segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Charge no site da ANTP






Frota de veículos de Belém deve triplicar em 10 anos



Belém completou dia 12, 398 anos. Segundo o último censo do IBGE, a cidade tem 1,4 milhão e habitantes e, como toda aspirante a gigante urbana, a capital enfrenta o inchaço no trânsito que aumenta de maneira vertiginosa: no último ano, o número de automóveis cresceu 10%, alcançando a marca de 700 mil veículos, e a expectativa é que esta frota triplique em dez anos, de acordo com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob).
Motorista há duas décadas, o corretor de imóveis Alessandro Chaves, 39 anos, é testemunha das mudanças sofridas pelo trânsito da cidade. "Tem muito carro, a cidade está cheia de obras, muita criminalidade, e temos que conviver com o caos, gerado, em grande parte, pela falta de fiscalização do estado e falta de educação do motorista”, diz.
Com uma câmera de vídeo estrategicamente colocada no painel do carro, Alessandro registra o que chama de "circo dos horrores” do trânsito de Belém. "Tem de tudo: moto com três, quatro passageiros, todos sem capacete; ultrapassagem irregular; avanço de sinal; fila dupla”, conta.
Chaves vive e trabalha em bairros centrais de Belém, e há quatro anos faz flagrantes e denuncia irregularidades por meio de vídeos que posta nas redes sociais. Alessandro conta que adotou a câmera por segurança, e acabou capturando inúmeras irregularidades cometidas no trânsito, como motos superlotadas e motoristas sem capacete (veja vídeo ao lado).
"Gravo e denuncio como um alerta. Gostaria que as pessoas se conscientizassem. O problema é a mania do menor esforço, de pensar em parar o carro de qualquer jeito ‘porque não vai demorar, é rapidinho’. Cidadania é saber dos nossos direitos, cobrá-los, e exercer nossos deveres”, diz. A maioria dos flagrantes foram feitos entre o bairro da Cidade Velha, local onde Alessandro trabalha, e a avenida Visconde de Sousa Franco, onde mora. "Se no metro quadrado mais caro da cidade é assim, imagina o que não acontece na periferia?”, questiona.
 Alessandro diz que um dos problemas mais recorrentes é o estacionamento irregular: imagens feitas pelo corretor mostram a ocupação indevida de uma vaga destinada a pessoas com deficiência de locomoção.
"Isso é o que, sem dúvida, mais me indigna: gente estacionando em vaga destina a idosos ou deficientes, e colocando o carro na calçada, impedindo os pedestres e cadeirantes de passar. Mostra que não há respeito pelo próximo, nem solidariedade. Esses deveriam passar um dia na pele daquele que prejudicou, para que entendam o quando uma tão que parece banal pode prejudicar alguém”, protesta.
Ranking de infrações
O motivo da indignação de Alessandro é o que também mais preocupa os órgãos reguladores do trânsito na capital: o estacionamento irregular é a infração de trânsito mais comum em Belém. Em 2013, foram 46 mil notificações, a maioria delas consideradas graves, o que prevê cinco pontos na carteira de habilitação e uma multa de R$ 127, 67.
O centro da cidade concentra os casos de fila dupla e carros parados em calçadas, acostamentos e esquinas, sobretudo em frente a órgãos públicos, nos centros comerciais e nem frente às escolas. Os pontos que concentram a incidência da infração são as avenidas Presidente Vargas e Nazaré, entre Quintino e Generalíssimo, e a avenida Gentil Bitencourt no mesmo trecho, além da travessa Nove de Janeiro, trecho entre Magalhães Barata e Antônio Barreto.
A segunda infração mais recorrente em Belém demostra que a pressa é inimiga de um trânsito seguro. Em 2013, foram mais de 32 mil notificações por avanço de sinal fechado, infração gravíssima, com a perda de sete pontos da habilitação e multa de R$ 191,54. "Temos a cultura da pressa, mas também vivemos em uma cidade que se tornou um canteiro de obras. Em muitos pontos, com o trânsito estrangulamento por essas construções, o motorista busca escapar do engarrafamento e acaba avançando o sinal”, diz coordenador operacional de trânsito da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), Panfílio Lobato.
Atualmente, segundo Lobato, uma obra pública é responsável pelo ponto mais crítico de congestionamento no trânsito na capital. O projeto do Bus Rapid Bus (BRT), iniciado em 2012, interditou parte do principal acesso de entrada para Belém, o Complexo do Entroncamento. "É o gargalo mais complicado, engarrafa todo o dia, durante praticamente o dia inteiro, só melhora à noite”, diz Lobato.
Dirigir falando ao celular é a terceira infração mais comum em Belém: foram 16 mil autuações, com uma multa de R$ 85, 13 e menos quatro pontos na carteira. "O ato de dirigir requer atenção constante. Conversar ao celular na direção reduz a atenção e gera risco de acidente, e se torna mais perigoso quando são motoqueiros falando ao celular”, alerta Lobato.
Falta efetivo
As motos, aliás, registraram um grande crescimento na frota em 2013, e com isso, aumentaram também as infrações cometidas pelos pilotos, que ocupam o quarto lugar no ranking de multas da SeMob, com 12 mil notificações, a maioria por dirigir sem capacete.
"É um acessório barato e obrigatório, mas mesmo assim eles não usam, sobretudo na periferia. Os condutores não são habilitados. Eles saem da bicicleta e passam para moto achando que é a mesma coisa, que podem ter o mesmo comportamento”, diz Panfílio.
O coordenador admite a dificuldade de fiscalizar tamanha demanda: para se ter controle básico sobre o tráfego na cidade,  seria necessário ter o dobro de agentes. "Temos 137 fiscais nas ruas. O efetivo não é suficiente. O efetivo básico, para se ter controle, seria de 450 agentes, para a atual frota de veículos da região metropolitana. A superintendência já fala em novo concurso para 2014, para complementar o quadro”, diz Lobato. "Nós temos um conjunto de problemas: o primeiro é o de infraestrutura, que temos tentando melhorar; mas o condutor em si precisa de educação para entender que quando ele comete uma infração, ele tira o direito de um condutor que dirige de forma segura e ainda coloca em risco vidas”, finaliza.
G1