terça-feira, 20 de julho de 2010

Especialistas respondem como utilizariam a verba do PAC-2 para a mobilidade urbana

    A Perkons convidou especialistas para responderem como aplicariam R$ 24 bilhões em ações de trânsito e de transporte e por quê. Esta é  a quantidade que pode chegar os recursos do PAC-2 para mobilidade urbana.
    Confira nesta matéria a opinião de David Duarte Lima, Doutor em Segurança de Trânsito pela Université Libre de Bruxelles.


Bom, vamos começar pelo começo, ou seja, pelo diagnóstico da situação atual e proposição de possíveis soluções para os problemas.
    Em primeiro lugar, a mobilidade no Brasil é deficiente, em alguns locais ou para alguns modos de locomoção é precária. No meio urbano há dificuldades, no meio rural as estradas são ruins. E R$ 24 bilhões não dariam para resolver tudo. Mas há como melhorar.
    Em segundo lugar, três problemas do trânsito merecem atenção especial: a questão energética, a questão ambiental e os acidentes. Os dois primeiros precisam ser melhor equacionados. A eficiência energética dos veículos e da mobilidade de forma geral passa por uma reengenharia das vias, melhoria do transporte de massa, políticas estatais de incentivo a veículos eficientes. Ou seja, deve fazer parte de um grande programa. A questão ambiental é igualmente complexa, tem a ver com a eficiência energética, e exige medidas amplas, de longo prazo. A inspeção veicular, que é uma espécie de check-up da saúde dos veículos, é um requisito imprescindível nesse processo.
    O terceiro problema, os acidentes de trânsito, requerem um esforço extraordinário para sua abordagem correta e controle. No Brasil, todos os anos morrem 40 mil pessoas, 700 mil ficam feridas, e dessas pelo menos 150 mil ficam com sequelas ou incapacidades. É um enorme problema de Saúde Pública que custa 30 bilhões de reais à sociedade.

Prioridades     Para mitigar essa chaga social é preciso estabelecer prioridades.
- Primeiro, diminuir o número de mortes. E dá para fazer isso sem reduzir o número de acidentes. Por exemplo, se todos usassem o cinto de segurança, inclusive no banco de trás, reduziríamos pelo menos 3000 mortes por ano. Uma medida simples e efetiva.
- Segundo, reduzir o número de feridos graves e incapacitados. Além do cinto, seria preciso melhorar o resgate, reduzir a velocidade em pontos ou áreas específicas.
- Terceiro, reduzir o número de feridos, e assim sucessivamente. Porém, o programa deve ser abrangente, detalhando especificidades e com um cronograma bem estabelecido, no qual haja metas e métodos. Motociclistas, que este ano passam a ser o grupo que mais morre, devem ter tratamento especial, uma abordagem específica. Pedestres, ciclistas, idosos, crianças, motoristas jovens merecem segmentação e atenção especial.
    É, portanto, uma tarefa muitíssimo grande. Hoje, porém, se o governo colocasse R$ 24 bilhões para resolver os problemas do trânsito não teríamos como utilizar todo esse dinheiro. Faltam-nos órgãos eficientes, diagnóstico preciso, prioridades e planos. De outro lado, somente para melhorar a trafegabilidade das nossas rodovias seriam necessários 200 bilhões de reais. Olhando o tamanho do problema, 24 bilhões é pouco, mas pode ser um excelente começo.

postado por: Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT