sábado, 6 de dezembro de 2014

Capitais brasileiras buscam auxílio global para reduzir mortes no trânsito

O que Salvador, São Paulo, Fortaleza e Rio têm em comum? Um potencial enorme para salvar vidas. É o que aBloomberg Philantropies acredita. As quatro capitais estão no radar da organização filantrópica que desenvolve iniciativas para evitar mortes e acidentes graves no trânsito. Atualmente, a cada ano, mais de um milhão de pessoas morrem e outras 20 milhões são gravemente feridas nas cidades em colisões e atropelamentos. Se medidas urgentes não forem tomadas, como a redução da velocidade e o aperfeiçoamento do ambiente viário, esta deverá ser a sétima principal causa de óbitos até 2030.
Sistemas de transporte bem projetados podem ajudar a salvar vidas nas cidades. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
As quatro metrópoles brasileiras estão concorrendo a 10 bolsas internacionais que a instituição irá conceder para incentivar medidas de mitigação de acidentes graves a municípios de baixa e média renda, com população acima de 2 milhões de habitantes. O investimento faz parte do Programa Global de Segurança Viária, que destinará, no total, US$ 125 milhões (R$ 315 milhões) em ações para os próximos cinco anos.
Em novembro, Adam Karpati, comissário-executivo adjunto do Departamento de Saúde de Nova York e representante da Bloomberg Philanthropies, esteve nestas capitais acompanhado pelo diretor-presidente da EMBARQ Brasil, Luis Antonio Lindau, e Rejane D. Fernandes, diretora de Relações Estratégicas & Desenvolvimento, convidando-as a participar do programa. Desde 2010, a EMBARQ Brasil desenvolve ações junto a cidades brasileiras para incrementar a infraestrutura de segurança em projetos de transporte com financiamento da Bloomberg Philantropies.
Capitais como Belo Horizonte, Rio, Curitiba e Brasília já passaram por Auditorias de Segurança Viária realizadas pela EMBARQ Brasil com apoio financeiro da instituição norte-americana. “Ajudamos as cidades a repensar seus projetos de transporte a partir da ótica do pedestre. Nosso trabalho busca garantir, em última instância, que você, eu, nossos filhos se desloquem com mais dinamismo e segurança nas cidades”, explica Rejane.
Pedestres são os agentes mais vulneráveis no trânsito. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
O grupo esteve com os prefeitos ACM Neto, em Salvador, e Fernando Haddad, em São Paulo, bem como com representantes municipais de Fortaleza e Rio de Janeiro. As cidades têm seis semanas para submeter as propostas, onde devem detalhar como pretendem atuar sobre a questão de modo a abarcar uma série de medidas incluindo fiscalização, legislação, intervenções de segurança viária nas vias e a segurança do transporte coletivo.
"O fundo será destinado às cidades onde podemos fazer a maior diferença, ou seja, que mostrarem o compromisso mais forte para agir, e que têm as melhores ideias para tornar suas vias mais seguras. E nós vamos ajudar essas cidades a trabalhar juntas para compartilhar estratégias efetivas – para que ainda mais vidas sejam salvas”, declarou Michael Bloomberg ao anunciar o novo aporte de investimento em setembro deste ano.
O programa terá atuação tanto em nível nacional, no intuito de fortalecer a legislação de trânsito, quanto em nível municipal, implementando intervenções de segurança viária já bem sucedidas em outras partes do globo. “Em Salvador não falta vontade e decisão política e a segurança viária é pauta prioritária desta administração”, assegurou ACM Neto durante a reunião na capital baiana.
Grupo reunido em Salvador. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
As propostas submetidas pelas cidades devem detalhar como pretendem atuar para solucionar uma série de desafios, incluindo a melhoria da segurança a pedestres e ciclistas, reforço de leis contra bebida e direção, assim como incentivo ao uso de capacete a motociclistas e cintos de segurança. A infraestrutura viária e o desenho das vias deve ser direcionado a opções alternativas e coletivas de mobilidade, que oferecem mais segurança a todos.
As cidades selecionadas serão anunciadas em janeiro de 2015 e irão receber auxílio de uma equipe sênior para atuar em tempo integral com os governos da cidade nas suas iniciativas por pelo menos cinco anos; assistência técnica de organizações mundiais líderes no assunto; treinamento para policiais e outros profissionais do município; e apoio para a criação de campanhas de conscientização.

Mudanças que salvam

Em 2010, quando iniciou o Programa Global de Segurança Viária, a Bloomberg Philanthropies destinou US$ 125 milhões em financiamento para 10 países que representam metade das mortes no trânsito em todo o mundo: Brasil, Camboja, China, Egito, Índia, Quênia, México, Rússia, Turquia e Vietnã. Desde então, mais de 1,8 bilhão de pessoas foram impactadas por leis de segurança viária mais rigorosas, 65 milhões foram impactas por campanhas de conscientização e cerca de 30 mil profissionais foram treinados em táticas de segurança viária. Além disso, governos locais se comprometeram com US$ 225 milhões para melhorias na infraestrutura viária para tornar suas vias mais seguras.
Todos esses países passaram da legislação a penas mais severas contra a mistura de bebida e direção, implementaram a obrigatoriedade do cinto de segurança e do capacete para motociclistas e aplicaram leis de redução de velocidade. A China criminalizou o ato de beber e dirigir em 2011 e, no Vietnã, foram estabelecidas penalidades para os motociclistas que usam capacetes fora do padrão de segurança, desde 2013.
As intervenções tiveram consequências positivas notáveis. Em 2011, somente 34% dos ciclistas em Ha Nam, no Vietnã, usavam capacetes, ao passo que hoje 76% deles usam. Em Thika, no Quênia, 68% dos motoristas excediam o limite de velocidade permitida. Hoje esse número caiu para 2%. Em Afyon, Turquia, a utilização do cinto de segurança aumentou substancialmente, de apenas 4% em 2010 para 43% em 2014.
No Brasil, além da execução de Auditorias de Segurança Viária em corredores de ônibus e BRT, a lei contra alcoolemia e direção se tornou mais rigorosa e limites de velocidade baixaram em alguns pontos de importantes capitais, como Rio de Janeiro.
Aqui & Agora – Edição 14 – Novembro de 2014

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