos ônibus fretados não agrada a população. A medida recebeu também a pior nota da série histórica: 4,0.
Hoje o cidadão tem consciência que mobilidade urbana é muito mais que transporte de pessoas, mas é garantir a qualidade de vida.
Os congestionamentos em São Paulo geram custos anuais na ordem de R$ 50 bilhões de acordo com estudo realizado pelo economista Marcos Cintra, da Fundação Getúlio Vargas.
É dinheiro gasto em infraestrutura para receber um número cada vez maior de veículos, perdido pela falta de produtividade de trabalhadores e empresas, custos com combustíveis queimando à toa nos congestionamentos e na área da saúde. De acordo com o professor e médico Paulo Saldiva, em estudo pelo instituto de poluição atmosférica da USP – Universidade de São Paulo, aproximadamente quatro mil pessoas morrem na cidade por ano por problemas de saúde gerados ou agravados pela poluição atmosférica.
Hoje na cidade, o excesso de veículos representa 80% das emissões de poluentes no ar.
Além do dinheiro e da saúde, as pessoas perdem o prazer com a vida por causa da falta de mobilidade urbana.
Em vez de estarem presos nos congestionamentos, os cidadãos poderiam fazer um curso para aumentarem as oportunidades de crescimento, poderiam estar com a família, praticando esportes, se divertindo ou descansando. Não é exagero, mas muitas pessoas na cidade perdem horas de sono por causa do tempo de deslocamento ampliado pelo excesso de veículos.
Mais uma vez a população dá o recado.
É claro que muitos dos que pedem mais mobilidade ainda têm a cultura do deslocamento pelo transporte individual, mas quando estas pessoas verem quando os sistemas de transportes públicos se tornarem mais vantajosos, a cultura vai aos poucos se transformando.
Mas é hora de agir de maneira mais intensa.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Cidade, nem sempre foi assim, pelo sociólogo Eduardo Vasconcellos, consultor da ANTP

"Nossa sociedade é muito desigual. Os pobres só podem viver na periferia porque é muito mais barato e o único que podem se permitir" - sociólogo Eduardo Vasconcellos, consultor da ANTP
Neste sábado São Paulo completou 460 anos. Os principais jornais trouxeram extensas matérias sobre a metrópole, a maior parte delas destacando os graves problemas que a população enfrenta diuturnamente. Na extensa relação de atribulações, o destaque ficou para a grave situação da (i)mobilidade urbana.
Na semana do aniversário da capital paulista, o Rio de Janeiro viveu um dia de caos: o descarrilamento de um trem da SuperVias prejudicou todos os ramais  e paralisou o sistema por até 13 horas. Problemas semelhantes em cidades distintas apenas comprovam que a construção da maioria das cidades brasileiras possui muitos erros comuns.
Em brilhante artigo no caderno Aliás, d'O Estado de SP, o sociólogo José de Souza Martins ensina: "Com muita facilidade e sem muito critério, se fala hoje em cidade e metrópole no Brasil para lamentar o que não temos e o que não somos. Amontoamento de prédios não faz uma cidade. Cidade é um modo de vida em que o redesenho e a racionalização do espaço deve tornar a vida mais fácil, mais simples. Deve agregar qualidade à existência, rapidez, conforto, bem-estar, alegria."
Parece óbvio que antes de se pensar em soluções específicas para o caos da (i)mobilidade urbana, é preciso que as autoridades públicas entendam a história do problema vivido, resultante de várias escolhas erradas feitas por sucessivos governos e sociedades. A não compreensão da história de construção de nossas cidades tem levado seguidas administrações à repetição de velhos e conhecidos equívocos, e por conseguinte ao aumento da piora da vida urbana. José de Souza Martins, no artigo citado, escreve: "... a cidade apenas incha, derrotada nas insuficiências. Tudo aqui é insuficiente. Quanto mais metrô se faz, mais insuficiente o metrô fica. (...) Estamos no reinado de Alice do outro lado do espelho: quanto mais andava, mais distante ficava. Chegamos, finalmente, à lógica dos avessos. Nem o povo é inocente nessa história. Uma cidade que reclama da falta de transporte e queima ônibus todos os dias é uma cidade louca."
Em artigo recente no jornal Valor Econômico, o economista André Lara Resende colocou o dedo numa das feridas mais graves: a indústria automobilística é a que mais gera gasto público. O raciocínio é lapidar e deveria ser visível a olho nu, não estivesse a sociedade ainda crédula que há saída possível para o uso do carro como o principal meio de transporte nas grandes cidades. Carro novo vendido, antes de empregos e PIB, obriga o governo a usar recursos para fazer ruas, pontes, viadutos, um gasto absurdo que deveria ser revertido para o transporte público, melhorando a vida das pessoas e das cidades.
O trágico é ver que nossas cidades nem sempre foram assim. Mas mais trágico ainda é perceber que construímos com nossas escolhas uma cidade especulativamente mais rica e socialmente mais pobre, como assinala o sociólogo José de Souza Martins.