Motorista há duas décadas, o corretor de imóveis Alessandro
Chaves, 39 anos, é testemunha das mudanças sofridas pelo trânsito da cidade.
"Tem muito carro, a cidade está cheia de obras, muita criminalidade, e temos
que conviver com o caos, gerado, em grande parte, pela falta de fiscalização do
estado e falta de educação do motorista”, diz.
Com uma câmera de vídeo estrategicamente colocada no painel
do carro, Alessandro registra o que chama de "circo dos horrores” do trânsito
de Belém. "Tem de tudo: moto com três, quatro passageiros, todos sem capacete;
ultrapassagem irregular; avanço de sinal; fila dupla”, conta.
Chaves vive e trabalha em bairros centrais de Belém, e há
quatro anos faz flagrantes e denuncia irregularidades por meio de vídeos que
posta nas redes sociais. Alessandro conta que adotou a câmera por segurança, e
acabou capturando inúmeras irregularidades cometidas no trânsito, como motos
superlotadas e motoristas sem capacete (veja vídeo ao lado).
"Gravo e denuncio como um alerta. Gostaria que as pessoas se
conscientizassem. O problema é a mania do menor esforço, de pensar em parar o
carro de qualquer jeito ‘porque não vai demorar, é rapidinho’. Cidadania é
saber dos nossos direitos, cobrá-los, e exercer nossos deveres”, diz. A maioria
dos flagrantes foram feitos entre o bairro da Cidade Velha, local onde
Alessandro trabalha, e a avenida Visconde de Sousa Franco, onde mora. "Se no
metro quadrado mais caro da cidade é assim, imagina o que não acontece na
periferia?”, questiona.
Alessandro diz que um
dos problemas mais recorrentes é o estacionamento irregular: imagens feitas
pelo corretor mostram a ocupação indevida de uma vaga destinada a pessoas com
deficiência de locomoção.
"Isso é o que, sem dúvida, mais me indigna: gente
estacionando em vaga destina a idosos ou deficientes, e colocando o carro na
calçada, impedindo os pedestres e cadeirantes de passar. Mostra que não há
respeito pelo próximo, nem solidariedade. Esses deveriam passar um dia na pele
daquele que prejudicou, para que entendam o quando uma tão que parece banal
pode prejudicar alguém”, protesta.
Ranking de infrações
O motivo da indignação de Alessandro é o que também mais
preocupa os órgãos reguladores do trânsito na capital: o estacionamento
irregular é a infração de trânsito mais comum em Belém. Em 2013, foram 46 mil
notificações, a maioria delas consideradas graves, o que prevê cinco pontos na
carteira de habilitação e uma multa de R$ 127, 67.
O centro da cidade concentra os casos de fila dupla e carros
parados em calçadas, acostamentos e esquinas, sobretudo em frente a órgãos
públicos, nos centros comerciais e nem frente às escolas. Os pontos que
concentram a incidência da infração são as avenidas Presidente Vargas e Nazaré,
entre Quintino e Generalíssimo, e a avenida Gentil Bitencourt no mesmo trecho,
além da travessa Nove de Janeiro, trecho entre Magalhães Barata e Antônio
Barreto.
A segunda infração mais recorrente em Belém demostra que a
pressa é inimiga de um trânsito seguro. Em 2013, foram mais de 32 mil
notificações por avanço de sinal fechado, infração gravíssima, com a perda de
sete pontos da habilitação e multa de R$ 191,54. "Temos a cultura da pressa,
mas também vivemos em uma cidade que se tornou um canteiro de obras. Em muitos
pontos, com o trânsito estrangulamento por essas construções, o motorista busca
escapar do engarrafamento e acaba avançando o sinal”, diz coordenador
operacional de trânsito da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de
Belém (Semob), Panfílio Lobato.
Atualmente, segundo Lobato, uma obra pública é responsável
pelo ponto mais crítico de congestionamento no trânsito na capital. O projeto
do Bus Rapid Bus (BRT), iniciado em 2012, interditou parte do principal acesso
de entrada para Belém, o Complexo do Entroncamento. "É o gargalo mais
complicado, engarrafa todo o dia, durante praticamente o dia inteiro, só melhora
à noite”, diz Lobato.
Dirigir falando ao celular é a terceira infração mais comum
em Belém: foram 16 mil autuações, com uma multa de R$ 85, 13 e menos quatro
pontos na carteira. "O ato de dirigir requer atenção constante. Conversar ao
celular na direção reduz a atenção e gera risco de acidente, e se torna mais
perigoso quando são motoqueiros falando ao celular”, alerta Lobato.
Falta efetivo
As motos, aliás, registraram um grande crescimento na frota
em 2013, e com isso, aumentaram também as infrações cometidas pelos pilotos,
que ocupam o quarto lugar no ranking de multas da SeMob, com 12 mil
notificações, a maioria por dirigir sem capacete.
"É um acessório barato e obrigatório, mas mesmo assim eles
não usam, sobretudo na periferia. Os condutores não são habilitados. Eles saem
da bicicleta e passam para moto achando que é a mesma coisa, que podem ter o
mesmo comportamento”, diz Panfílio.
O coordenador admite a dificuldade de fiscalizar tamanha
demanda: para se ter controle básico sobre o tráfego na cidade, seria necessário ter o dobro de agentes.
"Temos 137 fiscais nas ruas. O efetivo não é suficiente. O efetivo básico, para
se ter controle, seria de 450 agentes, para a atual frota de veículos da região
metropolitana. A superintendência já fala em novo concurso para 2014, para
complementar o quadro”, diz Lobato. "Nós temos um conjunto de problemas: o
primeiro é o de infraestrutura, que temos tentando melhorar; mas o condutor em
si precisa de educação para entender que quando ele comete uma infração, ele
tira o direito de um condutor que dirige de forma segura e ainda coloca em
risco vidas”, finaliza.
G1
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