quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Carros de passeio recebem 90% do total de subsídios para os transportes, diz Ipea

Quando se fala em subsídios aos transportes coletivos, muitas camadas da sociedade acabam se queixando e tendo um entendimento nem sempre correto de que subsídio para transporte se limita a dar “dinheiro” para empresas de ônibus.
Os subsídios aos transportes coletivos, quando bem aplicados, são uma forma de toda a sociedade, que se beneficia dos seus serviços, contribuir e não deixar os custos apenas sobre o passageiro pagante. As complementações de recursos aos transportes públicos permitem a manutenção de integrações, gratuidades e evita elevações maiores nas tarifas, o que torna os meios de deslocamento coletivos mais interessantes do ponto de vista econômico.
Mas quando se fala em subsídios para os transportes, a mais recente pesquisa A Mobilidade no Brasil, do Ipea – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, mostra que as políticas públicas para o setor sofrem grandes distorções.
De acordo com os dados do levantamento, os carros de passeio recebem 90% dos subsídios para os transportes no País, aproximadamente 12 vezes mais que os transportes públicos, sejam por ônibus, trens e metrôs.
Esses subsídios ocorrem de diversas maneiras: isenções ou reduções de impostos para incentivar a indústria de automóveis (dinheiro que o governo deixa de arrecadar e sai de outras fontes), controle do preço da gasolina, concessões de terrenos e até isenção de taxas como de água e luz para as fabricantes se instalarem em determinadas cidades, entre outras ações que acabam dispensando recursos para o deslocamento individual enquanto as cidades precisam de investimentos nos transportes públicos.
Esta política de transportes beira tanto o absurdo ao ponto de não ajudar em nada a resolução de graves problemas nas cidades, como o trânsito e a poluição devido ao excesso de automóveis particulares ao mesmo tempo nas vias.
Além de prejudicar a qualidade de vida da população, que já respira um ar ruim e demora muito tempo para se deslocar de um ponto a outro, do ponto de vista econômico, esse incentivo demasiado aos transportes individuais não é nem um pouco inteligente.
Trânsito e poluição representam perda de produtividade e altos gastos com manutenção de vias e saúde pública. Além disso, de acordo com a mesma pesquisa do Ipea, os transportes individuais consomem 68% da energia usada nos deslocamentos das cidades enquanto que os transportes coletivos usam 32%. A poluição gerada pelos carros é 15 vezes maior que a emitida pelos transportes públicos.
Na prática, os carros consomem mais que os 90% de subsídios que recebem se forem contabilizados estes gastos.
Não é questão de combater os carros, proibi-los ou desaquecer a indústria automobilística que possui um papel importante na geração de empregos.
Mas é oferecer à população direito às cidades, tornando-as para pessoas e não para os carros.
É dar à população opções de deslocamento de qualidade a não ser pelo carro.
E isso se conquista com investimentos e prioridades aos transportes coletivos no espaço urbano somando com ações de cunho cultural. O carro pode continuar sendo imagem de status, o que não pode é o transporte público ser considerado algo para “pobre” e uma forma até indigna de se deslocar. O que não é verdade, já que nos países que começam a se preocupar mais intensamente com a qualidade de vida nas cidades, ônibus, trem e metrô é meio de transportes também de executivos, estudantes e até membros dos governos, ou seja, são como deveriam ser: públicos, paratodos, que inclusive é a origem da palavra “onmibus”.
Blog Ponto de ^^Onibus
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Um comentário:

  1. Aqui tem o estudo completo sobre os Gastos das Famílias Brasileiras com Transporte Urbano Público e Privado no Brasil: Uma Análise da POF 2003 e 2009

    http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=16579

    ResponderExcluir