terça-feira, 4 de agosto de 2015

Jovens americanos dirigem menos e já evitam carros

Os jovens americanos estão evitando carros e preferindo meios de transporte alternativos, deixando as montadoras se perguntando se essa é uma tendência induzida pela recessão ou uma mudança de hábito permanente.

Para gerações de adolescentes americanos, o carro foi o símbolo primordial de independência.
Mas, na era do Facebook e dos iPhones, os jovens adultos estão tirando menos carteiras de habilitação, dirigindo com menos frequência e mudando-se para cidades onde os carros são mais um luxo do que uma necessidade.
Números da Federal Highway Administration mostram que o percentual de pessoas entre 14 e 34 anos sem carteira de motorista subiu para 26% em 2010, contra 21% uma década antes, segundo estudo publicado neste mês e realizado pelo Frontier Group e o PIRG Education Fund. Alguns Estados americanos permitem que jovens de 14 anos obtenham licença de aprendizagem para dirigir.
Outro estudo, da Universidade de Michigan, mostrou que pessoas com menos de 30 anos perfazem 22% de todos os motoristas habilitados, ou seja, um terço a menos que em 1983, com as maiores quedas registradas entre adolescentes.
Ao mesmo tempo, o hábito de andar de bicicleta, caminhar e usar transporte público aumentou na faixa de 16 a 34 anos no período de 2001 a 2009, segundo o estudo da Frontier. Essa tendência foi provavelmente acelerada pela recessão, quando os jovens estão perdendo seus empregos e sofrendo fortes quedas em suas horas de trabalho.
"Precisamos dar o devido peso à realidade econômica em meio à qual esse contingente chegou à idade adulta", disse Jeremy Anwyl, vice-presidente da Edmunds.com, um site de pesquisas sobre uso de automóveis. "Como reagem as pessoas à alta taxa de desemprego e a oportunidades econômicas limitadas? As pessoas vivem mais tempo na casa dos pais, onde têm acesso aos carros da família".
Tony Dutzik, analista sênior de políticas no Frontier Group e coautor do estudo, afirmou: "A economia tem um impacto bastante significativo no hábito de dirigir. Sabemos que os jovens que trabalham tendem a dirigir mais quilômetros por ano do que as pessoas desempregadas".
Mas ele acrescentou que "mesmo entre os jovens empregados, o número de quilômetros que eles dirigem está caindo ano a ano". O estudo também descobriu que, entre os jovens com renda acima de US$ 70 mil, dobrou o uso de transporte público e bicicletas entre 2001 e 2009.
"Com a ascensão das mídias sociais, as pessoas não se encontram mais cara a cara com frequência, e por isso não precisam tanto de carros", disse Anwyl. Isso coloca os fabricantes de automóveis diante de um problema: como vender carros a pessoas que podem estar cada vez menos interessadas neles?
Uma resposta é marketing direcionado. As montadoras estão intensificando sua presença na internet, em redes sociais, e ressaltando a tecnologia interativa embarcada em muitos carros, tais como o streaming de música dos serviços Pandora e Spotify.
A Ford anunciou na semana passada estar somando forças com o Yahoo para produzir uma série de reality shows exibida exclusivamente na web para promover a nova versão elétrica de seu carro Focus. A montadora disse que vai divulgar o carro unicamente por meio de mídia online, por uma fração do custo de uma campanha publicitária tradicional, focando um público de nicho na costas leste e oeste dos EUA.
"O que estamos fazendo aqui é muito direcionado e busca sensibilizar o público alvo de forma bem mais eficiente", disse John Felice, gerente geral de vendas das marcas Ford e Lincoln.
Mas outra mudança nas atitudes sociais dos consumidores mais jovens ainda poderá frustrar os esforços das montadoras de carros.
"O enigma, para os marqueteiros, é como lidar com o fato de que essa geração, mais do que a maioria [no passado] não gosta de ser alvo de marketing", disse Anwyl. "Eles realmente rejeitam abordagens abertamente comerciais."

A reportagem é de Shannon Bond e Jaon Abbruzzese e publicada pelo jornal Valor,