São Paulo 461 anos: A importância do ônibus na história e no futuro
Cidade precisa de rede metroferroviária maior, mesmo assim se tornou uma das metrópoles mais importantes do mundo andando de ônibus que mostra no mundo que é sim o transporte do futuro
ADAMO BAZANI – CBN
É inegável que com 78 quilômetros de metrô e com 260 quilômetros de rede de trens da CPTM, que poderiam de fato ter uma eficiência semelhante ao metrô, a cidade de São Paulo precisa de mais investimentos para melhorar e ampliar seus serviços metroferroviários.
No entanto, é também inegável que São Paulo se tornou uma das metrópoles mais importantes do mundo com o auxílio basicamente de ônibus. E, apesar de problemas e necessidades constantes de melhorias, eles deram e ainda dão conta do recado.
De acordo com a SPTrans, gerenciadora dos transportes da Capital Paulista, por ano são registradas quase 3 bilhões de passagens somente no sistema municipal.
Reconhecer a importância histórica do ônibus em São Paulo e no desenvolvimento da cidade, não é renegar os outros meios de transporte. Mas é prestar um tributo a um sistema que movimenta a rotina de nove milhões de pessoas por dia que dependem direta e indiretamente dos ônibus na cidade.
Vale remeter aos anos de 1920 e 1939, quando a ferrovia, que foi injustamente sucateada no Brasil, ainda era forte, São Paulo já atraía pessoas de outros lugares do Brasil e do Mundo. Os loteamentos no entorno das ferrovias já estavam adensados e caros. Assim, as pessoas começaram a morar em áreas mais distantes.
Os bondes em São Paulo foram de fundamental importância para o crescimento urbano. Mas foram os ônibus os meios de transportes capazes mesmo de ligar as massas das áreas mais distantes até os locais de geração de renda, emprego e oferta de serviços básicos para a dignidade.
O transporte por ônibus é flexível, chega até o local onde os trilhos não conseguem pela rápida expansão territorial da área urbana ou por dificuldades técnicas mesmo. Os ônibus foram cortando a cidade de São Paulo conforme a população precisava. E onde havia ônibus, mais pessoas se interessavam pelo local: Um verdadeiro movimento de mão dupla.
Como espelho da cidade, já nos anos de 1940, os transportes estavam desorganizados, com disputa de donos de ônibus por algumas linhas e áreas ainda carentes de mais serviços de mobilidade. Foi então que em 1946 foi oficializada a criação da CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, empresa pública que na época chegou a operar 90% dos serviços na cidade, entre ônibus e bondes.
Mas São Paulo continuava crescendo e mais uma vez, os ônibus correspondendo. No final dos anos de 1950, a iniciativa privada voltava a ter mais participação nos transportes, mesmo com a CMTC, que foi privatizada entre 1993 e 1994 na gestão de Paulo Maluf.
A CMTC foi de extrema importância não só para São Paulo. Delegações do mundo todo vinham ver como funcionava uma empresa que não se restringia a ser operadora. Era gerenciadora re chegou até mesmo fabricar ônibus e trólebus. Os erros administrativos, a má gestão e o desrespeito ao dinheiro público forma sucumbindo com a CMTC.
Nos anos de 1960, os empresários que dirigiam, cobravam, limpavam os ônibus, abriam as ruas muitas vezes com as próprias enxadas e ainda administravam as viações, assumiam uma postura mais gerencial e era iniciada a criação de grupos maiores de companhias de ônibus, muitos cujos fundadores até hoje atuam na cidade.
O crescimento populacional, a inflação dos anos 80 até 1995, a necessidade de novas tecnologias nos veículos e o sistema cada vez mais complexo de operar foram alguns desafios vencidos conjuntamente entre poder público, empresas de ônibus e população.
Ônibus não é somente história e não pode ser visto como algo do passado. Quem pensa assim não tem noção de que mesmo em cidades onde o transporte metroferroviário é eficiente e possui uma malha significativa, os serviços de ônibus assumem um papel importante na integração com o trem e metrô. Além disso, não só na América Latina, mas em tambppem nas áreas economicamente mais desenvolvidas, através dos corredores do tipo BRT (Bus Rapid Transit), que são mais modernos e oferecem possibilidade de deslocamentos mais rápidos, o ônibus não se restringe ao papel de alimentador do trem ou metrô, mas é parte da solução para os transportes de grandes quantidades de pessoas.
O ônibus é e sempre será importante no desenvolvimento urbano.
No caso específico de São Paulo, muita coisa tem de mudar e avançar nos transportes. Mas São Paulo cresceu assim, com os ônibus. É o responsável por boa parte da renda do País, com os ônibus. Acolheu e acolhe pessoas do mundo todo, com os ônibus. E, apesar sim da necessidade da expansão do sistema metroferroviário, os ônibus vão continuar sendo fundamentais para que São Paulo se desenvolva e ofereça mais qualidade de vida a todos que moram, trabalham e passeiam pela cidade.
E nada mais justo que nos 461 anos de São Paulo completados neste dia 25 de janeiro ressaltar este fato.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes