sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cidades melhores



"A cidade está sendo pensada mais como um fator econômico do que como um fator que promove bem-estar e justiça social, que são temas da reforma urbana". (Professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro)

Não faltam argumentos para justificar as várias iniciativas de prefeituras em todo o país em prol do transporte coletivo. Por qualquer ângulo que se analise a questão da mobilidade urbana nas cidades, fica evidente o alto custo que arcamos ao não se optar pelo transporte coletivo. Os severos danos causados à sociedade são não apenas econômicos, como também ambientais e de saúde pública.
Na questão ambiental o mais novo relatório do SIM - Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da ANTP, realizado com dados de municípios brasileiros com mais de 60 mil habitantes, reforça o que já é do conhecimento público: o transporte individual responde pela maior parte das emissões, somando poluentes locais e de efeito estufa. Na relação com as emissões do transporte coletivo, carros e motos emitem 2 vezes e meia mais poluentes. O professor Paulo Saldiva, da USP, já vem há tempos quantificando o custo para a saúde pública da opção preferencial pelo transporte individual, não apenas em quantidades de vidas humanas, como em custos para a saúde pública.
Dados mais recentes, anunciados na semana pelo jornal "O Estado de SP" (Em 16 anos, poluição do ar matará até 256 mil no Estado de SP), vêm mais uma vez comprovar os graves danos sociais causados à sociedade pelo uso abusivo e crescente dos meios individuais de transporte. A projeção é do Instituto Saúde e Sustentabilidade, composto por pesquisadores da USP.
A doutora em Patologia pela Faculdade de Medicina da USP, Evangelina Vormittag, uma das autoras da pesquisa, reforça a necessidade de o poder público implementar medidas mais rigorosas para o controle da poluição do ar. E ela sugere para as cidades brasileiras as mesmas medidas que outros países já adotam há anos: "formas alternativas de energia, incentivo ao transporte não poluente, como bicicleta e ônibus elétrico, redução do número de carros em circulação e obrigatoriedade de veículos a diesel utilizarem filtros em seus escapamentos".
Para comprovar o acerto da política de fomento às faixas exclusivas e ao plano cicloviário da capital, a Secretaria Municipal de Transportes firmou uma parceria com a Faculdade de Medicina da USP (Haddad encomenda estudo sobre os benefícios de faixas e ciclovias) que irá avaliar os ganhos que tais medidas proporcionam à saúde do paulistano. Os resultados comprovarão o que todos sabemos. Mas convencerão aqueles que insistem em se posicionar contra as medidas adotadas pelas prefeituras em busca de um transporte mais sustentável, como faixas exclusivas, ciclovias, ampliação de rodízio, pedágio urbano?
Na mesma proporção em que crescem os estudos que corroboram os danos ambientais causados pela ausência de investimentos em transporte de massa, cresce também a preocupação de importantes segmentos sociais. Documento articulado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), entidade composta por 70 empresas (Conselho que representa 40% do PIB propõe agenda da sustentabilidade), sugere medidas que denotam esta preocupação. São 22 propostas ao todo, dentre as quais a redução dos subsídios do governo para a gasolina e o diesel. A presidente do CEBDS afirma que é preciso mudar a política de desenvolvimento do país. "Existe um falso dilema entre desenvolvimento e sustentabilidade. A sustentabilidade ainda é vista isoladamente, quando na verdade traz desenvolvimento com qualidade".
O debate está colocado, e seguramente se acirrará à medida que as restrições ao automóvel se ampliarem nas cidades, seja para que os ônibus aumentem sua velocidade, seja pelo fomento ao uso da bicicleta, seja através da ampliação (ou inserção) do rodízio de carros. Na criação extensiva de espaços compartilhados está a chave para as cidades começarem a recuperar sua identidade urbana.

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