quinta-feira, 11 de julho de 2013

Com menos trânsito, tarifa de ônibus poderia ser R$ 2 em SP


As manifestações seguem pelo Brasil e as bandeiras se diversificaram (algumas até foram queimadas). Mas aqui no blog, sigo falando de mobilidade, pois acredito que o levante nacional é uma oportunidade de se aprofundar na compreensão de velhos problemas. E o trânsito de São Paulo é um deles.
A tarifa de ônibus baixou de novo. Para mim, o que há de mais nobre nessa redução é a disposição do prefeito em abrir os gastos com transportes, para que todo mundo os compreenda, e quebrar o oligopólio das empresas concessionárias (como defendeu a filósofa Marilena Chauí). E seria ótimo se a lógica "vamos tirar dinheiro da saúde e transferir para os transportes” caísse por terra. Mobilidade também é um problema de saúde pública. (Só para lembrar um dado já citado pelo médico Paulo Saldiva: 80% dos leitos do SUS são ocupados por vítimas dos poluentes emitidos no congestionamento paulistano). A cidade é um organismo interdisciplinar.
Eu tinha prometido escrever sobre soluções. Antes, no entanto, vamos compreender duas questões chave.
Primeiro: quem paga as passagens de ônibus?
De acordo com dados da SPTrans, em apenas 25% dos deslocamentos de ônibus é paga a tarifa inteira. Nas demais viagens, os custos são pagos com Vale Transporte (a empresa paga e desconta 6% do salário do funcionário), Bilhete Único (a segunda viagem em um período de 2 horas não é paga pelo usuário), integração e por isenções parciais ou totais para grupos como estudantes e idosos. Claro, esse é um dado quantitativo, não há uma leitura qualitativa de quem são as pessoas que fazem essas 25% das viagens pagas integralmente. Eu chuto: são trabalhadores informais e autônomos. Se for assim, seriam os principais prejudicados pela tarifa alta, ainda que incluam nos preços de seus serviços o valor da passagem. Aliás, pior, com a tarifa alta demais, pode acabar ficando mais barato ir de carro – piorando ainda mais o trânsito. Seja como for, a redução da tarifa não ataca o problema central: a má qualidade de serviço de ônibus. Talvez ela seja um passo em direção a uma gestão mais participativa e transparente – pauta importantíssima, claro. Mas a lata de sardinha a 13 km/h no horário de rush seguirá sendo a mesma.
Segundo: por que a tarifa é cara?

Como mostrei no último post, o que mais encarece a tarifa dos ônibus em São Paulo é o custo da mobilidade. A cidade é deformada (empregos no centro, pessoas na periferia), a as ruas são mal priorizadas (150 km de corredores x 17 mil km de ruas e avenidas) e andar de carro muito barato (a gasolina é subsidiada e motoristas não pagam pelas externalidades dos seus deslocamentos, como fazem em Londres com o pedágio urbano). Gastar dinheiro público subsidiando a gasolina é inadmissível (esse dinheiro tinha que estar construindo mais corredores), mas o pedágio urbano, é importante lembrar, não seria aplicável nesse momento a São Paulo: não dá para cobrar a conta de quem está de carro sem melhorar a oferta dos ônibus antes. E isso se faz aumentando sua velocidade. Priorizando melhor as vias, com mais corredores. De acordo com o assessor da Associação Nacional dos Transportes Públicos, Eduardo Vasconcelos, o congestionamento de São Paulo encarece o custo total dos deslocamentos de ônibus por passageiro em pelo menos R$ 1. Segundo ele, ao brigar por espaço com os carros no trânsito, os ônibus têm sua velocidade reduzida, o que demanda uma frota maior para transportar as pessoas. Se a velocidade média dos ônibus aumentasse, a economia na tarifa seria muito maior do que os 20 centavos conquistados, podendo chegar aos R$ 2.
Natália Garcia, do blog Cidades para Pessoas / Planeta Sustentável