segunda-feira, 4 de maio de 2015

Gestão e participação: duas faces da moeda

Mobilidade e Conjuntura - ANTP

"O Brasil é um país rico, todos sabemos, com muitas carências e grandes desigualdades. Há um enorme caminho a percorrer para se alcançar um padrão razoável de infraestrutura e de serviços públicos em nossas cidades." (Sérgio Magalhães, arquiteto)


"A vida nas grandes cidades brasileiras só vai melhorar com o engajamento da população nas políticas públicas". A frase é do arquiteto e urbanista Nestor Goulart Reis Filho, que alerta: "não adianta ir para a rua apenas para protestar. É necessário dar um segundo passo e assumir responsabilidades como cidadão".
Desde 2013 o Brasil vem passando por um processo de maior pressão nas ruas, mas ao mesmo tempo percebe-se aí um vazio enorme de propostas. O verbo participar, tão conjugado recentemente, pode explicar muito, ao mesmo tempo em que pode não dizer absolutamente nada: como medir o grau de transformação que determinadas ações populares provocam nos governantes? Pelo que se tem visto ultimamente, a relação de causa e efeito tem sido quase inexistente.
O caso da mobilidade humana é exemplar. A arquiteta Raquel Rolnik escreveu recentemente que "o modelo do jogo político-eleitoral, ao qual está vinculada a prática da corrupção, (...) decide o que vai ou não ser feito em nossas cidades." A mobilidade ela cita como um dos produtos desse modo brasileiro de governar.
A explosão de projetos cicloviários bem sucedidos espalhados por cidades de todo o Brasil, somada ao aumento de experiências positivas de maior prioridade nas ruas ao transporte coletivo, denotam o surgimento, mesmo que de maneira enviesada e espasmódica, de uma sincera preocupação de enfrentar graves problemas urbanos que há muito não se via por parte de gestores públicos. Mas isso não basta. Como lembra Rolnik, é preciso mudar radicalmente "o modo brasileiro de governar", dependente do jogo eleitoral, e por isso mesmo distante daquilo que o cidadão almeja. Quem garante que mudanças de gestão não irão colocar por terra avanços importantes? Isso, bem sabemos, tem sido mais regra que exceção.
Se de um lado podemos comemorar o surgimento em muitas cidades de organizações sociais que se engajaram na discussão e proposição de políticas públicas, por outro precisamos reconhecer que nossos governantes estão muito aquém de propor soluções duradouras e arrojadas para melhorar a vida nas cidades. Limitando-se apenas ao terreno dos transportes e da mobilidade: temos exemplos de que é possível fazer, temos lugares onde já foi feito, o que nos falta então?
Esta é a dicotomia existente entre quem vive nas cidades e quem tem o poder para promover ações que provoquem transformações reais e duradouras. O que para muitos parece urgente e necessário, para outros mostra-se difícil e ainda distante.
A participação da sociedade em organismos sociais que requerem uma efetiva construção de políticas perenes e eficazes na busca de uma cidade mais humana, esta a boa notícia, tem acontecido com crescente frequência. Resta descobrir como e quanto será capaz de interferir positivamente nos ritmos e práticas do dito "modo brasileiro de governar".

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