segunda-feira, 27 de junho de 2011

Democratização da malha viária. Esta é a principal medida para a melhoria do tráfego nas grandes regiões metropolitanas na avaliação do arquiteto e urbanista Nazareno Stanislau Affonso, Coordenador do MDT e da ANTP - Brasília

Ele defende em entrevista ao Diário do Grande ABC a proibição do estacionamento de carros nas ruas e a implantação de horários noturnos para o abastecimento do comércio como formas de reduzir os congestionamentos.

O que é preciso para melhorar o espaço viário das grandes cidades?

Maior democracia no uso do sistema viário. Hoje o espaço é feito para viabilizar o carro. Se analisarmos a cidade de São Paulo, por exemplo, a área destinada aos ônibus corresponde só a 10% do total.

É preciso dar mais espaço aos ônibus, então?

A democratização do espaço viário significa que, cada vez mais, é necessário aliviar os pontos de maior fluxo e colocar esses veículos em vias exclusivas.

Só isso?

Ainda há a questão da utilização do transporte urbano de carga. É preciso definir formas e horários para carga e descarga e os tipos de veículos que podem entrar em determinadas áreas da cidade. Os de grande porte, por exemplo, só poderiam circular à noite.

Isso não prejudicaria o abastecimento?

Não se ficasse claro para todos – indústrias, distribuidores, mercados etc. Assim, ao contratar um serviço de distribuição, todos já saberiam o que fazer. Poderiam ser criados pontos de distribuição, ou seja, locais onde os carros maiores possam descarregar e, dali, veículos menores fariam a entrega.

Estacionar na rua atrapalha?

Sim, os estacionamentos devem ir cada vez mais para o interior dos terrenos. Ao proibir os carros de pararem nas ruas, melhora-se a qualidade da via.

As calçadas precisam mudar?

Em áreas de grande fluxo de pedestres é necessário qualificá-las com piso adequado e rampas para os deficientes. A iluminação também é importante. Observe que o automóvel, que já tem lanterna, tem suas vias iluminadas; já o pedestre não conta com iluminação. Seu espaço viário deve ser tratado da mesma forma que o dos veículos. Quanto mais criarmos uma rede de transporte não-motorizado, mais avançaremos para ter uma mobilidade sustentável.

Como alcançar a tão desejada mobilidade sustentável?

A mobilidade não deve ser feita para os veículos, mas para as pessoas que precisam se deslocar, independentemente do tipo de transporte que utilizam. É necessário dar prioridade onde há maior deslocamento de indivíduos. Não é isso o que temos hoje.

O automóvel é o grande vilão?

O carro ocupa mais da metade do espaço viário e carrega, em mé dia, 1,5 pessoa; então, existe algu ma coisa errada. Sua utilização é in sustentável. A maioria anda só com o motorista. O automóvel precisa ter mais regimentos, não só as regras de trânsito.

As pessoas optaram pelo carro por que o transporte público é ruim?

Eu diria que é verdade se nos lo cais onde o transporte é bom ninguém andasse de carro. A experiência internacional tem mostrado que não é assim. Em vários locais com transporte de qualidade, a utilização do automóvel é assustadora.

Por que a opção por este meio?

O automóvel representa um sonho. Hoje, mais de 40% das compras são feitas por quem nunca teve carro.

Quais mudanças seriam ideais para o Grande ABC?

A solução é a integração. Essa área tem movimento monstruoso que se dá dentro das sete cidades. O que vai para fora da região não é tão grande. O Grande ABC inteiro é uma pequena região metropolitana, então, deveria ser criada uma rede própria de transportes.

Essa função é do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC?

Para dar certo, precisa ser iniciativa da entidade, que deve dialogar com o governo federal. Acredito que a rede poderia ser construída pelo Governo do Estado e/ou pelo Consórcio.

Diário do Grande ABC - Cartilha da Mobilidade Urbana

Cristina Baddinui Lucas - Assessora do MDT