Hoje, no
trânsito temos uma pressa desmedida, na qual não damos aos deslocamentos seu
necessário tempo. Não adianta reclamar. Por mais que agendemos nossos
compromissos, tentando aproveitar ao máximo nossas horas, sofremos ao longo das
24 horas do dia inúmeros contratempos alheios à nossa vontade. No trânsito, por
exemplo, não há como prever um acidente que poderá deter o fluxo de veículos
nos prendendo em meio a um congestionamento sem fim. Nem mesmo há como prever
que o ônibus, o trem ou o metrô estarão no horário e em condições humanas para
se circular com eles. Isso faz com que o tempo útil diminua cada vez mais.
Não
destinamos, portanto, um tempo ao trânsito. Pensamos nos compromissos em si,
mas o tempo do trânsito a gente dá um jeitinho. Em geral, um jeitinho
brasileiro. Pensamos que pressionar o motorista de táxi resolve, pensamos que
um pé mais pesado no acelerador de nossos veículos também resolve, afinal, já
que precisamos com certeza o trânsito estaria desobstruído para nós, não?
Segundo uma
pesquisa realizada pelo Denatran em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
Porto Alegre, o motorista brasileiro perde, em média, duas horas diárias no
trânsito de suas cidades, sendo que o paulistano é o que mais fica preso em
congestionamentos, perdendo cerca de três horas por dia.
É aí que
entramos em uma das maiores armadilhas do trânsito: a pressa. Como nosso
planejamento levou em conta nossos deveres, sem, entretanto a devida
importância ao nosso deslocamento para chegar até eles, nossa agenda fica
atrasada. Os compromissos são, via de regra, inflexíveis, sem possibilidade de
adiamento. Portanto, o que sobra para interferirmos, como senhores do tempo, é
o trânsito. Transformamos, mentalmente, os automóveis em máquinas do tempo que
poderiam nos levar, quase em teletransporte, ao local que precisamos em questão
de minutos.
A mesma
pesquisa do Denatran constatou que mais de 50% das pessoas entrevistadas
assumiram que nada fazem para acabar com os congestionamentos e quase 70% delas
andam sozinhas em seus veículos, sem sequer reconhecer que também são
responsáveis pelos congestionamentos.
A partir
daí, qualquer costura na via pública, para ganhar uns metros, vale a pena o
risco de mudança de pista. Qualquer sinal amarelo vale a pena o risco do
aproveitamento. Qualquer cruzamento deixa de ser visto como um perigo em
potencial para dar passagem à nossa pressa, afinal de contas os demais
condutores entenderão, pois estamos, excepcionalmente hoje, atrasados. Assim,
ganharemos trânsito livre e preferência em nossa corrida maluca com destino aos
nossos compromissos. Pena que os demais também estão com o mesmo dilema. Em vez
de encarar o trânsito como um ato social, com um tempo merecido e certas
convenções a serem observadas, encaramos como um inconveniente passageiro do
qual tentamos o mais rapidamente sair.
Quanto maior nossa pressa, maior também o
nível de risco que estamos dispostos a correr, sempre sabemos que vamos nos
organizar melhor no dia seguinte. Mas nada como chegar inteiro, por sorte, para
nos causar uma provável amnésia em nossas efêmeras resoluções. É preciso
solucionar o stress no percurso casa-trabalho pois os investimentos em obras
públicas não acompanham o crescimento populacional, nem o aumento no trânsito.
Mesmo com as novas obras do Metrô, o aumento no número de trens etc., isso não
chega de suprir uma cidade enorme como São Paulo, que além dos seus 10 milhões
de habitantes ainda tem uma população flutuante de mais 3 milhões de pessoas.
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