segunda-feira, 30 de novembro de 2015

É preciso ter boas calçadas, mas também muito mais do que isso...


26/06/2015 18:00
ANTP

"Basicamente, o andar é um movimento linear que leva o caminhante
de um local ao outro, mas é, também, muito mais que isso.”
Jan Gehl, Cidades para as Pessoas.

Partindo-se da reflexão de Jan Gehl, grande contemporâneo do pensamento das cidades para as pessoas, ou seja, enxergando as cidades em sua totalidade, confortáveis e seguras para se deslocar a pé, este texto explicita a nossa posição sobre a urgência de inverter o paradigma da mobilidade. De forma a transformar o caminhar no modo mais importante de se deslocar e interagir com a cidade, refletindo diretamente em leis, planos, investimentos, projetos e inovações no espaço urbano.
Entendendo o Projeto de Lei
A Lei, se aprovada, tem um grande objetivo: mudar a responsabilidade da manutenção das calçadas dos proprietários para a prefeitura. De acordo com o CTB, Anexo I, define-se calçada como "parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins”. O CTB estabelece que o trânsito com condições seguras é um direito de todos e um dever dos órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito. Como calçada, segundo o Código, é parte da via terrestre e, portanto, está sujeita às normas e regras nele estabelecidas, o direito do cidadão ao trânsito seguro se estende, consequentemente, à calçada. Porém, na maioria das cidades brasileiras, os municípios repassam aos cidadãos a responsabilidade pela construção e manutenção das calçadas e o poder público tem a função apenas de fiscalização.
Atendo-se a proposta do PL 01- 00079/2013, o estado de nossas calçadas é um dos principais motivos que torna dificultoso o deslocamento dos pedestres e pessoas com mobilidade reduzida. No que tange às calçadas, há normas e leis que salvaguardam esse modo de deslocamento, mas que não são, nem de longe, cumpridas, embora, de acordo com a Pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô, aproximadamente 30% das viagens urbanas diárias são feitas exclusivamente a pé, sem considerar que toda viagem em transporte público começa e termina a pé.
Segundo o documento que justifica o PL "O valor estimado anualmente destinado para recapeamento de ruas é de 100 milhões de reais, sem contar os recursos para operações tapa-buraco na ordem de 50 milhões por ano”. Ora, se as municipalidades destinam valores exorbitantes para asfalto onde transitam os veículos, por que não se responsabilizam pelas calçadas, executando as adequações necessárias para manter e conservar também os passeios públicos onde circulam os pedestres? Nesse sentido, considera-se que o PL ao demandar a responsabilidade do poder público, almeja tornar a administração e investimento dos espaços públicos da cidade mais equilibrado entre os modais de deslocamento.
Dessa forma a lei pretende resgatar algo que nunca deveria ter sido delegado aos cidadãos do ponto de vista de investimentos: a manutenção das calçadas.
Entraves e desafios para a efetividade do PL
Apesar de, conforme dito anteriormente, acreditarmos no caráter e intenção da Lei em tentar reequilibrar os investimentos e responsabilidades dos espaços públicos da cidade, há também alguns entraves e desafios para a efetividade do PL. Levantam-se alguns pontos e questionamentos que carecem ser definidos - atrelados e em sequencia à Lei - para garantir o desenvolvimento de uma cidade verdadeiramente humana e caminhável, que são:
-       Secretarias responsáveis e envolvidas
Atualmente as subprefeituras são responsáveis por fiscalizar as calçadas referentes à sua área de atuação e também por definir e coordenar os projetos de obras nas calçadas de responsabilidade e execução do poder público, como, por exemplo, o PEC (plano emergencial de calçadas de 2008) e o plano de construção e reforma de 1 milhão de metros quadrados de calçada recentemente anunciado pelo prefeito Fernando Haddad.
Com a aprovação do PL quem no executivo será responsável pelo projeto de implementação da Lei? Continuará com as subprefeituras ou haverá uma centralização na Secretaria municipal de Transportes, uma vez que o deslocamento a pé é um modal de transporte e deve ser desenvolvido em rede e com conectividade?
Além disso, o espaço das calçadas é um lugar de compartilhamento e disputa de muitos outros serviços e elementos como: arborização, serviços e mobiliários urbanos, redes de saneamento e comunicação, iluminação pública, rede de coleta de lixo, entre outros. Isso posto, como ocorrerá o envolvimento das outras secretarias?

-       Fontes de recursos
No Art. 5º do PARECER Nº 655/2015 DA COMISSÃO DE FINANÇAS E ORÇAMENTO SOBRE O PROJETO DE LEI N° 79/2013 aponta-se "as despesas decorrentes da execução desta Lei correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário”. Como é sabido, dificilmente a prefeitura de São Paulo terá capacidade financeira e de gestão para dar conta do estado de calamidade das calçadas, fruto do descaso de décadas. Dessa forma serão consideradas outras possíveis fontes de renda como recursos do PAC, parceria Ministério das Cidades / Prefeitura, viabilização de PPPs, FUNDURB, Cepacs, destinação da arrecadação de impostos sobre gasolina e automóveis e parcela de arrecadação do IPTU?
Quem irá se responsabilizar por encontrar este modelo que seja capaz de gerir tal demanda na cidade?

-       Plano estratégico de implantação (cronograma e localização)
Uma vez que nem mesmo sabe-se quem no poder executivo será responsável pela implementação da proposta da Lei - e tampouco a fonte de recursos para tal execução - os questionamentos se estendem ao formato e prazos de aplicação.
Ou seja, como serão definidas as rotas prioritárias para execução? Serão feitas em processo de planos regionais e planos de bairro, garantindo a participação popular? Quais serão os critérios para definir estas rotas? Seguirá o mesmo modelo utilizado pelo PEC que considera acesso a equipamentos públicos como parques, hospitais e outros transportes públicos ou se criará uma nova metodologia?

-       Modelo de calçada a ser implementado
Outra preocupação quanto ao modelo das calcadas a serem implementadas. Seguirão elas os padrões definidos na Cartilha do Passeio Livre (Decreto 45.904) ou terão um padrão próprio? Considera-se uma revisão na Cartilha, uma vez que o documento não considera a intensidade dos fluxos a pé e não esta adaptada ao atual plano diretor? Poderão planos regionais e locais realizarem alterações na qualidade das calçadas de acordo com as particularidades e funcionalidades de cada bairro?

-       Identidade visual das calçadas
Ainda sobre o modelo das calçadas, considerando que a calcada é um elemento identitário dos lugares, não podem simplesmente serem substituídas por uma padronização podendo afetar a memoria afetiva da cidade e a cultura. Além disso, temos avançado cada vez mais para uma cidade construída coletivamente, em conjunto com os cidadãos (como, por exemplo, os casos da regulamentação de parklets e de implementação de paraciclos nas calçadas). Dessa forma, será avaliada a possibilidade de proprietários de lotes personalizarem suas calçadas por conta própria atendendo aos requisitos do Decreto Passeio Livre e submetidos à aprovação CPPA, CPPU?

-       Escadarias e vielas sanitárias
Além das calçadas, escadarias, passagens e vielas sanitárias são importantes atalhos nas rotas dos pedestres. No entanto, infelizmente são espaços em sua maioria bastante degradados, com pouca iluminação e carentes de manutenção adequada, sendo frequentemente evitados pela população por serem considerados locais inseguros.
Estes espaços serão também considerados para manutenção publica? Haverá projetos específicos para estes locais?

-       Dados estatísticos de acidentes verticais
Quedas por conta das péssimas condições das calçadas não entram nas estatísticas de acidentes de trânsito. Segundo dados da profa Julia Greve (2010) as quedas por calçadas correspondem a quase 27% dos atendimentos realizados anualmente no setor de traumatologia do HCFMUSP /SP.  
Gráfico: atendimentos no setor de traumatologia HCFMUSP – 2010.
Fonte: Dra Julia Greve (2010)

Sobre a produção de estudos e dados estatísticos (apontados no Art. 4º do PL) a serem desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Transportes de acidentes ocorridos em calçadas e quedas de pedestres. Estarão inclusos quais tipos de dados? Usarão fontes de dados como a polícia e a secretaria de saúde? Como serão aplicados estes dados? Influenciarão nas rotas prioritárias? Haverá estudos com que frequência? Estarão medindo a evolução e efetividade da Lei?
Caso o PL seja aprovado, essas são algumas das considerações e questões levantadas pela Comissão Técnica com relação às calçadas visando uma melhoria real na mobilidade a pé na cidade.
Caminhar muito além das calçadas
Além de todas as questões supracitadas, entendemos e sempre frisamos que o caminhar deve ser entendido como uma rede, garantindo conectividade na cidade com conforto e segurança.  Ou seja, para muito além das calçadas, deve-se desenvolver e investir em travessias seguras, mobiliários, sinalização, bairros compactos, conexão com outros transportes, atratividade, entre outros elementos igualmente importantes para a mobilidade a pé de forma integrada. Pois, somente assim, se garantirá uma cidade apta para o deslocamento a pé.
Conclusão
Acreditamos na urgência do deslocamento a pé ser tratado com a seriedade e profundidade que merece, indo muito além da definição de responsabilidades sobre as calçadas, ou seja, é muito mais do que isso.
Por fim, entendemos o projeto de Lei em questão como um grande passo para a inversão de valores com que vem sendo construídas as políticas públicas, planos e programas voltados a mobilidade urbana. Valores esses partilhados pela Comissão Técnica Mobilidade a Pé e Acessibilidade da ANTP e, por isso, apoiamos.
Referências e links:
Textos do Projeto de Lei
Código de Trânsito Brasileiro:
Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo:
Decreto Passeio Livre:
Plano Emergencial de Calçadas:

Autores:
Leticia Leda Sabino – Secretária Executiva da CT de Mobilidade a Pé e Acessibilidade e SampaPé!
Meli Malatesta – Presidenta da CT de Mobilidade a Pé e Acessibilidade e Pé de Igualdade
Ramiro Levy – Cofundador do Cidade Ativa
Silvia Stuchi Cruz - Secretária Executiva da CT de Mobilidade a Pé e Acessibilidade e Corrida Amiga.



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Produção automotiva equivale a 23% do PIB industrial do país

18/11/2015 08:27
Valor Econômico

Da Romi-Isetta, primeiro carro fabricado no Brasil, aos veículos de luxo que começam a sair das fábricas recém instaladas com os estímulos do projeto Inovar-Auto, a indústria automobilística nacional evoluiu até atingir uma posição de liderança no cenário mundial e uma participação de destaque na economia brasileira.
O país é o sétimo produtor mundial de automóveis. Das fábricas brasileiras já saíram, desde 1957, mais de 73 milhões de unidades, se contados os 1,73 milhão de carros produzidos de janeiro a agosto deste ano. A indústria emprega direta e indiretamente mais de 1,5 milhão de pessoas. Sozinha, representa 5% do Produto Interno Bruto nacional, mas equivale a 23% do PIB industrial. Apesar do recuo de 24,3% nas vendas de veículos automotores de janeiro a outubro deste ano na comparação com os dez primeiros meses de 2014, as exportações cresceram 16,9% no mesmo período e ajudaram no saldo positivo de US$ 12,2 bilhões registrados até outubro na balança comercial.
O automóvel é uma paixão brasileira desde que o barão do café Henrique Dumont, pai de Santos Dumont, desfilou com um Peugeot importado em 1893. Dez anos depois, São Paulo tinha seis carros. A frota paulistana cresceria quase catorze vezes chegando a 83 veículos poucos anos depois. Em menos de vinte anos a indústria saiu dos galpões alugados para receptação e revenda de veículos montados para a implantação da primeira linha de montagem, instalada em 1919, para a produção do Modelo T da Ford. As partes do veículo vinham acompanhadas de um manual de montagem. Era o começo de uma história de quase um século. A General Motors, em 1925, e a Fiat, em 1928, foram as primeiras grandes fabricantes a montar carros no Brasil. A produção anual de veículos depois que a indústria se consolidou passou de 30.542 automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, em 1957, para 3,1 milhões de unidades, no ano passado.
Hoje, o setor reúne 31 montadoras que fabricam seus modelos em 64 unidades industriais instaladas em 52 municípios de dez Estados. Outros 500 fabricantes de autopeças e 5.386 revendedoras completam a cadeia produtiva. A capacidade instalada permite a produção de 4,5 milhões de veículos e mais de 100 mil máquinas agrícolas e rodoviárias por ano. Sozinha, a indústria gerou 178,5 bilhões em tributos em 2013. A frota cresceu mais de 70% na última década.
Circulam por ruas e estradas do país mais de 40 milhões veículos - o que pode ser muito para as avenidas de trânsito congestionado da metrópoles brasileiras, mas é pouco perto dos Estados Unidos, com mais de 250 milhões veículos, ou mesmo da China, com mais de 120 milhões. Há dez anos havia um carro para cada brasileiro, agora são 5,3 veículos por habitante, contra uma taxa de 1,2 nos Estados Unidos ou 1,7 na Itália e 1,8 na Alemanha.
"Mesmo em um período difícil, como em 2014, tivemos grandes momentos, com a inauguração de novas unidades industriais e a atração de investimentos de fornecedores para novas regiões. A indústria automobilística trabalha para fazer sua parte e dar suporte ao crescimento do Brasil. Seja no sentido de estar presente com suas redes de revendas por todo o país, seja pelo fato de expandirmos nossas linhas de produção gerando empregos, renda e contribuindo para o desenvolvimento", disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan Júnior, no "Anuário da Indústria Automobilística Brasileira - 2015".
As previsões para o futuro são otimistas. A taxa de motorização dos brasileiros nas próximas duas décadas, de acordo com a Anfavea, deve passar de 5,1 habitantes por veículo, registrada em 2013, para 2,4. Em 2034, o país terá 95,2 milhões de veículos para transportar uma população projetada pelo IBGE em 226 milhões de habitantes. Um crescimento médio de 3% ao ano do PIB Brasileiro, elevaria o PIB per capita de US$ 11,2 mil, em 2013, para US$ 17,9 mil, em 2034, e promoveria o licenciamento de 7,4 milhões de veículos por ano.


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Protesto em São Paulo pela Paz no Trânsito

Nesta quinta-feira (26) as ruas ao redor do prédio que abriga o Instituto Tomie Ohtake, na região de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, amanheceram com dezenas de corpos pintados no asfalto. Os desenhos estão acompanhados do número 555, representando os pedestres assassinados no trânsito da cidade durante o ano de 2014, a maioria deles vitimas de atropelamentos. A intervenção é um protesto contra as centenas de vidas interrompidas todos os anos pela violência do trânsito.

A intervenção ocorreu durante a noite de quarta-feira (25), quando um grupo de ativistas pela mobilidade a pé percorreu algumas ruas do entorno das avenidas Brigadeiro Faria Lima e Pedroso de Moraes, marcando o asfalto com as figuras. A região foi escolhida pois é ali, no prédio do Instituto Tomie Ohtake, que acontece o primeiro Seminário Internacional Cidades a Pé, com a presença de autoridades de trânsito e transporte de outras partes do Brasil e de outros países. Segundo os ativistas o protesto tem como objetivo provocar a reflexão sobre a brutalidade da cidade com as pessoas que andam a pé.

Não foi acidente
A indignação que move o protesto ganha ainda mais substância em uma semana na qual uma criança de 11 anos é assassinada por um motorista embriagado em Sapopemba, na Zona Leste, enquanto brincava no canteiro central da avenida Arquiteto Villanova Artigas. Apesar do teor violento de crimes como esse, muitos veículos de imprensa chamam atropelamentos de “acidentes”, ignorando a discrepância na relação de forças entre a carroceria de um veículo e o corpo de uma pessoas que anda a pé ou de bicicleta pela cidade.

O Código de Trânsito Brasileiro prevê a responsabilidade dos veículos maiores sobre a segurança dos menores. Isso significa que todas os elementos da mobilidade são responsáveis pela incolumidade do pedestre, o mais vulnerável da cadeia. Com a ação o grupo pretende chamar atenção para a responsabilidade pela segurança das pessoas, que deve ser compartilhada entre o poder público, que desenha as vias, e a população, que as utiliza. “Não admitimos nenhuma morte no trânsito, ainda mais quando centenas de pedestres são assassinados em decorrência da irresponsabilidade de motoristas e omissão do poder público. É por cada uma das 555 vidas ceifadas na cidade de São Paulo que realizamos esse ato”, argumenta o sociólogo Andrew Oliveira, participante do protesto e intérprete do Super-Ando, super-herói criado por coletivos ligados à mobilidade a pé para valorizar a identidade dos pedestres e simbolizar a luta por uma cidade mais humana.

Os corpos pintados no asfalto chocam e chamam a atenção do poder público por melhorias nas condições da mobilidade a pé e também alerta os próprios caminhantes sobre a sua situação de vulnerabilidade. O que não significa, no entanto, estimular as pessoas a se recolher ainda mais, explica Andrew: “O grupo acredita que andar a pé já é, por si só, um ato de heroísmo por desafiar a lógica de uma cidade que privilegia o fluxo de automóveis em detrimento da segurança das pessoas”.
 Mobilize

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

BRASIL DEBATE DESAFIOS E MEDIDAS PARA REDUZIR MORTES NO TRÂNSITO


Participação de toda a sociedade, investimentos em tecnologia e educação foram apontados como caminho

A união entre governos, setor privado e sociedade civil foi apontada como essencial para que a meta de redução de mortalidade e de acidentes nas estradas seja atingida em 2020. Esta foi uma das conclusões do debate que reuniu o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, o diretor executivo do Banco Mundial, Bertrand Badre, o representante das Nações Unidas para a segurança no trânsito, Jean Todt e autoridades de países de quatro continentes na 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito
–Tempo de Resultado


Jean Todt foi enfático ao afirmar que as ações realizadas nos últimos cinco anos ainda não atingiram níveis satisfatórios, à medida que o número de acidentes e mortes continuam a crescer em boa parte do globo.O representante da ONU destacou que é preciso ter mais empenho político para diminuir a violência nas
estradas e cobrou destinação de recursos à causa. “Temos que nos comprometer política e financeiramente e concentrar nossos esforços para que consigamos ter sucesso em nosso propósito.
Precisamos padronizar os veículos e as sinalizações nas vias e implantar sistemas de monitoramento mais
transparente”, exemplificou.

No Brasil, houve avanços, como a redução de 6% de mortes no trânsito. No entanto, Kassab reconheceu
que a velocidade de implantação de políticas públicas ainda está aquém do desejado. “Apesar dos avanços,
ainda não temos a consciência tranqüila. Eles não têm acontecido na velocidade desejada”.
O diretor do Banco Mundial, Bertrand Badre, frisou a importância de mobilizar governos locais para ampliar
o alcance das políticas. “Precisamos de uma estratégia em que todos os atores trabalhem em parceria. Não
é apenas um problema federal”, destacou.

No debate, a ministra de Infraestrutura da Suécia, Anna Johansson, destacou que a população tem
apostado cada vez mais na bicicleta como meio de transporte e por isso tem buscado soluções para
garantir a segurança destes ciclistas nas ruas de seu país.

No Peru, a taxa de mortalidade no trânsito caiu em 20%a legislação ficou mais rígida, e houve busca de
parcerias com os governos regionais. O vice ministro de Transporte da Arábia Saudita, Hathlool Hussein,
informou que no país tem 14 mil quilômetros de estradas monitoradas, e que tem sido feito investimentos
em projetos educativos para mudar o comportamento dos condutores.

Já o administrador Mark Rosekind, da Administração Nacional para a Segurança do Trânsito nas Estradas,
dos Estados Unidos da América, relatou que 94% dos acidentes estão relacionados a erros humanos e que,
por isso, o país está investindo em duas frentes: educação dos condutores e pesquisas para criar
tecnologias mais seguras, citando como exemplo a possibilidade de criação um sistema que identifique a
alcoolemia do condutor e impeça a condução do carro.

Clipping do Pedrosa 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A inércia do poder público, por Nazareno Stanislau Affonso




O Brasil apresentou um resultado sofrível quanto ao combate a violência no trânsito devido a inúmeros fatores. Mas destaco aqui os principais. A fuga de recursos alocados legalmente – ­estimado de 2011 a 20120 em cerca de R$ 60 bilhões em multas e taxas dos órgãos de trânsito e aplicados em outras finalidades. A ação do judiciário é complacente com os delinqüentes do trânsito. Os veículos sem freio ABS, carroceria preparada para menor impacto com pedestre e principalmente sem bloqueador nos limites da velocidade máxima exigidas no país.

A fiscalização também é falha. São poucos os controles eletrônicos de velocidade frente a quantidade de rodovias e vias de alta velocidade; utilização de velocidades altas no meio urbano com exceção recente de São Paulo. Péssima formação de condutores de motos, sem uso de simulador. Esse conjunto de proposições e outras estão contidas na proposta de Plano Nacional de Redução de Acidentes para a Década 2011 - ­2020, elaborado pelo Comitê Nacional de Mobilização pela Saúde, Segurança e Paz no Trânsito.

Esse Plano apresenta objetivos, ações com metas, tudo organizado segundo seis pilares estratégicos: gestão, fiscalização, educação, saúde, segurança viária e segurança veicular. Caso o governo brasileiro tivesse assumido esse plano, o quadro de mortos e sequelados no Brasil seria outro, favorável à Paz no Transito.

* Nazareno Stanislau Affonso é urbanista, coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade e membro do Comitê Nacional de Mobilização pela Saúde, Segurança e Paz no Trânsito.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OMS DESTACA PAPEL DOS PARLAMENTARES NO AVANÇO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO



Os parlamentares de diferentes partes do mundo podem se articular para salvar vidas no trânsito. A afirmação é da diretora geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margareth Chan, que participou do primeiro dia de debates da 2ª Conferência Global de Alto Nível Sobre Segurança no Trânsito, que aconteceu
entre os dias 18 e 19 de novembro em Brasília. O evento promove o encontro intersetorial de pessoas envolvidas em diferentes segmentos da gestão do trânsito em diferentes partes do mundo.

Os parlamentares ouviram de Margareth Chan um pedido de compromisso: “Vocês, parlamentares, têm um grande poder nas mãos. Criem e promovam leis de proteção da vida no trânsito. Vocês são parceiros fundamentais para o avanço das nossas legislações de trânsito. Construam uma rede entre vocês. Compartilhem, fortaleçam se mutuamente. Juntos, nós podemos salvar milhões de vidas”.

No painel “Parlamentares pela Segurança no Trânsito Global Construindo uma Rede De Legisladores”,onde reuniu parlamentares da Armênia, Austrália, Brasil, Espanha, Ghana, Inglaterra, Jamaica e Naníbia,houve troca de experiências sobre a ação parlamentar frente a segurança no trânsito em seus respectivos
países e discutirem como construir uma rede entre eles com vistas a ações integradas em favor da vida.Somente 7% da população mundial (28 países no mundo) está protegida por leis de trânsito adequadas,que preveem obrigatoriedade do uso de capacetes, cintos de segurança no banco traseiro.


O Brasil está aberto para aprender e para compartilhar com os parlamentares dos demais países. Somos a favor da rede parlamentar”, afirmou Hugo Leal.Os parlamentares da Naníbia manifestaram também seu interesse na criação da rede. Eles afirmaram que sua Lei nacional de segurança no trânsito não atende as suas necessidades e estão interessados no compartilhamento internacional.

Pere Macías, da Comissão de Segurança no Trânsito do Parlamento da Espanha comentou a experiência local de estreitamento entre o parlamento e os movimentos sociais, organizações não governamentais, e grupos organizados, pessoas que perderam entes queridos em acidentes, com vistas a promover uma cultura popular de apoio a legislação de trânsito. “Sabíamos que não seria fácil. Precisávamos aprovar leis e também convencer as pessoas de que estávamos trabalhando juntos”. De acordo com Pere Macías, a Espanha registra números que revelam uma média anual de 11 mortes no trânsito por ano. No Brasil, dados de 2013 registram quase o dobro da média espanhola.

Os parlamentares concordam que legislar para a segurança no trânsito também é, em muitos casos, uma ação impopular. Para qualquer parlamentar seria difícil falar em medidas de segurança que restringem a velocidade, que tragam novas obrigações para os condutores e fabricantes de veículos e mesmo para os pedestres. No entanto, sentem se chamados a se empenhar na luta por objetivos que, parecem impopulares no momento, mas que serão reconhecidos como benéficos ao longo prazo.

REDE PARLAMENTAR

A Comissão para a Segurança Rodoviária Global, uma das organizadoras do encontro, sugeriu que a rede de parlamentares construa um fórum para legisladores responsáveis pela segurança no trânsito nos parlamentos nacionais (que inclua todos os grupos partidários), regionais, municipais, e as autoridades locais para a troca de experiências e de boas práticas em prevenção de lesões de tráfego.

O inglês Jim Fitzpatrick, da Comissão para a Segurança Rodoviária Global, que é vice presidente do Conselho Parlamentar Multipartidário para a Segurança dos Transportes e membro da Câmara dos Comuns do Reino Unido, sugere como primeiro passo para a rede “estabelecer um Painel de Peritos Parlamentares para preparar relatórios sobre Prioridades Legislativas Globais para 2020 usando o Relatório de Status da OMS de 2015 e do Plano Global para a Década de Ação como os seus pontos de referência. O Painel poderia apresentar seu relatório em 2016 e servir como um catalisador para a criação de uma rede de segurança rodoviária multipartidária global”.

A proposta de Jim foi acolhida pelos parlamentares presentes e os primeiros passos serão efetivados sob o comando da OMS e a Comissão para a Segurança Rodoviária Global.

METAS GLOBAIS

Na mesma linha de troca de experiências, no fim da tarde, aconteceu o painel “Estabelecendo Indicadores e Metas Nacionais e Globais para a Segurança no Trânsito”, que debateu a possibilidade de uma constituição global de indicadores para o balizamento de ações sincronizadas em segurança no trânsito em todo o mundo. O painel foi presidido pelo ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardoso, e pelo diretor geral assistente da área de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental, da OMS, Oleg Chestnov. Participaram do painel ministros e diretores da Armênia, Austrália, África do Sul,Costa do Marfim, Espanha, França e o Secretário Geral do Fórum Internacional de Transporte, Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico, José Viegas.

Os participantes compartilharam as ações desenvolvidas em seus países na constituição de indicadores de registro, de padronização de informações e de avaliação dos acidentes de trânsito e as respectivas políticas públicas de segurança viária implementadas. Percebeu se que os países tomaram como referência o Plano Global para a Década de Ação, no entanto cada nação agiu de um modo diferente.

Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, é preciso primeiramente entender claramente os problemas existentes para em seguida traçar ações. “Temos que buscar uma uniformidade de compreensão do problema para desenvolvermos ações globais sincronizadas em defesa da vida no trânsito”, afirmou o ministro brasileiro.

O Secretário Geral do Fórum Internacional de Transporte, José Viegas, sugeriu como caminho para uma sincronização de indicadores e de ações, que todos visitassem o site do Fórum Internacional de Transporte e aceitassem o desafio de estudar todas as experiências internacionais nele registradas. “Há que se estabelecer indicadores e não se pode ter vergonha dos dados que você vai colher. Eles serão a base para os seus métodos de ataque aos problemas concretos”, disse

Clipping do Pedrosa

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Aprendizagem e treinamento reduzem acidentes


Entender o funcionamento do veículo, as forças físicas atuantes, a educação preventiva e defensiva, as situações de risco, as condições meteorológicas e adversidades, a atividade diurna e noturna, a via urbana e a estrada são algumas das necessidades básicas para a concessão da Carteira Nacional de Habilitação. Não se pode esquecer que, como toda atividade, é necessária educação continuada, correção dos vícios adquiridos, atualização com relação à legislação, sinalização e outros. Situações de risco precisam ser vivenciadas e colocadas na prática tanto no treinamento inicial como na educação continuada. Veja que até a legislação, desconhecendo as leis da física, permite situações extremamente perigosas e parece não preocupar-se com condições de trabalho, de transporte de usuários e até com a concessão da própria Carteira Nacional de Habilitação. Exemplo típico é a posição de trabalho de cobradores de ônibus, que ficam sentados no sentido transverso à direção do veículo, o que é totalmente contraindicado do ponto de vista ergonômico. Além da posição do cobrador, também a de bancos ou poltronas laterais para passageiros, que alguns veículos que possuem. O motivo da contraindicação baseia-se na falta de controle do centro de gravidade de quem viaja sentado nesses bancos sofrendo as ações da aceleração e desaceleração, obrigando-o a fazer durante todo o percurso movimentos pendulares à coluna lombar e movimentos ativos de membros superiores e inferiores, buscando o equilíbrio necessário para manter-se em posição. Também, pelo fato de ter um campo visual restrito, com pouca visão de profundidade, com imagens passando rapidamente na janela contra lateral, o que, somado às condições já descritas, induzem mais rapidamente o trabalhador ou usuário a um estado hipnótico, com torpor e sonolência. As imagens passando em seu campo visual é como se tivesse um pêndulo a sua frente levando-o a um estado hipnótico. Banco colocado no sentido da direção do veículo trás transtorno à saúde Somando-se os movimentos repetidos de procura ao centro de equilíbrio e a vibração de corpo inteiro, temos como entender que tudo isso leve ao esgotamento muscular e, que dependendo do tempo de exposição, a fadiga será sintoma predominante. Não só as alterações ergonômicas do deslocamento nesta posição preocupam, mas também a total falta de proteção em termos de segurança. Uma frenagem brusca ou mesmo uma colisão, produzirá traumatismo de arcos costais, de membros superiores e inferiores, além de outras consequências imprevisíveis. Nessas condições são comuns sintoma como: náuseas, tonteiras, vômitos, vertigem, fadiga visual, visão borrada, dor muscular e dor lombar. Decretos, leis e resoluções também são responsáveis por acidentes de trânsito O transporte de pessoas de pé, tanto na via urbana como na estrada, é outra permissão inadequada. A aceleração ou desaceleração brusca faz com que o indivíduo sentado ou de pé no veículo tenha seus órgãos deslocados para trás ou para frente, dependendo de uma ou de outra condição, com um peso proporcional à velocidade do veículo. Caso o veículo esteja a 100 km/h, na desaceleração brusca por frenagem ou colisão, o indivíduo no interior desse veículo será deslocado do seu assento ou da sua posição de pé a 100 km/h, isto é, na velocidade em que estava o veículo antes da frenagem ou colisão. Assim, por exemplo, se estamos a 100 km/h e o peso do motorista, cobrador ou usuário sejam de 70 kg, numa desaceleração brusca esse peso será multiplicado e o peso final estará muitas vezes acima do peso inicial (20 vezes maior). Imagine o impacto dessa massa com uma superfície sólida. Não há dúvida que teremos um politraumatizado com lesões gravíssimas. É por isso que o perito, sabendo a velocidade do veículo no momento do impacto, pode estimar os danos provocados nas vítimas. Estamos tão somente destacando pequenas coisas desconhecidas para a grande massa de motoristas, que estão atreladas à gravidade dos acidentes. Esse não é um ensinamento comum nas autoescolas, mas é necessário que todos tenham conhecimento de que uma pessoa dentro de um veículo fica susceptível ao que chamamos de “Cinemática do Trauma”. Se esses conhecimentos fossem passados a quem busca a habilitação para dirigir, ou mesmo numa educação continuada, acredito que a ciência física daria subsídios importantes para maior segurança na direção veicular. Ninguém imagina porque as colisões causam tantas lesões, mas com o conhecimento da cinemática do trauma tudo é elucidado. Observe no quadro a baixo quanto passa a pesar cada órgão humano numa desaceleração por frenagem brusca ou colisão. Órgão Peso em repouso Peso no momento da desaceleração brusca a 100 km/h Fígado 1, 700 Kg 47 Kg Coração 300 g 8 Kg Rins 300 g 8 kg Cérebro 1,500 Kg 42 kg Baço 150 g 4 Kg Não é necessário delongar para entender que o aumento considerável do peso dos órgãos internos pode provocar rupturas com hemorragias internas, arrancamentos, deslocamentos, etc., com exagerado aumento da gravidade do quadro, mesmo sem lesão externa ao corpo. Precisamos mais cautela, conhecer profundamente todas as situações de risco da máquina sobre rodas. Se dentro de uma fábrica, com máquinas fixas, a legislação e as normas regulamentadoras do trabalho determinam que se zele pela segurança do operador, seja fornecido equipamento de segurança, haja treinamento frequente e ainda se agregue à máquina sensores para desligá-la em situação de risco, por que não darmos a mesma atenção ao operador de máquina sobre rodas? Esta é a mais perigosa, pois transporta e circula entre pessoas. Espera-se sempre maior treinamento para as situações de risco, em atividade diurna, noturna, com chuva, neblina, e outras condições anormais, na via urbana e na rodovia. Ter pleno conhecimento da utilização do freio comum e ABS e estar conectado permanentemente à direção preventiva e defensiva. É necessário ampliarmos conhecimentos sobre os riscos inerentes à atividade sobre rodas. O recebimento hoje da Carteira Nacional de Habilitação não significa que estamos habilitados para a atividade veicular. Este documento nos libera para o treinamento e aprendizagem individual, independente de acompanhamento e orientação, o que é absurdo. É infelizmente nessas circunstâncias que vamos enfrentar as situações de risco, com total desconhecimento. Daí surge a maior parcela das nossas estatísticas de acidentes de trânsito. De posse dessa CNH sabemos apenas fazer o veículo andar e continuamos totalmente despreparados para as situações de risco que surgirão no dia a dia. Conclusão: precisamos de mudança radical na formação de nossos condutores. Educar, conscientizar para os riscos, identificar o veículo não para atividade radical, mas sim para a mobilidade segura, respeitando as regras de trânsito, os parceiros e a cidadania. Conscientizando-se de que a máquina sobre rodas é extremamente perigosa e, além de tudo, compromete a saúde e o meio ambiente. A Carteira Nacional de Habilitação é uma concessão do estado, como tal, pode ser caçada diante de comportamento inadequado do condutor. Precisamos de treinamento e educação continuada para conhecer mais, muito mais do que é ensinado nos Cursos de Formação de Condutores.

 * Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET 09/11/2015
Perkons

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Conselho das Cidades aprova resoluções sobre apoio técnico e recursos federais para sistemas metroferroviários. E examina minuta de resolução sobre conteúdos mínimos dos planos de mobilidade.


Em setembro passado, representando suas respectivas entidades, integrantes do Secretariado do MDT participaram, como conselheiros, das atividades da 46ª Reunião do Conselho Nacional das Cidades, incluindo a reunião do Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana, vinculado ao Conselho.
O principal destaque o encontro foi a aprovação de duas resoluções com recomendações ao governo federal as quais interessam diretamente ao setor metroferroviário e aos gestores de mobilidade de diversos pontos do País, pois, uma vez acatadas, permitirão maior apoio técnico e recursos financeiros para sistemas metroferroviários em vários Estados.
Essas resoluções foram propostas na reunião Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana pelo Sub Grupo CBTU/Trensurb, instituído no âmbito do Comitê Técnico e coordenado por Emiliano Affonso, presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), entidade integrante do Secretariado do MDT.
Desde o final de 2014, o Subgrupo CBTU/Trensurb vem discutindo diferentes aspectos do papel da União diante do transporte urbano e metropolitano de passageiros sobre trilhos no País, incluindo questões como a observância da Política Nacional de Mobilidade Urbana e a aplicação da lei de descentralização dos sistemas metroferroviários federais.
Maior atuação das companhias federais. Uma das duas resoluções recentemente aprovadas recomenda ao Ministério das Cidades a elaboração de Medida Provisória ou Projeto de Lei alterando o artigo 3º § 6º da Lei nº 8.693/1993 – que dispõe sobre a descentralização dos serviços de transporte ferroviário coletivo de passageiros, urbano e suburbano, da União para os Estados e Municípios –, ampliando o escopo de atuação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (TRENSURB)
Com a alteração, as duas companhias, vinculadas à Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, poderão atuar na “articulação, implantação, desenvolvimento e fomento de sistemas metroferroviários, visando oferecer soluções de transporte sobre trilhos para os centros urbanos, em articulação com o Ministério das Cidades e com os Estados e Municípios”.
A resolução recomenda ainda que o governo federal busque revogar o artigo 104 da Lei nº 10.233/2001 (que trata da reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre no País), impedindo que as duas companhias sejam extintas se todo o sistema metroferroviário hoje administrado pelo governo federal vier a ser transferido para Estados e ou Municípios.
Recursos financeiros para sistemas. A outra resolução recomenda aos ministérios das Cidades, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Fazenda “garantam recursos e investimentos permanentes para planejamento, manutenção, operação e expansão dos sistemas de trens urbanos operados pela CBTU e TRENSURB” (...) e “do sistema metroferroviário brasileiro, com a participação dos demais entes federados”.
O texto aprovado recomenda ainda ao Ministério das Cidades “o desenvolvimento de ações que permitam constituir cidades mais eficientes e humanas, sob a ótica de que o transporte coletivo de passageiros é um serviço público essencial, que deve ser tratado como insumo do processo produtivo, conferindo-lhe eficiência”.
Grupo de Trabalho do Pacto Nacional da Mobilidade Urbana. O Grupo de Trabalho do Pacto Nacional da Mobilidade Urbana não conseguiu se reunir para apresentar suas propostas ao Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana do Conselho das Cidades. Houve dificuldades da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, para viabilizar passagens para os participantes da reunião. O secretário nacional Dario Rais Lopes se comprometeu a viabilizar a reunião do Grupo de Trabalho antes da próxima reunião do Conselho Nacional das Cidades, marcada para o último dia novembro e os dois primeiros dias de dezembro de 2015.
Os Subgrupos de Paz no Trânsito e de Difusão da lei da Mobilidade também não se reuniram devido a mudanças na agenda preparatória da mais recente reunião do Conselho Nacional das Cidades; de todo modo, há a possibilidade de que as duas reuniões desses subgrupos possam acontecer até a próxima reunião do Conselho Nacional das Cidades.


Informativo MDT
Movimentando 111
setembro 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Coordenador do MDT, Nazareno Affonso, defendeu a democratização das vias públicas


Ao participar do Seminário Nacional da NTU – evento realizado de 1º a 3 de setembro de 2015, no Centro de Convenções Transamérica, em São Paulo, paralelamente à feira Transpúblico 2015 –, o coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), Nazareno Affonso, defendeu a democratização das vias públicas, com a distribuição do espaço de forma proporcional ao volume de deslocamento permitido pelos diferentes modais. Segundo disse, isso significará reduzir o espaço viário ocupado pelos automóveis de 80% para 30%, devolvendo aos pedestres, aos ciclistas e ao transporte público os 70% a que têm direito, conforme determinado pela Lei da Mobilidade Urbana. Dessa forma, será possível constituir uma rede cicloviária e de calçadas acessíveis, e retirar os ônibus dos congestionamentos produzidos pelos automóveis.
“É importante democratizarmos as vias. Para que isso aconteça, tenho defendido a proibição de estacionamento em todas as vias de circulação de transporte público – com a devida alteração o Código de Transito Brasileiro para respaldar essa medida. Também defendo que os investimentos públicos estabeleçam foco no sistema convencional de ônibus, com pavimentação de vias, abrigos nos pontos de parada, informações para os usuários, faixas exclusivas monitoradas eletronicamente e prioridade para o transporte público”, afirmou o dirigente do MDT, depois de assinalar que a política de estado adotada pelo Brasil foi a de universalização do automóvel, incluindo diversos subsídios para implantar sistema viário, adquirir os veículos e reduzir o preço da gasolina. Para ele, “não há uma solução que possibilite acabar com os congestionamentos dando fluidez para os automóveis”.
Pontos do debate. A participação do representante do MDT aconteceu no segundo dia do Seminário Nacional da NTU 2015, no painel intitulado Prioridade ao coletivo por uma mobilidade sustentável, que teve a participação de autoridades e lideranças do setor e mediação do jornalista George Vidor, que iniciou o debate indagando qual seria a contribuição do setor para a melhoria da qualidade do serviço oferecido ao passageiro.
O secretário de Transportes da capital paulista, Jilmar Tatto, também defendeu uma nova divisão do espaço viário, com redução do privilégio concedido aos automóveis, que ocupam 80% dos espaços públicos nas ruas e avenidas. De acordo com o secretário há muita resistência para que se realizem as mudanças necessárias na mobilidade urbana, e essa resistência vem da própria população, do comércio e dos usuários dos carros. “Nós fizemos as faixas porque a lei diz que temos que priorizar o transporte coletivo. Hoje, nas faixas, temos velocidade de 23 km/h, antes era 12 km/h. O usuário está ganhando até quatro horas no seu deslocamento diário. Isso significa maior qualidade de vida”, disse o secretário, acrescentando que a garantia do fluxo dos ônibus permite melhorar muito a operação.
O presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, registrou a falta investimento na infraestrutura, citando como exemplo o fato de a velocidade média comercial do ônibus urbano ter-se reduzido de 20 km/h para 16 km/h. “Ficamos anos sem fazer investimento no setor. Agora precisamos retomar isso. A classe empresarial está a postos, mas não podemos ficar na discussão de tarifa. Um serviço de maior qualidade custa mais caro e isso requer subvenção”.
Também participaram dos debates o secretário nacional de Transporte e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Dario Rais Lopes; o presidente do sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), Francisco Christovam, e o promotor de justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Carlos Alberto Valera.
Outras sessões. A solenidade de abertura do Seminário Nacional NTU 2015 teve a participação do ministro das Cidades, Gilberto Kassab; do secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Clodoaldo Pelissioni, e do secretário paulistano dos Transportes, Jilmar Tatto, além do presidente da NTU, Otávio Vieira da Cunha e outras personalidades do setor.
Em outro painel do segundo dia, a diretora do projeto Smart, da Universidade de Michigan (EUA), Susan Zielinski, falou sobre o futuro da mobilidade sustentável e as tendências mundiais. A sessão foi coordenada pelo diretor técnico da NTU, André Dantas, e teve a participação do presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e da Urbs, de Curitiba, Roberto Gregório da Silva Júnior, e do presidente da BHTrans, de Belo Horizonte, Ramon Victor Cesar.
O Seminário Nacional da NTU teve ainda a participação do jornalista e comentarista econômico da Rede Globo e CBN, Carlos Alberto Sardenberg, que, em conferência, tratou do cenário econômico nacional, desafios e as perspectivas para o país neste momento de crise econômica e política.
Os outros dias. No primeiro dia dos encontro da NTU, houve a solenidade de entrega do décimo ciclo bienal do Prêmio ANTP de Qualidade, concedido pela Associação Nacional de Transportes Públicos.
No último dia do seminário, desenvolveu-se a Oficina de Tecnologia Veicula, na qual especialistas, operadores e representantes da indústria apresentaram e discutiram os cenários e tendências relacionadas a diversos temas de interesse do setor, como alternativas energéticas e inovações tecnológicas em motores, chassis e carrocerias.

Informativo MDT
Movimentando 111
setembro 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

MDT participou da 21ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, da AEAMESP, em painel sobre a urgência do avanço das redes


A urgência do avanço das redes metroferroviárias, com a necessidade de garantir a conclusão, no prazo, dos projetos já definidos e contratados, e a busca de condições para viabilizar novos projetos nos maiores centros urbanos do País. Esse foi o tema principal da 21ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, realizada de 8 a 11 de setembro de 2015, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, paralelamente à exposição de produtos e serviços METROFERR EXPO 2015.
O encontro teve uma conferência inaugural sobre a conjuntura econômica a cargo do economista e professor Manuel Enriquez Garcia, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP); a conferência final foi proferida pelo secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Clodoaldo Pelissioni. Houve ainda a solenidade de entrega do 2º Prêmio Tecnologia e Desenvolvimento Metroferroviários, promovido pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTRILHOS), em parceria com a AEAMESP.
O programa incluiu 72 sessões de apresentação de trabalhos técnicos e 11 painéis que debateram intermodalidade, planejamento urbano e transporte, avanços do setor metroferroviário no Brasil e na América Latina, mobilidade urbana e suas relações com o uso do solo e o desenvolvimento e o papel dos governos nesse processo. Os painéis focalizaram ainda transporte de cargas e de passageiros sobre trilhos, capacitação profissional, o diálogo do setor de mobilidade urbana com o Legislativo, Judiciário e Ministério Público, e o tema central do encontro: a urgência e haver a ampliação das redes metroferroviárias. Os arquivos com as apresentações feitas em todas as sessões estão disponíveis para livre consulta no website da AEAMESP (acesse o link no final desta matéria)
Promovido pela Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), entidade fundadora e integrante do Secretariado do MDT, a Semana de Tecnologia Metroferroviária é reconhecida como o mais significativo congresso do segmento no Brasil, com trabalhos técnicos e amplo debate a respeito de políticas públicas centradas na cidade, na mobilidade e na qualidade de vida urbana. Um dos pré-lançamentos do MDT aconteceu em uma das sessões da 9ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, realizada em setembro de 2003.
A edição deste ano atraiu quase dois mil participantes e visitantes provenientes de 72 cidades de 12 estados e atuantes em mais de duzentas empresas, e também convidados da Argentina, Chile, Áustria e Portugal – um grupo constituído de engenheiros, arquitetos, técnicos, executivos, agentes públicos, jornalistas, consultores e outros profissionais especializados.
Documento. O MDT foi convidado a participar do último painel do 21ª Semana de Tecnologia Metroferroviária e esteve representado por seu coordenador nacional, Nazareno Affonso. Nesse painel, o presidente da AEAMESP e membro do Secretariado do MDT, engenheiro Emiliano Affonso, propôs a elaboração de um documento com dados que mostrem a importância do transporte público – em especial do transporte público sobre trilhos – para o desenvolvimento econômico e social do País e para a garantia da sustentabilidade ambiental nas cidades. A ideia é que o documento seja levado a governantes, parlamentares e lideranças civis de outras áreas da sociedade e embasar a defesa da continuidade de investimentos em transportes públicos sobre trilhos, que servem como estruturadores dos sistemas nas maiores metrópoles e também em grandes e médias cidades.
Também participaram da mesa Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER); Harald Peter Zwetkoff, presidente da ViaQuatro e representante da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos); Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP); José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (SINAENCO), e Luiz Antônio Cortez Ferreira, conselheiro titular do CAU/SP, representando o arquiteto e urbanista Haroldo Pinheiro, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR).
Difusão da Lei de Mobilidade. Ao se manifestar nesse último painel, Nazareno Affonso destacou a importância da implantação e integração das redes de transporte para melhorar a qualidade e a eficiência da mobilidade nos centros urbanos, e assinalou que esse aspecto é um dos principais pontos da Lei de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/12). Ele assinalou que, apesar de estar em vigor há três anos, essa lei ainda não se encontra devidamente difundida e conhecida pela população e mesmo por uma parcela dos dirigentes políticos, gestores e técnicos do setor.
O dirigente do MDT comentou que o Pacto Nacional da Mobilidade Urbana, formulado logo após as manifestações de junho de 2013 pelo Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana do Conselho Nacional das Cidades, a pedido da Presidência da República – e que foi aprovado como uma resolução do Conselho Nacional das Cidades, referendada pela 5ª Conferencia Nacional das Cidades – defende a difusão da Lei de Mobilidade Urbana e constitui uma ‘carta de navegação’ com orientações para o setor.
Nazareno também frisou que a ampla divulgação e, como consequência, o conhecimento e a aplicação dos dispositivos da Lei de Mobilidade Urbana – e em especial o conhecimento pela população dos direitos que ela consagra – passam pelo fortalecimento do Ministério das Cidades, com equipes e recursos para promover a capacitação de técnicos nas administrações municipais e estaduais.
O MDT tem se esforçado para divulgar de modo claro os termos e o alcance da Lei de Mobilidade Urbana. Um exemplo consistente disso é o livro intitulado Mobilidade, Inclusão e Direito à Cidade – Novas Conquistas, com 120 páginas, colorido, com um belo projeto gráfico, elaborado por uma equipe editorial reunida pelo próprio MDT e cooperação com o Fórum Nacional da Reforma Urbana, com retaguarda técnica do Instituto de Brasileiro de Direito Urbano (IBDU) e financiamento da Fundação Ford. Esse livro é a atualização e a ampliação de publicação produzida em 2009, intitulada Mobilidade e Inclusão Social. “A atualização e a ampliação mostrou-se necessária justamente para que pudéssemos mostrar os avanços colhidos nestes seis últimos anos. Em especial, a Lei de Mobilidade Urbana”, concluiu Nazareno.

Informativo MDT
Movimentando 111
setembro 2015