terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O que a nova administração municipal poderá fazer pelos transportes

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Adriano Branco discute no Semanal ANTP o potencial dos corredores de ônibus de média capacidade e fala sobre as características que devem ser obedecidas para a efetividade desta ferramenta na política de transportes de São Paulo.


O problema fundamental dos transportes urbanos em São Paulo reside na distribuição modal inadequada. Segundo os dados da última pesquisa Origem/Destino (2007) da Região Metropolitana, os 37,3 milhões de deslocamentos diários distribuíam-se pelos vários modos como segue:

Transporte Coletivo - 13,8 milhões

Transporte Individual - 11,2 milhões

Total Motorizado - 25,0 milhões

Deslocamentos a pé - 12,3 milhões

Total Geral - 37,3 milhões

Dentre os modos motorizados, portanto, a distribuição apontada era de:

Modo Coletivo - 55%

Modo Individual - 45%

Tendo em conta que são necessários 127 automóveis para transportar o mesmo volume de passageiros de um ônibus articulado, fica visível que o espaço público ocupado pelos automóveis não está em proporção com aquele demandado pelos ônibus.

A primeira proposta a fazer, portanto, é alterar a distribuição modal dos deslocamentos, por exemplo para 70% - 30%, numa fase inicial, significando isso uma substituição de 3,7 milhões de viagens diárias por automóvel (equivalentes a 1,35 vezes o número de viagens do metrô em dias úteis).

Utilizando dados dos Transmilenium de Bogotá *1, para alcançar a nova distribuição modal, seria necessário implantar cerca de 180 quilômetros *2 de corredores, com duas faixas por sentido, que ocupariam, incluindo áreas de terminais e complementos 2,8 milhões, de m2.

As áreas liberadas pelos automóveis que sairiam de circulação, porém, equivaleriam a 15,4 milhões de m2, restando livres, após a implantação dos corredores, cerca de 12,6 milhões de m2 de vias, contribuindo poderosamente para o alívio do tráfego e conseqüente elevação de velocidade de todo o sistema remanescente de transporte em superfície.

Ainda de acordo com a mencionada Revista “Coletivo”, da SPTrans,. a mudança de distribuição modal proposta resultaria em economia diária de energia da ordem de 44 milhões de kWh. E uma redução de consumo de combustíveis avaliada em R$ 4,8 bilhões por ano.

Fica visível que a proposta de implantar corredores de média capacidade é a que melhor atende as exigências da Cidade, podendo se realizar a curto prazo e a custos perfeitamente suportáveis, para uma região (RMSP) em que se desperdiçam cerca de 50 bilhões de reais por ano, através das deficiências de transporte e de trânsito.

Mas é preciso qualificar esses corredores, que não podem se resumir a uma faixa de trânsito segregada. São Paulo tem um só corredor de ônibus com características – e resultados – adequados: o expresso Tiradentes. As demais sofrem congestionamentos quase iguais aos das vias comuns. Não é por acaso, pois, que aquele corredor é o transporte melhor avaliado de São Paulo, apesar de seu projeto ter sofrido algumas mutilações importantes, com a eliminação da tração elétrica e o abandono do sistema de guiagem lateral.

Algumas características imprescindíveis dos corredores podem ser enumeradas:
a) emprego de veículos de tração silenciosa, não poluentes;
b) nenhum cruzamento com outros fluxos de deslocamento ou interferência de outros veículos no mesmo leito de tráfego;
c) possibilidade de formação de comboios;
d) elevada frequência de composições, o que depende de outros fatores abaixo mencionados;
e) possibilidade de cobrança externa aos veículos, permitindo a entrada e saída dos passageiros por todas as portas;
f) plataformas de embarque no nível do interior dos carros;
g) redundância em instalações, de forma a minimizar as possibilidades de interrupção do tráfego;
h) aceleração e velocidades elevadas, mas atendendo os níveis de conforto e segurança exigidos;
i) guiagem mecânica, magnética, ótica ou similar, permitindo uma operação segura com velocidade e frequências elevadas.

A análise de tais características indica a preferência por sistema de tração elétrica, que responde melhor pelos requisitos a, g, h e i.

Essa caracterização dos corredores foi objeto do plano SISTRAN, de 1975, e do projeto VLP Paulistano, de 2005, convertido mais tarde em Expresso Tiradentes. Infelizmente esses projetos não foram integralmente obedecidos, restando poucos quilômetros de linhas sofríveis.

É o momento da revisão, para se ter um transporte público de boa qualidade, não poluente e de implantação rápida.


*1 Vide artigo Trânsito e Transporte na Cidade de São Paulo – Revista “Coletivo”, da SPTrans, outubro de 2011.

*2 Número próximo ao de algumas propostas de campanha eleitoral.



Adriano Branco é ex-Secretário dos Transportes e da Habitação do Estado de São Paulo, eleito Engenheiro do Ano de 2008, Membro da Academia Nacional de Engenharia.

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