terça-feira, 29 de março de 2016

EU QUERO A FAIXA DA VIDA

No desenho do asfalto em que se alternam listras claras e escuras, concentra-se o grande desafio dos pedestres no que diz respeito à integridade física e à vida, mas também a algo mais — é um desafio civilizacional.

A civilidade de um país se mede pelo número de pedestres mortos e para medir a civilidade de uma cidade, além das calçadas temos que olhar o respeito às faixas de travessia. Os motoristas dos Estados Unidos não se comportam melhor lá porque são mais bonzinhos do que os nossos motoristas. É que eles sabem o tamanho do problema que terão pela frente se matarem ou ferirem alguém.

Absurdo

O jornalista Gilberto Dimenstein disse que o que ocorre em nosso trânsito são casos tão absurdos que, daqui a não muito tempo, quando olharmos para trás, não vamos sequer entender como os toleramos. É como vemos hoje a mulher não ter direito de votar, crianças serem obrigadas a trabalhar, negros serem escravos ou alguém fumar no avião. Há uma cadeia de tolerância por trás do massacre. Considera-se muita coisa normal. 

Quando são publicadas as estatísticas de crime, nós todos quase não damos destaque e até achamos normal haver calçadas que não servem para pedestres, estreitas, esburacadas, muitas vezes usadas para carros estacionarem. Vemos bairros com milionários empreendimentos imobiliários em que não há preocupação com a construção de uma calçada.

Travessia no CTB

O Código de Trânsito Brasileiro - CTB estabelece que o desrespeito à faixa de pedestres é infração “gravíssima”, punível com multa de 191,54 reais e 7 pontos na carteira.

A faixa de pedestres na qual se encontra o maior problema é a faixa desacompanhada de semáforo. A faixa amparada por um semáforo conta com um aliado dotado do maior dos instrumentos educativos — a punição. Passou no sinal fechado, é multa. Muitas vezes a penalização é imediata e feita por radar. Faixa de pedestres amparada por semáforo, por essa razão, é em geral respeitada.

É a faixa sem semáforo que costuma ser ampla e irrestritamente desrespeitada. Pela boa regra internacional, basta o pedestre pôr o pé na faixa, e o motorista é obrigado a dar-lhe passagem. Pôs o pé ali, e o pedestre garante sua imunidade.

Aquele sinal no chão não é mero adorno. Para muitos, aquela seria apenas a marcação do lugar em que preferencialmente os pedestres deveriam atravessar a rua, desde que não haja carros passando.

Campanhas

É necessário que as Campanhas deem destaque à educação do motorista respeitando o pedestre. Ora, são os carros que agridem e matam. São eles a parte forte do confronto. No dia em que forem educados, a educação do pedestre virá por gravidade.
A campanha deve acenar com punições. Campanha para valer seria a que fixasse um prazo a partir do qual a ação educativa daria lugar à aplicação de multas. Foi o que ocorreu em Brasília, a única capital brasileira em que a população aprendeu a respeitar a faixa  de pedestres. Não há educação que não acene com a punição ao infrator. A leve sensação de punição é fundamental para menos gente ser atropelada.

Campanhas realmente para valer exigem a prévia revisão geral da localização das travessias. Nem sempre a faixa deve ficar exatamente na esquina; muitas vezes, ela seria mais eficaz se colocada mais para o meio do quarteirão.

Faixa elevada

A elevação da pista de rolamento dos veículos até a altura da calçada na área onde se encontra a faixa de travessia de pedestres tem sido uma alternativa utilizada para garantir a travessia de pedestres.  Sua finalidade é permitir que o pedestre não necessite mudar o nível que se encontra, o que facilita a mobilidade de pessoas com restrições físicas, crianças e idosos, cadeirantes, pois ao invés do ser humano ter que descer ao nível da pista e depois retornar ao da calçada é o veículo que se vê obrigado a diminuir a velocidade pelo obstáculo que é colocado a sua frente.

Ainda vamos sentir orgulho ao parar na faixa.

Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT