Ao participar do Seminário Nacional da NTU – evento realizado de 1º a 3 de setembro de 2015, no Centro de Convenções Transamérica, em São Paulo, paralelamente à feira Transpúblico 2015
–, o coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte
Público de Qualidade para Todos (MDT), Nazareno Affonso, defendeu a
democratização das vias públicas, com a distribuição do espaço de forma
proporcional ao volume de deslocamento permitido pelos diferentes
modais. Segundo disse, isso significará reduzir o espaço viário ocupado
pelos automóveis de 80% para 30%, devolvendo aos pedestres, aos
ciclistas e ao transporte público os 70% a que têm direito, conforme
determinado pela Lei da Mobilidade Urbana. Dessa forma, será possível
constituir uma rede cicloviária e de calçadas acessíveis, e retirar os
ônibus dos congestionamentos produzidos pelos automóveis.
“É importante democratizarmos as vias. Para que isso aconteça, tenho
defendido a proibição de estacionamento em todas as vias de circulação
de transporte público – com a devida alteração o Código de Transito
Brasileiro para respaldar essa medida. Também defendo que os
investimentos públicos estabeleçam foco no sistema convencional de
ônibus, com pavimentação de vias, abrigos nos pontos de parada,
informações para os usuários, faixas exclusivas monitoradas
eletronicamente e prioridade para o transporte público”, afirmou o
dirigente do MDT, depois de assinalar que a política de estado adotada
pelo Brasil foi a de universalização do automóvel, incluindo diversos
subsídios para implantar sistema viário, adquirir os veículos e reduzir o
preço da gasolina. Para ele, “não há uma solução que possibilite acabar
com os congestionamentos dando fluidez para os automóveis”.
Pontos do debate. A participação do representante do MDT aconteceu no segundo dia do
Seminário Nacional da NTU 2015, no painel intitulado
Prioridade ao coletivo por uma mobilidade sustentável,
que teve a participação de autoridades e lideranças do setor e mediação
do jornalista George Vidor, que iniciou o debate indagando qual seria a
contribuição do setor para a melhoria da qualidade do serviço oferecido
ao passageiro.
O secretário de Transportes da capital paulista, Jilmar Tatto, também
defendeu uma nova divisão do espaço viário, com redução do privilégio
concedido aos automóveis, que ocupam 80% dos espaços públicos nas ruas e
avenidas. De acordo com o secretário há muita resistência para que se
realizem as mudanças necessárias na mobilidade urbana, e essa
resistência vem da própria população, do comércio e dos usuários dos
carros. “Nós fizemos as faixas porque a lei diz que temos que priorizar o
transporte coletivo. Hoje, nas faixas, temos velocidade de 23 km/h,
antes era 12 km/h. O usuário está ganhando até quatro horas no seu
deslocamento diário. Isso significa maior qualidade de vida”, disse o
secretário, acrescentando que a garantia do fluxo dos ônibus permite
melhorar muito a operação.
O presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos
(NTU), Otávio Cunha, registrou a falta investimento na infraestrutura,
citando como exemplo o fato de a velocidade média comercial do ônibus
urbano ter-se reduzido de 20 km/h para 16 km/h. “Ficamos anos sem fazer
investimento no setor. Agora precisamos retomar isso. A classe
empresarial está a postos, mas não podemos ficar na discussão de tarifa.
Um serviço de maior qualidade custa mais caro e isso requer subvenção”.
Também participaram dos debates o secretário nacional de Transporte e
Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Dario Rais Lopes; o
presidente do sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de
Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), Francisco Christovam, e o
promotor de justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Carlos
Alberto Valera.
Outras sessões. A solenidade de abertura do Seminário
Nacional NTU 2015 teve a participação do ministro das Cidades, Gilberto
Kassab; do secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São
Paulo, Clodoaldo Pelissioni, e do secretário paulistano dos Transportes,
Jilmar Tatto, além do presidente da NTU, Otávio Vieira da Cunha e
outras personalidades do setor.
Em outro painel do segundo dia, a diretora do projeto Smart, da
Universidade de Michigan (EUA), Susan Zielinski, falou sobre o futuro da
mobilidade sustentável e as tendências mundiais. A sessão foi
coordenada pelo diretor técnico da NTU, André Dantas, e teve a
participação do presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes
Públicos de Mobilidade Urbana e da Urbs, de Curitiba, Roberto Gregório
da Silva Júnior, e do presidente da BHTrans, de Belo Horizonte, Ramon
Victor Cesar.
O Seminário Nacional da NTU teve ainda a participação do jornalista e
comentarista econômico da Rede Globo e CBN, Carlos Alberto Sardenberg,
que, em conferência, tratou do cenário econômico nacional, desafios e as
perspectivas para o país neste momento de crise econômica e política.
Os outros dias. No primeiro dia dos encontro da NTU,
houve a solenidade de entrega do décimo ciclo bienal do Prêmio ANTP de
Qualidade, concedido pela Associação Nacional de Transportes Públicos.
No último dia do seminário, desenvolveu-se a
Oficina de Tecnologia Veicula,
na qual especialistas, operadores e representantes da indústria
apresentaram e discutiram os cenários e tendências relacionadas a
diversos temas de interesse do setor, como alternativas energéticas e
inovações tecnológicas em motores, chassis e carrocerias.
Informativo MDT
Movimentando 111
setembro 2015