O CUSTO DO PASSE LIVRE
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Bandeira de movimentos que voltaram a protestar contra o aumento de tarifas de transporte público, o passe livre
para todos os usuários em 17 capitais custaria por ano quase o mesmo valor do Bolsa Família. Levantamento
pelo GLOBO nessas cidades mostra que as prefeituras precisariam desembolsar R$ 27 bilhões anuais —
enquanto a União prevê gastos de R$ 28,8 bilhões com seu principal programa social em 2016.
O montante corresponde, ainda, a quase o dobro de todo o gasto previsto para este ano no Ministério dos
Transportes (R$ 13,8 bilhões) e é maior do que o orçamento do Ministério da Fazenda (R$ 25,2 bilhões).
Os municípios consultados informaram que destinaram, no total, R$ 3,2 bilhões em subsídios para o transporte
público em 2015, entre investimentos diretos e renúncias fiscais. Esse valor saltaria 743% com a adoção do
passe livre. Em São Paulo, a prefeitura estima que precisaria desembolsar R$ 7,7 bilhões anuais para sustentar
a gratuidade universal — o equivalente à arrecadação com o IPTU. Na última semana, o prefeito Fernando
Haddad (PT) ironizou a demanda por transporte gratuito. Os gastos extras comprometeriam 14% das receitas do
município neste ano.
— Então é melhor eleger um mágico em outubro, porque prefeito não vai dar conta disso — disse, em referência
às eleições municipais deste ano.
No Rio, a cifra, estimada em R$ 4 bilhões, é mais de seis vezes o total previsto para investimentos no programa
Fábrica de Escolas, responsável pela construção de colégios com horário integral. Em Porto Alegre, o montante
corresponderia a 90% do orçamento da Saúde. Já em Teresina, capital do Piauí, gastaria-se mais com a política
de tarifa zero do que com Educação.
"IMPOSSÍVEL ENCAIXAR TAIS CUSTOS”
Em um momento de crise financeira, em que muitos municípios reajustaram seus orçamentos de 2015 para
2016 abaixo da inflação no período — ou até diminuíram a previsão de gastos, caso de Rio Branco (AC) —,
o impacto da proposta é resumido assim pela prefeitura de Manaus: "Dessa forma, nas atuais conjunturas,
seria impossível encaixar tais custos no orçamento”. Já a prefeitura de Cuiabá rechaçou a hipótese:
Não existe a possibilidade de implantação do passe livre”. O governo do Distrito Federal, por outro lado,
elogiou a política da tarifa zero: "Seria uma alternativa para melhorar o transporte e aumentaria o acesso”.
O GLOBO entrou em contato com todas as capitais do país, mas dez prefeituras não realizaram o levantamento.
Os dados de Goiânia e Recife são referentes às regiões metropolitanas das capitais — únicos dados
disponíveis pelos consórcios responsáveis pelo transporte público.
ANALISTAS CRITICAM
Para a economista Maria Beatriz David, professora da Uerj, a proposta acabaria beneficiando pessoas com
renda mais elevada. Ela também alerta para o risco de a ausência de tarifas impedir investimentos no
transporte público.
24/01/2016 08:00
O Globo
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