sexta-feira, 18 de julho de 2014

Na mobilidade futura, só carros não bastam



Bill Ford - The Wall Street Journal 

Durante os últimos dez anos, a indústria automobilística emergiu de um dos períodos mais desafiadores pelo qual já passamos e, agora, está entrando num dos momentos mais emocionantes e promissores da nossa história. Ainda mais relevante, porém, é o nosso foco no futuro, que será definido por uma tendência importante: o automóvel como parte de um ecossistema mais amplo. Isso requer uma mudança de visão: precisamos deixar de considerar o carro um objeto individual para vê-lo como parte de nossa rede de transportes.
Requer também uma mudança fundamental na forma como pensamos sobre o transporte. Os clientes hoje têm prioridades extremamente diversas, e devemos abraçar essas diferenças à medida que projetamos e vendemos automóveis. Os fatos que sustentam essa tendência são convincentes. Com o crescimento da população global e da riqueza, o número de veículos em circulação pode ultrapassar dois bilhões até meados deste século. Combine isso com o contínuo deslocamento da população em direção às cidades - a projeção é que 54% da população mundial viva em cidades até 2050 - e fica evidente que o nosso modelo de transporte atual não é sustentável. Nossa infraestrutura não pode suportar um grande volume de veículos sem criar congestionamentos enormes, com graves consequências para o meio ambiente, a saúde, o progresso econômico e a qualidade de vida. A boa notícia é que esse cenário não é inevitável e alguns especialistas dizem que esse desafio representa uma oportunidade de negócio de US$ 130 bilhões para o mercado automobilístico.
Algumas soluções já estão em andamento para desenvolver veículos mais eficientes em termos de espaço, com motores limpos movidos a gás ou fontes de energia alternativa. Outras respostas, porém, exigirão uma mudança radical no que significa ser um fabricante de automóveis. Não importa o quanto ecológicos e eficientes sejam os veículos, nós simplesmente não podemos depender da venda de uma quantia cada vez maior deles na forma como funcionam hoje. Os carros terão de ser mais inteligentes e mais integrados ao sistema de transporte em geral. Empresas preocupadas com o futuro vão redefinir seus modelos de negócios e deixar de ser apenas fabricantes de automóveis e caminhões para se tornarem empresas de mobilidade pessoal. Vamos pensar de forma mais inteligente sobre como os veículos que construímos interagem uns com os outros e com a infraestrutura de uma cidade, que inclui trens, passarelas de pedestres, ônibus, bicicletas e tudo o mais que nos ajuda a nos locomover nos centros urbanos.
A rápida evolução das preferências de proprietários de carros, incluindo uma ênfase cada vez maior na conectividade, vai redefinir os tipos de veículos que levamos ao mercado, os recursos nos quais nos concentramos e em como os veículos são comercializados e utilizados. A ascensão de empresas como Lyft, Uber, EasyTaxi e Zipcar é uma prova de que nem sempre a propriedade individual é a maneira mais econômica para obter acesso a um veículo, principalmente para os clientes urbanos. A propriedade individual também pode não ser o principal modelo de propriedade de veículos no futuro. Resta saber como isso afetará o atual modelo de vendas de automóveis.
Os carros do futuro serão plataformas de comunicações móveis que conversarão uns com os outros e com o mundo ao redor de forma a tornar o ato de dirigir mais seguro e eficiente. Eles serão integrados ao ecossistema de transporte de modo a otimizar todo o sistema, com um software que permita que os proprietários personalizem cada vez mais seus recursos e funções. Já estamos nos estágios iniciais dessa transformação, com comunicação sem fio, sistemas de informação e entretenimento e funções limitadas para automatizar as tarefas de dirigir e estacionar. Alumínio e aço de alta resistência vão evoluir como os materiais que servem de espinha dorsal para a indústria.
A fibra de carbono passará do exótico reino dos carros de corrida de milhões de dólares para carros menores. Isso vai exigir uma revisão de todo o ciclo de vida da cadeia de suprimento. Precisaremos também repensar o ato de dirigir. Carros que se deslocam sem motorista serão possíveis. Já estamos vendo, nos carros, sinais dessa [iniciativa para proporcionar uma] condução mais segura e mais fácil. À medida que essas tecnologias se desenvolvem, esperamos que elas prolonguem significativamente a vida útil dos motoristas e ofereçam novas oportunidades para os deficientes físicos. Alguns empresários estão estendendo ainda mais os limites ao explorar a viabilidade de carros que voam. Embora sejam necessárias mudanças regulatórias substanciais para que eles se tornem viáveis, esses experimentos oferecem uma ideia de como seria a mobilidade no futuro. Tudo isso serve de pano de fundo para a forma como pensamos sobre a Ford Motor Co. hoje. Henry Ford redefiniu a mobilidade para pessoas comuns e temos a oportunidade de fazer o mesmo agora. Nos próximos 20 anos, veremos uma transformação radical da nossa indústria, que apresentará muitas novas formas de garantir que o sonho de meu bisavô de abrir as estradas para toda a humanidade permanecerá vivo no século XXI e além.

Exame