segunda-feira, 13 de junho de 2016

Renovação de frota e melhorias das vias poupariam 10% do consumo de óleo diesel, diz especialista à CNT

ônibus pirata
Ônibus piratas e caminhões velhos. Fiscalização até existe, mas é insuficiente.
Segundo levantamento da entidade, 440 mil veículos com mais de 30 anos circulam no país
ADAMO BAZANI
Renovar a frota é preciso. Não apenas para estimular a economia e a indústria de veículos automotores, mas também para o bem do meio ambiente e para a redução de consumo de combustível.
É o que mostra a CNT – Confederação Nacional do Transporte em artigo, no qual o professor do curso de Engenharia de Energia da UnB (Universidade de Brasília) e vice-diretor da UnB Gama, Augusto César de Mendonça Brasil, também defende a ampliação dos investimentos em combustíveis alternativos ao petróleo e depois, uma reorganização na forma de transportar.
“Isso [renovação de frota] teria impacto considerável, ao longo dos anos, nas emissões de poluentes do ar. Depois, continuar com o programa de investimento em biocombustíveis, especialmente em razão do diesel, seria uma boa ação. Mas com cuidados com toda a cadeia”, pondera. “Essas seriam as medidas mais óbvias e imediatas. Depois, é necessário um programa de mais longo prazo, com planejamento e gestão das rotas, qualidade das estradas. Aí seria um programa mais abrangente, de governo e instituições não governamentais”, ressalta.
Segundo levantamento da entidade, hoje no Brasil a frota de transportes de cargas e passageiros é formada por 440 mil veículos com mais de 30 anos de circulação. Todos com tecnologias ultrapassadas e que poluem e consomem mais óleo diesel.
QUALIDADE DAS VIAS:
 O professor também afirma que além de renovar a frota e melhorar a gestão dos transportes, é necessário também aprimorar a qualidade das vias urbanas e das estradas brasileiras que está abaixo de outros países inclusive da América Latina
“Quando se tem estradas de má qualidade, você tem um ciclo de velocidade baixo: anda, para, anda, para. Além disso, as rotas são prolongadas: quando o motorista não pode ir por uma rodovia mais curta e vai por outra, com aumento das distâncias, para evitar as estradas de péssima qualidade, interfere diretamente no consumo de combustível”, afirma.
NÚMERO
Um caminhão (ou ônibus) que trafega em pavimento inadequado consome 5% mais combustível. O prejuízo gerado é de cerca de R$ 2 bilhões pelo consumo desnecessário e de 749 milhões de litros de combustível quando se fala de transporte no país. – diz o artigo.
MOBILIDADE ELÉTRICA:
O professor é cauteloso em dizer que os veículos elétricos e híbridos são as soluções para o problema de poluição. No entanto, ele admite que a discussão é importante e que a eletricidade  trata-se de uma forma renovável de matriz energética.
“Por meio da introdução de novas tecnologias de propulsão, veículos híbridos e elétricos. Vamos ter isso ao longo dos próximos anos, das próximas décadas. Mas, quando falamos de veículos elétricos, não significa que estamos migrando para uma plataforma mais limpa. Por exemplo: temos uma matriz de eletricidade no Brasil que vem, em grande parte, das hidrelétricas. Elas têm lá seus problemas ambientais, mas é uma energia renovável. E temos as termoelétricas, da indústria da cana e de combustíveis fósseis, que têm uma emissão de poluentes considerável. Se começamos a expandir a propulsão para elétrica, vamos migrar, naturalmente, para outra matriz. Então, vamos ter que usar mais as termoelétricas, na situação atual do Brasil. Vamos ter energias mais limpas? Temos que ter cuidado ao afirmarmos isso”, comenta.
TRANSPORTE PÚBLICO TAMBÉM É QUESTÃO CULTURAL:
O especialista é categórico em dizer que o transporte público é essencial para a redução das emissões de poluentes e do consumo exagerado de combustível, independentemente, num primeiro momento, da matriz energética do transporte coletivo. O professor diz ainda que é essencial que o poder público invista em sistemas de trens, metrô, e corredores de ônibus, mas também que o cidadão deve fazer a sua parte mudando a cultura de uso extremo do carro.
“No transporte urbano, precisamos de mais investimento, para que as pessoas migrem do modo individual para o coletivo. Do contrário, vamos continuar com cidades muito voltadas para os veículos particulares, com excesso de trânsito, poluição… Mas o cidadão também precisa saber que ele faz parte dessa migração para uma solução melhor, com uso menos intensificado de um veículo particular, com a otimização desse uso, fazer mais rotas a pé ou de bicicleta. Ou seja, no primeiro nível, é o próprio cidadão que precisa de alguma consciência. Isso, às vezes, vem do pior modo, quando se percebe que a situação está insustentável. Por outro lado, tem a postura de país, de maneira geral, com investimentos públicos em transporte, e deixar claro, para o cidadão, que aquilo é um bem do cidadão e que deve ser usado como tal”
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Entrevista: Natália Pianegonda