terça-feira, 19 de junho de 2012

José Serra contraria o que dizem os mais renomados estudos sobre transportes



Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB, José Serra, diz que linhas de ônibus vão engarrafar cidades, mas não critica aumento da frota de veículos particulares. O MDT contesta, aliás o coordenador do MDT,  Nazareno Affonso comenta no Blog Ponto de Ônibus sobre as questões principais para enfrentar a crise de mobilidade no país são outras, principalmente priorizando o transporte público.

Nazareno diz que seria bom os candidatos conhecerem a Lei 12587 da Política Nacional da Mobilidade Urbana sancionada em 3 de janeiro de 2012 e em vigor desde o dia 12 de abril onde está explicito que o Estado brasileiro reconhece a falência da política pública -oculta e nunca explicita- de universalizar o uso e o acesso ao automóvel nos investimentos públicos e na privatização para este mesmo modal a via pública. A Lei reconhece essa falência ao definir em seus capítulos a prioridade de investimentos e gestão público primeiramente ao transporte não motorizado (modo a pé:calçadas e bicicletas:ciclovias, ciclofaixas), depois a prioridade é o transporte público e em terceira prioridade os automóveis. A mesma lei afirma também que devem ser retirados privilégios dos automóveis na apropriação do sistema viário deixando para ele no maximo os 30% que lhe corresponde da demanda dos deslocamentos. Logo está lei diz que os governos não podem mais construírem vias e viadutos só para carro em áreas urbanas e também que deve rever os usos atual do sistema viário que em São Paulo é de 90% em vias que circulam ônibus e menos de 1% de considerarmos todo o sistema viário da cidade.
 
Assim concordo com os articulistas que é urgente rever a gestão da circulação dos automóveis na cidade com restrição de estacionamentos nas vias públicas e disponibilizando esse espaço viário para construir calçadas, ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, tornar os estacionamentos uma política pública reduzindo drasticamente e taxando nas áreas centrais e incentivando junto aos estações de sistemas metroferroviários e de corredores exclusivos de ônibus, essas propostas também fazem parte da Lei 12.587 e que poderíamos aprofundar em outra ocasião.



Blog Ponto de Ônibus 

 “Em São Paulo, mais linhas de ônibus só vão engarrafar a cidade”. A frase, que não poderia estar mais equivocada, foi dita pelo ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), em um debate com a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B). Os dois são candidatos às prefeituras de São Paulo e Porto Alegre, respectivamente. O debate teve como foco o livro “O Triunfo das Cidades”, do economista Edward Glaeser, e aconteceu no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Sobre a colocação do candidato tucano, vamos examinar alguns dados:

São Paulo possui 17 mil quilômetros de vias (ruas e avenidas). A frota de automóveis registrados na cidade está em torno dos 7 milhões e estima-se que cada carro transporte, em média, 1,2 pessoas (66% circulam apenas com o motorista). Por conta disso, segundo o engenheiro de tráfego Horácio Figueira, 90% das vias são ocupadas por carros.

Mas se analisarmos a divisão modal da cidade, vemos que das 38 mil viagens diárias feitas em São Paulo, perto de 14 mil são feitas em transportes coletivos, 11.500 mil em carros individuais e 12.500 de forma não motorizada (como de bicicleta e caminhando). (Os valores estão arredondados). Isso significa que os 90% das vias ocupadas por carros estão sendo usados para transportar mais ou menos um terço das pessoas.
Há uma imagem que ajuda a visualizar isso. Talvez você conheça a versão alemã dessa foto abaixo, mas essa projeção foi feita pela prefeitura de São Paulo para ilustrar que são necessários 127 carros para transportar 190 passageiros. Esses mesmos 190 passageiros poderiam estar em dois ônibus ou em um biarticulado, e ocupariam muito menos espaço.
mobilidade urbana
Montagem baseada em campanha publicitária na Europa que mostra a ocupação inteligente do espaço urbano pelo transportes coletivos dá a noção exata de que a declaração de José Serra além de ter sido infeliz foi errada. Um ônibus pode substituir vários veículos de passeio que realmente engarrafam a cidade. Foto: Montagem – Prefeitura de São Paulo
Diante disso, acho que fica claro que o que congestiona as ruas de São Paulo é o excesso de veículos individuais. Mas Serra não estava atacando o transporte público em si. O que ele defende é que as vias da cidade já estão saturadas e mais ônibus só vão piorar o trânsito. Para ele, o investimento em transportes públicos deve ser concentrado em transporte sobre trilhos. Mas ele se esquece que nem sempre é possível levar trilhos para todas as partes da cidade.

Serra criticou as linhas de ônibus, mas não a grande quantidade de carros de passeio.

Aí entram mais alguns dados do engenheiro Horácio Figueira:

Tomando uma avenida média de São Paulo como exemplo, a av. Brasil, os gastos necessários para criar um corredor de ônibus na faixa da direita giram em torno de R$ 500 mil. Se fosse uma faixa à esquerda, sem interrupção pelo tráfego de carros, o valor subiria para R$ 10 milhões. Agora, se o investimento fosse feito para colocar em prática uma linha de metrô, o montante bateria os R$ 200 milhões. Por dia, as linhas de ônibus transportariam de 3 a 4 milhões, enquanto a linha de metrô daria vazão a 850 mil pessoas neste trecho. Transporte sobre trilhos é pelo menos 10 vezes mais caro do que uma faixa de ônibus e transporta 4 vezes menos gente, segundo Horácio Figueira. Um bom exemplo é Londres, onde os 1.500 quilômetros de metrô transportam metade dos passageiros de ônibus.

Veja, não se trata aqui de escolher entre um ou outro, mas de priorizar o que for mais adequado a cada situação.

O urbanista do Gehl Architects, Jeff Risom, defende que, do ponto de vista da mobilidade, a boa cidade é a que possui mais opções. “É a cidade que me oferece uma gama diferente de meios de locomoção para que eu possa escolher o que melhor atende minhas necessidades naquele dia”. O diretor do departamento de mobilidade da prefeitura de Amsterdam, Fokko Kuik, partilha dessa opinião. “Cada meio de transporte atende a uma necessidade específica”, explica. Na capital holandesa, as vias são divididas em 5 tipos diferentes, algumas só para pedestres, algumas para bicicletas e trens, outras para carros e ônibus, etc.
Em Londres, o pesquisador Yves Cabannes, da University College of London, é um defensor de políticas públicas que inibam o uso de carros e incentivem maneiras “mais inteligentes” de se locomover. “Sistemas de carros compartilhados e políticas públicas como proibir estacionamento em locais públicos ou aplicar pedágio urbano em áreas do centro expandido são passos inevitáveis para sanar o congestionamento de cidades como São Paulo”, disse ele.

Serra discorda. Para ele, o prefeito que tentar implantar pedágio urbano em São Paulo vai sofrer um impeachment.

Esse não é um blog partidário. Minha intenção não é influenciar seu voto com base em declarações ditas durante um debate. O foco aqui é debater planejamento urbano, e, principalmente, combater ideias velhas.

Por Flávio Massayoshi Oota, do Planeta Sustentável, extraído do Blog The City Fix Brasil, postagem de Maria Fernanda Cavalcanti