Aos poucos a bicicleta foi
ganhando espaço nas ruas
das cidades brasileiras e
tornando-se um meio de
transporte bastante usual. A Associa-
ção Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas,
Bicicletas, Ciclomotores,
Motonetas e Similares (AbraCiclo)
estima que mais de 24 milhões de
pessoas pedalam diariamente e que
50% utilizam a bike como principal
meio de transporte. No entanto, esse
aumento de ciclistas contribuiu também
para que os acidentes se tornem
corriqueiros no trânsito, devido ao
despreparo dos motoristas de meios
motorizados em conviver em consonância
com a bicicleta nas vias.
Empresas apostam em treinamentos de convivência entre
motoristas de ônibus e ciclistas para um trânsito mais seguro
Motoristas e ciclistas: uma
convivência possível
Na expectativa de tornar o tráfego
mais harmonioso entre ciclistas e
motoristas, empresas de ônibus têm
investido cada vez mais em campanhas
e ações voltadas para essa
relação. Em Florianópolis (SC), Porto
Alegre (RS), Recife (PE), Salvador
(BA) e São Paulo (SP), as empresas
se juntaram às associações de ciclistas
com a intenção de promover uma
relação mais segura.
Na cidade de Recife, a empresa Itamaracá
transformou os motoristas
dos coletivos em ciclistas durante um
treinamento. Eles passaram pela mesma
sensação de quem pedala quando
está em ciclovia e um veículo grande
passa ao lado. O treinamento foi realizado
na garagem da empresa. Os
ônibus passam a 50 centímetros dos
motoristas em treinamento, que estão
em bicicletas estáticas, fixadas no
chão para evitar o desequilíbrio e uma
queda com o susto. O curso conta
com uma cartilha de boa convivência
entre motoristas e ciclistas e palestras,
em que debatem sobre o assunto e esclarecem
dúvidas. Na Itamaracá, mais
de 400 motoristas foram treinados e a
iniciativa foi se expandindo.
A Diretora de Marketing e Desenvolvimento
Pessoal da empresa, Maria
Amélia Bezerra Leite, enfatiza que o
objetivo central do projeto foi sensibiJC
Online
Motoristas de ônibus fazem treinamento
para boa convivência com ciclistas.
14 Revista NTU Urbano
BOAS PRÁTICAS
lizar, conscientizar e treinar todos os
motoristas da empresa. “A intenção é
promover uma direção mais segura,
de respeito e proteção ao ciclista de
forma a melhorar a relação no trânsito
entre os ônibus e as bicicletas e incentivá-los
a respeitar a legislação do
Código de Trânsito, que também foi
apresentada aos motoristas”, reforça.
Em Porto Alegre, a empresa de ônibus
Sudeste aplicou o treinamento na formação
de seus motoristas e ao longo
dos meses vem realizando o procedimento
com todos os funcionários.
Já em Florianópolis, o projeto foi
abraçado pela empresa Canasvieiras
Transportes que também incluiu a
prática na formação dos motoristas.
Para o condutor Emerson Moreira, a
iniciativa é muito válida e aprende-se
muito. “A gente se põe no lugar deles,
vê as dificuldades que eles têm no dia
a dia”, disse em entrevista ao portal G1.
O coordenador Daniel Valença da
Associação Metropolitana de Ciclistas
do Grande Recife (Ameciclo)
afirma que a ação mais efetiva pra
redução da quantidade de mortes
é dotar de infraestrutura cicloviária
de proteção aos ciclistas e pedestres.
“As campanhas educativas e os
treinamentos são importantes para
tentar aproximar o motorista de um
olhar mais humano sobre o ciclista
e o pedestre. Por isso, é necessária
uma adequação da legislação. Os ciclistas
precisam ser escutados para
que esse processo abranja a forma
correta de pedalar”, defende.
Legislação
O Código de Trânsito Brasileiro
garante condições para segurança
e trânsito do ciclista, bem como
a Política Nacional de Mobilidade
Urbana (Lei n.º 12.587/2012), que
prioriza os modais de transporte não
motorizados sobre os motorizados
e dos serviços de transporte público
coletivo sobre o transporte individual
motorizado.
A lei também determina a prioriza-
ção de projetos de transporte público
coletivo estruturadores do território
e indutores do desenvolvimento
urbano integrado com objetivo
reduzir as desigualdades e promover
a inclusão, o acesso aos serviços
Saiba Mais
A Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (SeMob) verificou o uso crescente
da bicicleta como meio de transporte. Com isso, a bicicleta começa a ser incluída como elemento
fundamental para a implantação do Programa Brasileiro de Mobilidade Urbana por Bicicleta,
lançado em 2004, com o objetivo de construir uma cidade mais sustentável, melhorar
seu desenvolvimento e diminuir a degradação do meio ambiente. No entendimento da SeMob,
o uso da bicicleta como transporte diminui os impactos, como a poluição sonora e atmosférica,
e faz um bem enorme à saúde das pessoas.
básicos e equipamentos sociais e a
melhoria nas condições urbanas da
população no que se refere à acessibilidade
e à mobilidade.
Em Curitiba, o prefeito Gustavo
Fruet sancionou em janeiro de 2015 a
“Lei da bicicleta” (14.594/2015), que
institui a bicicleta como modal de
transporte regular de interesse social
e determina que 5% das vias urbanas
serão destinadas às ciclovias
e ciclofaixas de maneira integrada ao
transporte coletivo.
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