O efeito do Álcool e direção, além
da velocidade, no público adolescente.
O que eles dizem e fazem é o que ocorre em relação ao
álcool: se você pergunta, independentemente de ser adolescente, as pessoas
dizem que não pode beber e dirigir, que é a conduta certa. Mas a hora que você
transpõe a fala para a ação a coisa não é assim. Caso contrário não teríamos um
índice tão alto de acidente envolvendo álcool. Ninguém nem pegaria carona com
motorista sob efeito de álcool. O comportamento mostra que os adolescentes, em
particular, não sabem o que é entrar em um carro com uma pessoa alcoolizada,
não sabem do risco. E o mesmo para dirigir. I sso acontece comos adolescentes,
mas permeia toda a cultura brasileira. Nos países fora do Brasil ocorre o medo
de ser punido e isso não acontece. Aqui, elas acham que não vão pagar caro. A
sensação da impunidade, apesar da lei seca, não foi suficiente. Na verdade,
beber e dirigir é um comportamento mais difícil de mudar que usar o cinto.
Porque envolve uma mudança maior, há perda de comodidade. Para sair com os
amigos, ir em uma festa, por exemplo, precisa ter esquema: ou alguém não bebe,
ou você precisa pedir táxi etc. Você só faria isso se o risco da punição fosse
iminente. Quando começou a fiscalização ostensiva o comportamento mudou. Hoje
já não tenho essa certeza. Essa mudança de paradigma de comportamento só se vai
conseguir de fato com um sistema de fiscalização eficiente.
Como transmitir isso ao jovem é um desafio para nossos comunicadores. Porque se
você proíbe mostrando que é um risco, cai na rebeldia do jovem. Então tem que
ser passado de uma maneira eficiente e mais divertida que restritiva. Os
adolescentes são solidários, gostam de andar em grupo, então é preciso
encontrar uma forma na qual ele não vai ser chamado de careta. Amigo da vez é
uma maneira de fazer mais simpática, mas não sei se consegue atingir a todos só
com essa abordagem.
O álcool age diferente em organismo adolescente?
O efeito no adolescente é pior, uma porque ele ainda está menos acostumado
a beber. É um bebedor novo. Quanto mais se bebe, aumenta a tolerância e diminui
os efeitos na medida em que você vai envelhecendo. Além disso, eles ainda não
têm o desenvolvimento físico pleno. Organismo menor, efeito físico maior. O
álcool age no sistema nervoso central, diminuindo suas ações conforme a
ingestão. A atenção, concentração, capacidade motora e o campo visual diminuem,
além disso, há perda do grau de vigília. Conforme se bebe mais, há falta de
coordenação até que se chegue no ponto da letargia completa e coma. É como se
fosse apagando as luzes do cérebro. E o álcool aumenta os outros comportamentos
perigosos, como não usar cinto, alta velocidade. O indivíduo só vai estar em
condição de dirigir pelo menos seis horas depois. Banho frio e café não
adiantam. O álcool não está na pele, está dentro do sangue.
O que mais aumenta as chances de acidentes?
Ao efeito do álcool se soma o comportamento do perfil do
adolescente, rebelde e agitado. O álcool desinibe e potencializa esse
comportamento, o que é trágico. Imagine um menino todo corajoso com um bando de
amigos querendo se mostrar. E nem precisa ter tomado muito! Em grupos, todos
ficam mais corajosos e aumentam os comportamentos inadequados. E hoje os
acessos aos carros estão muito fáceis. É muito mais adolescente e jovem com
carro. Há poucos anos, a maior parte deles não tinha, pegava emprestado de vez
em quando. Com essa facilidade de financiamento etc., pessoas que não tiveram
uma educação formal adequada para lidar com o carro estão com uma arma na mão.
O ensino de como se comportar na direção não veio da família, ele não aprendeu
a respeitar o veiculo motorizado. Isso também aumenta o risco de
acidentes.
E ele dirige há pouco tempo...
Pessoa nova,
motorista nova e bebedor novo. Passou por poucas experiências. Soma tudo isso e
você tem uma coisa explosiva. Para o jovem é uma sensação nova pegar o carro e
dirigir. É uma habilidade que ele está adquirindo, com importância social
grande. Se ele faz manobra, canta pneu, ele tem status e é inserido dentro do
grupo. Então ele já é um motorista com comportamento de risco. Há muita
preocupação com relação às drogas, mas em relação ao álcool os pais são mais
permissivos. Não vêem como uma droga e não vêem como um problema se o filho de
16 anos está bebendo. A associação dessa bebida descriminada e a falta de culpa
é complicado. E ficar bêbado é bacana para ele! É um rito de passagem. Somado a
bebida e a adrenalina você tem risco maior de acidentes. Por isso tem que ter
leis e fiscalização eficiente para que ao menos o adolescente tenha medo de ter
atitudes assim. Uma mudança no comportamento começa por esse caminho. Essa
questão deve ser prioridade. Fazer uma ação ampla, treinar um grupo de
policiamento especial, pegar e punir os motoristas bêbados. O pouquinho que a
gente conseguiu na promulgação da lei seca houve uma redução efetiva dos
acidentes, menos internação e menos morte. Esse caminho mostrou de forma clara
que é por aí. A campanha, a informação não deve deixar de existir, mas
ela fica banal sem a fiscalização.
Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT