Trânsito tem atrapalhado cada vez mais os passageiros de ônibus em São Paulo
De acordo com SPTrans, nos primeiros horários, ônibus cumprem tabela,
mas congestionamentos impedem que a programação seja seguida pelas
companhias
Blog Ponto de Ônibus
Que o trânsito complicado em cidades como São Paulo prejudica a todos, não é novidade nenhuma.
Mas de todos os prejudicados, os maiores são os passageiros dos transportes públicos.
Uma total falta de senso, já que a pessoa que deixou seu carro em casa
(ou mesmo sequer tem um veículo particular) é a que proporcionalmente
menos polui na cidade e que usa com melhor aproveitamento o espaço
urbano.
Essa pessoa deveria receber a contrapartida ao ter então circulação mais
rápida garantida na cidade. Veja só, o privilégio não deve ser para o
ônibus pura e simplesmente, mas para quem o usa.
O passageiro de transporte público além de “utilizar melhor a cidade”
abre mão (por espontaneidade ou mesmo por falta de opção) de comodidades
como de sair da garagem de casa já em seu veículo, ocupar uma área
maior sem dividí-la com ninguém e não ter de respeitar algumas regras
básicas de educação exigida no ambiente coletivo como comer dentro de
seu carro, ouvir a música que quiser no volume preferido, entre outras
possibilidades.
Tanto as pessoas que vão de carro como as que usam ônibus ficam presas no trânsito.
Mas o passageiro de transporte coletivo sofre mais porque pela falta de
prioridade no espaço urbano, os ônibus acabam não oferecendo a
confiabilidade necessária.
É o que revela o ranking das linhas com mais reclamações divulgado pela
SPTrans – São Paulo Transportes, autarquia que gerencia os transportes
municipais na Capital Paulista.
Todas as mais de 1360 linhas de ônibus de São Paulo possuem reclamações.
A maioria delas por causa de atrasos e não cumprimento dos horários.
Em boa parte das vezes, a causa disso é o fato de o ônibus ficar preso
no trânsito. Também há os fatores de quebras de veículos e, em algumas
ocasiões, mesmo sem autorização, viagens são “enforcadas” pelas
empresas.
No entanto, o trânsito realmente é o principal vilão para os transportes públicos.
AS LINHAS COM MAIS RECLAMAÇÕES:
A linha que em 2011 mais recebeu reclamações pela SPTrans é a 278A/10 (Penha – Ceasa).
Foram 320 registros só para ela, das 46 mil reclamações que a autarquia recebeu em relação a atrasos.
O número pode parecer pequeno, mas se o total de reclamações for
dividido pelo número de linhas, cada uma em média receberia 34 queixas.
A linha 278A/10 (Penha – Ceasa) tem um perfil que coloca seus passageiros como vítimas do trânsito.
Ela tem 38 quilômetros de extensão e percorre quase 90 vias, entre ruas e
avenidas. A linha atende a três regiões de São Paulo: zona Leste, zona
Norte e zona Oeste.
No meio do percurso enfrenta verdadeiros gargalos: Avenida Celso Garcia,
Avenida Amador Bueno da Veiga, partes da Mariginal Tietê, região do
Anhembi e da Vila Leopoldina.
A SPTrans constatou que as primeiras partidas são cumpridas, mas quando
os ônibus entram no trânsito, aí a previsão e a confiabilidade são quase
impossíveis.
E não adianta colocar mais ônibus. Seriam mais ônibus presos no trânsito provocando mais trânsito ainda.
A 278A/10 é um exemplo clássico do que pode ser feito para que a
mobilidade urbana seja melhorada em São Paulo e nas cidades com
características semelhantes.
Primeiro é que a pessoa que usa o transporte público merece e precisa de
prioridade na cidade. Para isso, é mais que urgente a constituição de
fato de uma malha de transportes coletivos pela qual ônibus em
corredores exclusivos e eficientes, do tipo BRT (Bus Rapid Transit) e
metrô de alta capacidade se complementem.
Não adianta expandir metrô sem melhorar os ônibus que o alimentam e só
os ônibus não dariam conta da demanda que deve ser atendida pelo metrô.
E nesse sentido de malha de transportes, as linhas de ônibus devem ter o
itinerário reduzido, desde que haja sistemas estruturais que atendam
suas demandas a partir de determinados pontos.
Assim, em vez de terem 38 quilômetros como a 278A/10, os itinerários
seriam menores. Mas eles deveriam levar as pessoas até novas estações e
linhas de metrô ou até novos terminais e corredores com ônibus
articulados ou biarticulados que levem essa demanda às áreas de maior
concentração na cidade.
É o sistema tronco-alimentador que deve ser bem planejado, caso
contrário, pode significar lotação em excesso e desconforto para os
usuários de transportes públicos.
Não adianta “jogar” a demanda de ônibus locais em sistemas e linhas saturadas.
Imagine “encurtar” a 278A/10 e colocar seus passageiros na linha 3 Vermelha do Metrô?
Por isso, as ações devem ser feitas por etapas. Inicialmente um
levantamento de vários órgãos sobre as carências e as demandas dos
transportes: EMTU (ônibus intermunicipais), CPTM (trens), Metrô, SPTrans
(ônibus municipais), gerenciadoras de transportes de cidades próximas
de São Paulo, como das regiões de Osasco, Guarulhos e ABC devem esquecer
qual o partido da prefeitura de suas cidades e sentarem juntas de fato.
Depois traçar as linhas estruturais e tirá-las do papel.
No caso do metrô, é natural que demorem mais para ficar prontas, já os
corredores de ônibus são mais rápidos. Mas tudo deve ser pensado de
acordo com cada demanda atual e já futura para que não nasçam sistemas
saturados.
Entre as linhas estruturais deve haver ligações e não apenas baldeações para não sobrecarregar estações ou terminais.
Assim, entre uma linha de metrô e outra, um corredor de ônibus pode
uni-las para diminuir a sobrecarga em um único sistema, como propôs o
novo presidente do metrô, Peter Walker.
Corredores de ônibus de maior capacidade poderiam também ser interligados por corredores mais simples.
Tudo deve ser feito com bom senso e respeito ao dinheiro público. Sem
gastar demais num modal numa região para aparecer na propaganda,
deixando de lado as outras áreas.
À medida que tudo isso for feito, aí sim as linhas locais de ônibus, de
38 quilômetros de extensão ou mais, poderão ser reduzidas.
Em algumas cidades, o sistema de ônibus bem gerenciado e operado é
suficiente. Em outras, como São Paulo, a palavra de ordem é ser
multimodal: ônibus, trem e metrô “conversando”.
Os atrasos são o grande motivo de reclamação dos passageiros dos ônibus municipais de São Paulo.
Entre as maiores queixas estão:
1º) Atraso e não cumprimento dos horários: 45 mil 949 queixas
2º) Motorista que não para no ponto tanto para embarque como para desembarque: 28 mil 346 apontamentos
3º) Direção Perigosa: 16 mil 779 reclamações.
As dez linhas de ônibus que mais receberam reclamações são:
1ª) 278A/10 (Penha – Ceasa) : 320 reclamações
2ª) 7004/10 (Terminal Rodoviário Jardim Jacira / Estação Santo Amaro – Terminal Guido Caloi): 293
3ª) 748R/10 (Jardim João 23 – Metrô Barra Funda): 285
4ª) 502J/10 (Estação Autódromo – Metrô Santa Cruz): 272
5ª) 374T/10 (Cidade Tiradentes /- Metrô Vergueiro): 269
6ª) 4208/10 (Parque Savoy City – Metrô Vila Prudente): 252
7ª) 477P/10 (Ipiranga – Rio Pequeno): 245
8ª) 213C/10 (Itaim Paulista – Vila Califórnia): 238
9ª) 2296/10 (Jardim Marília – Terminal Parque Dom Pedro II): 234
10ª) 311C/10 (Parque São Lucas – Bom Retiro): 228.
Os problemas de transportes em São Paulo estão em toda a cidade, mas
as linhas que servem à zona Leste são as que apresentam maior número de
queixas.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.