sexta-feira, 20 de junho de 2014

Corrida Maluca



Hoje, no trânsito temos uma pressa desmedida, na qual não damos aos deslocamentos seu necessário tempo. Não adianta reclamar. Por mais que agendemos nossos compromissos, tentando aproveitar ao máximo nossas horas, sofremos ao longo das 24 horas do dia inúmeros contratempos alheios à nossa vontade. No trânsito, por exemplo, não há como prever um acidente que poderá deter o fluxo de veículos nos prendendo em meio a um congestionamento sem fim. Nem mesmo há como prever que o ônibus, o trem ou o metrô estarão no horário e em condições humanas para se circular com eles. Isso faz com que o tempo útil diminua cada vez mais.

Não destinamos, portanto, um tempo ao trânsito. Pensamos nos compromissos em si, mas o tempo do trânsito a gente dá um jeitinho. Em geral, um jeitinho brasileiro. Pensamos que pressionar o motorista de táxi resolve, pensamos que um pé mais pesado no acelerador de nossos veículos também resolve, afinal, já que precisamos com certeza o trânsito estaria desobstruído para nós, não?

Segundo uma pesquisa realizada pelo Denatran em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, o motorista brasileiro perde, em média, duas horas diárias no trânsito de suas cidades, sendo que o paulistano é o que mais fica preso em congestionamentos, perdendo cerca de três horas por dia.

É aí que entramos em uma das maiores armadilhas do trânsito: a pressa. Como nosso planejamento levou em conta nossos deveres, sem, entretanto a devida importância ao nosso deslocamento para chegar até eles, nossa agenda fica atrasada. Os compromissos são, via de regra, inflexíveis, sem possibilidade de adiamento. Portanto, o que sobra para interferirmos, como senhores do tempo, é o trânsito. Transformamos, mentalmente, os automóveis em máquinas do tempo que poderiam nos levar, quase em teletransporte, ao local que precisamos em questão de minutos.

A mesma pesquisa do Denatran constatou que mais de 50% das pessoas entrevistadas assumiram que nada fazem para acabar com os congestionamentos e quase 70% delas andam sozinhas em seus veículos, sem sequer reconhecer que também são responsáveis pelos congestionamentos.

A partir daí, qualquer costura na via pública, para ganhar uns metros, vale a pena o risco de mudança de pista. Qualquer sinal amarelo vale a pena o risco do aproveitamento. Qualquer cruzamento deixa de ser visto como um perigo em potencial para dar passagem à nossa pressa, afinal de contas os demais condutores entenderão, pois estamos, excepcionalmente hoje, atrasados. Assim, ganharemos trânsito livre e preferência em nossa corrida maluca com destino aos nossos compromissos. Pena que os demais também estão com o mesmo dilema. Em vez de encarar o trânsito como um ato social, com um tempo merecido e certas convenções a serem observadas, encaramos como um inconveniente passageiro do qual tentamos o mais rapidamente sair.

 Quanto maior nossa pressa, maior também o nível de risco que estamos dispostos a correr, sempre sabemos que vamos nos organizar melhor no dia seguinte. Mas nada como chegar inteiro, por sorte, para nos causar uma provável amnésia em nossas efêmeras resoluções. É preciso solucionar o stress no percurso casa-trabalho pois os investimentos em obras públicas não acompanham o crescimento populacional, nem o aumento no trânsito. Mesmo com as novas obras do Metrô, o aumento no número de trens etc., isso não chega de suprir uma cidade enorme como São Paulo, que além dos seus 10 milhões de habitantes ainda tem uma população flutuante de mais 3 milhões de pessoas.