Ele defende em entrevista ao Diário do Grande ABC a proibição do estacionamento de carros nas ruas e a implantação de horários noturnos para o abastecimento do comércio como formas de reduzir os congestionamentos.
O que é preciso para melhorar o espaço viário das grandes cidades?
Maior democracia no uso do sistema viário. Hoje o espaço é feito para viabilizar o carro. Se analisarmos a cidade de São Paulo, por exemplo, a área destinada aos ônibus corresponde só a 10% do total.
É preciso dar mais espaço aos ônibus, então?
A democratização do espaço viário significa que, cada vez mais, é necessário aliviar os pontos de maior fluxo e colocar esses veículos em vias exclusivas.
Só isso?
Ainda há a questão da utilização do transporte urbano de carga. É preciso definir formas e horários para carga e descarga e os tipos de veículos que podem entrar em determinadas áreas da cidade. Os de grande porte, por exemplo, só poderiam circular à noite.
Isso não prejudicaria o abastecimento?
Não se ficasse claro para todos – indústrias, distribuidores, mercados etc. Assim, ao contratar um serviço de distribuição, todos já saberiam o que fazer. Poderiam ser criados pontos de distribuição, ou seja, locais onde os carros maiores possam descarregar e, dali, veículos menores fariam a entrega.
Estacionar na rua atrapalha?
Sim, os estacionamentos devem ir cada vez mais para o interior dos terrenos. Ao proibir os carros de pararem nas ruas, melhora-se a qualidade da via.
As calçadas precisam mudar?
Em áreas de grande fluxo de pedestres é necessário qualificá-las com piso adequado e rampas para os deficientes. A iluminação também é importante. Observe que o automóvel, que já tem lanterna, tem suas vias iluminadas; já o pedestre não conta com iluminação. Seu espaço viário deve ser tratado da mesma forma que o dos veículos. Quanto mais criarmos uma rede de transporte não-motorizado, mais avançaremos para ter uma mobilidade sustentável.
Como alcançar a tão desejada mobilidade sustentável?
A mobilidade não deve ser feita para os veículos, mas para as pessoas que precisam se deslocar, independentemente do tipo de transporte que utilizam. É necessário dar prioridade onde há maior deslocamento de indivíduos. Não é isso o que temos hoje.
O automóvel é o grande vilão?
O carro ocupa mais da metade do espaço viário e carrega, em mé dia, 1,5 pessoa; então, existe algu ma coisa errada. Sua utilização é in sustentável. A maioria anda só com o motorista. O automóvel precisa ter mais regimentos, não só as regras de trânsito.
As pessoas optaram pelo carro por que o transporte público é ruim?
Eu diria que é verdade se nos lo cais onde o transporte é bom ninguém andasse de carro. A experiência internacional tem mostrado que não é assim. Em vários locais com transporte de qualidade, a utilização do automóvel é assustadora.
Por que a opção por este meio?
O automóvel representa um sonho. Hoje, mais de 40% das compras são feitas por quem nunca teve carro.
Quais mudanças seriam ideais para o Grande ABC?
A solução é a integração. Essa área tem movimento monstruoso que se dá dentro das sete cidades. O que vai para fora da região não é tão grande. O Grande ABC inteiro é uma pequena região metropolitana, então, deveria ser criada uma rede própria de transportes.
Essa função é do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC?
Para dar certo, precisa ser iniciativa da entidade, que deve dialogar com o governo federal. Acredito que a rede poderia ser construída pelo Governo do Estado e/ou pelo Consórcio.
Diário do Grande ABC - Cartilha da Mobilidade Urbana
Cristina Baddinui Lucas - Assessora do MDT
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