terça-feira, 14 de outubro de 2014

“Ruas com menos carros”. É o que defende Nazareno Affonso no I Seminário Sindiônibus de Transporte Coletivo

Com um amplo currículo, Nazareno Stanislau Affonso inicia a segunda parte do evento. Arquiteto e Urbanista, Coordenador do Escritório da Associação Nacional de Transportes Públicos em Brasília (ANTP), Coordenador do Movimento Nacional pelo Direito do Transporte Público de Qualidade para todos (MDT) e Presidente do Instituto RUAVIVA, Affonso apresentou dois vídeos sobre mobilidade urbana, falou sobre gratuidades e descontos, além de expor propostas para melhorar o setor.

Affonso começou seu discurso com uma interrogação: “De quem é a rua? Das pessoas ou dos veículos? Hoje elas são dos automóveis que ocupam mais de 80% das vias”. Para Affonso, a população tem uma grande dificuldade em deixar de utilizar seus automóveis. Ele citou o manifesto “Na cidade, sem meu carro” no qual vê a população preocupada com a mobilidade no dia do programa. Segundo ele, uma cidade com menos carros, mais calçadas largas e ciclovias é uma cidade com mais empregos, menos poluição e mais tranquila.

Durante a palestra, Affonso mostrou como o MDT luta para alcançar essas melhorias. O objetivo do movimento é inserir na agenda social e econômica da Nação o Transporte Público, um serviço essencial, como um direito para todos, visando a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável, com geração de emprego e renda.


Transporte por ônibus









Falar em custo de qualquer bem ou serviço normalmente gera polêmica. No caso do transporte público por ônibus gerou protestos. Mais que isso, a tarifa foi estopim da insatisfação generalizada contra tudo que não ia bem no Brasil, em junho do ano passado. Agora, no segundo turno da campanha eleitoral para presidente da República, é hora de debater o assunto e priorizar o transporte público nos programas de governo desses candidatos. Responsáveis pelo deslocamento diário de 40 milhões de passageiros, feitos unicamente por meio do ônibus, as operadoras dos serviços, representadas pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), fizeram o dever de casa: colocaram no papel propostas para resolver os principais nós da mobilidade urbana no país, com foco nos deslocamentos urbanos por ônibus.

No documento direcionado aos presidenciáveis, o setor elenca os principais eventos da história do transporte urbano nos últimos 20 anos e credita à falta de investimentos públicos o principal motivo de o segmento nunca ter avançado para conseguir atender às demandas da sociedade. Lá se foram mais de duas décadas de estagnação, sem políticas públicas adequadas às reais necessidades do cidadão que utiliza coletivos urbanos no dia a dia, o que acarretou, só ano passado, a evasão diária de 560 mil passageiros.

Na eterna disputa com o transporte individual, o coletivo urbano continua na lanterna, perdendo para os vultosos investimentos do Estado em reduções de impostos para a compra de automóveis e de motocicletas, em especial. O corte de impostos, a facilidade de financiamentos e subsídios à gasolina promoveram um incremento de 114% na frota de automóveis e de 398% na de motocicletas, no período de 2000 a 2012, segundo números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

O dado assusta e ameaça as contas do setor, que agora se vê de mãos atadas, tentando conciliar a demanda por tarifas justas e os parcos subsídios do governo ao transporte público. Com a consciência de que a conta das melhorias é alta e urgente, a NTU já se posicionou sobre o que precisa ser feito para o segmento sair dessa camisa de força. Deu as diretrizes de como equacionar essa situação em propostas que contemplam projetos de curto prazo, como as faixas exclusivas de ônibus, e outras soluções com esse perfil. Ainda é pouco. Nas contas da NTU, para resolver os principais entraves ao bom desempenho desse sistema de deslocamento é necessário investir também em projetos estruturantes - aqueles com prazo maior de execução, como BRT, VLT (veículo leve sobre trilhos) e metrô. Para esse caso, o setor estima que seriam necessários R$ 50 bilhões por ano nos próximos 10 anos. Por essa razão, acredita que os projetos de curto prazo são ideais para dar as respostas rápidas que a população cobra.

Qualidade requer investimentos e o segmento entende que para que eles não pesem tanto no bolso do cidadão, não existe outra saída senão a da subvenção pública, realidade observada na maioria dos países desenvolvidos. Cultura igualmente adotada por nossos vizinhos argentinos e chilenos. Essa também é uma das principais propostas que os empresários do ramo defendem para viabilizar essa aclamada melhoria da qualidade do transporte urbano por ônibus.

O segmento não ignora os avanços conquistados com a Lei da Mobilidade Urbana e as boas expectativas geradas pelos 215 projetos estruturantes em andamento, de acordo com os quatro programas desenvolvidos pelo governo federal. Eles contemplam 34 projetos de BRT, 75 de corredores de ônibus, três de trens urbanos, 11 de metrô, nove de VLT, 38 de obras viárias e mais 45 projetos envolvendo outras modalidades, alguns já inaugurados e em operação. Mas a maioria ainda está na fase de ação preparatória. Para que essa realidade comece a mudar, o segmento espera que o transporte público coletivo urbano seja visto como fator fundamental para o desenvolvimento econômico e social da nação. Para isso, é preciso que haja atitude nas três esferas de governo.

 Otávio Vieira da Cunha Filho
Presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)